No Reino da Hipocrisia

Ana Maria Ribeiro*

No ultimo período estamos assistindo a uma fortíssima campanha de destruição de um ex-presidente da República. De repente, Sarney virou o vilão da política brasileira. O ataque é tanto que é bem provável que a população brasileira esteja sentido “pena” do homem!!
Por isso, torna-se fundamental recuperar a historia recente deste país, e é inevitável voltar a 1984 e as inúmeras lutas e manifestações que participamos em defesa das Diretas Já. Lutávamos por eleições diretas em nosso país, lutávamos pela redemocratização do Brasil. Mas, a elite brasileira, as oligarquias, com o apoio dos partidos reformistas (PCdoB e PCB), achavam que a transição tinha que ser lenta e gradual. O medo da volta da ditadura era enorme e, portanto a saída pelo Colégio Eleitoral – votação entre deputados e senadores - para escolha do presidente e vice, foi a opção segura para eles.
Um grande acordo dos liberais levou Tancredo Neves e José Sarney ao poder, instituindo a Nova República. O destino levou o representante da Família Neves (avó do Aécio –Minas Gerais), que faleceu sem tomar posse de fato, e deixou à Família Sarney (pai de Roseane – Maranhão) a posse da Presidência da República. Este grande acordo contou com o apoio da Família Magalhães (família de numerosos políticos e empresários – Bahia), da Família Maia (Rio Grande do Norte), da Família Marinho (sistema Globo), da Família Sendas (supermercados), e de tantas outras oligarquias/famílias existentes no poder político e econômico de nosso país. Já há muitos e muitos anos que o sistema patriarcal da política, da hereditariedade – quase feudal – está presente na política brasileira e foi amplamente apoiada por este mesmo sistema de mídia que hoje o esquarteja publicamente. Esta mesma mídia que durante todos estas décadas induziu a população brasileira a aceitar o poder destas famílias, mais do que isso, estas famílias em alguns estados são as proprietárias destas mídias e as utilizam para a disputa de poder entre famílias locais.
A hipocrisia da mídia, em desqualificar os políticos por questões que mistura Estado e Família, está em ser, ela mesma, uma propagadora de privilégios para os familiares em detrimento de instrumentos públicos e transparentes para o acesso ao poder. Não estamos tratando de mérito acadêmico, mas de poder, poder político, poder de exposição publica. Quando toda uma população vê que o filho/filha do principal ator/atriz, que a esposa do diretor da novela, consegue papel principal numa novela em detrimento dos simples mortais que estão fazendo curso de ator, a mídia (concessão publica) está fortalecendo a política familiar. A política dos realitys shows, os indivíduos têm a chance de ficarem “famosos” por um minuto e a mídia tenta passar a falsa impressão de democratização do acesso a exposição. Mas sabemos perfeitamente o quanto é elitista e, tão protecionista quanto a política das oligarquias brasileiras tão defendida e apoiada por esta mesma mídia ao longo de todas estas décadas.
Os que conhecem as entranhas das grandes corporações da mídia sabem muito bem as Famílias que têm poder. Os que conhecem as entranhas das grandes oligarquias, principalmente as nordestinas, sabem muito bem as Famílias que têm poder. A receita neoliberal para reduzir este poder familiar nos foi apresentado na década de 90 com a globalização da economia e da política, abrindo os mercados, saindo o Ltda para o S/A (Limitada para Sociedade Anônima) assim como, a redução do papel do Estado, numa grande tentativa de reduzir, pelo menos na economia, a estrutura familiar.
Para entender o atual cenário da hipocrisia de nossa mídia também é necessário olhar para o futuro. Qualquer individuo, com a mínima capacidade de analise política, sabe ler nas entrelinhas deste espetáculo de “defesa da ética publica” um claro ataque a todos e todas que, ao deterem poder político, possam estar fortalecendo a vitoria de Dilma Roussef à Presidência da República em 2010. Por isto a situação se torna mais complexa e, como uma boa partida de xadrez, é fundamental saber quais as peças a mexer no tabuleiro. Sem duvida nenhuma, o que deveria estar na ordem do dia era a Reforma Política.
A democracia participativa é um questionamento da democracia liberal elitista, organizada unicamente por meio da democracia representativa e, no fundamental, via profissionalização dos partidos em redes de interesses privatizadas e fora do controle da cidadania ativa. O centro da reforma política pela qual lutamos é exatamente o de vincular um novo sistema de regulação dos partidos e das eleições, por meio do financiamento público exclusivo e da fidelidade partidária, a legitimação de formas avançadas de democracia participativa e deliberativa, de modo a criar uma nova dinâmica virtuosa de participação popular na política
O setor público fortalecido seria a mediação entre a democracia participativa e um novo paradigma de desenvolvimento. Democracia participativa é a formação de um espaço público deliberativo que combina democracia parlamentar, democracia semidireta (referendos, plebiscitos) e espaços, em graus diversos de institucionalização, de participação direta dos cidadãos e cidadãs. Trata-se de criar um sistema nacional de democracia participativa, que envolve uma crescente democratização do poder político, e se relaciona diretamente com a campanha por uma reforma política.
Mas esta reforma política não interessa à mídia e à seus interesses, mas nos interessa, e muito....



*Técnica em Assuntos Educacionais/UFRJ

Humor


Autor: Rucke

A UNE no rumo certo


Tiago Ventura e Joanna Paroli*

Nos dias 15 a 19 de julho, jovens de todos os estados do País se reuniram para realizar o 51º Congresso da União Nacional dos Estudantes. Contando com a participação de mais de 10 mil estudantes, com delegados eleitos em 92 por cento das universidades brasileiras, o encontro entrou para história como o mais representativo da entidade, reforçando a história de lutas e legitimidade da UNE no seio dos estudantes e do movimento social brasileiro.

O 51º Congresso da UNE teve como marco comemorativo os 30 anos do Congresso da UNE de Salvador, realizado em meio à ditadura militar na perspectiva de refundar a entidade, até então fechada e perseguida pelo governo militar, colocando-a ativamente na luta pela redemocratização do País. Dessa forma, um dos pontos altos do 51º CONUNE se deu em torno do direito à memória dos estudantes perseguidos e mortos durante a ditadura, como o presidente da UNE “desaparecido” Honestino Guimarães, e dos militantes envolvidos nos processos de contestação dos anos de chumbo, como a guerrilha do Araguaia.

Outros momentos importantes fizeram parte desse Congresso. A realização do ato público em defesa da Petrobras, que se desdobrava na campanha contrária à CPI instaurada pela direita privatista contra a empresa, pelo fim dos leilões de petróleo e pela criação de uma empresa estatal para exploração da camada pré-sal. O ato reforçava a luta histórica da UNE por uma nova concepção de Estado, na qual bens estratégicos como o petróleo devem ser encarados e explorados a partir do seu caráter público, tendo como finalidade o combate às desigualdades sociais, em contrapartida ao desejo da direita, que gostaria de ver a Petrobras privatizada nas mãos do capital financeiro mundial. A UNE continua na vanguarda dos movimentos sociais quando colocou, na última gestão, a Campanha pela Legalização do Aborto como pauta prioritária e a construiu nas universidades de todo o país. Nesse Congresso, dezenas de estudantes uniram-se ao Ato contra a CPI do Aborto, instaurada na Câmara Federal, reafirmando o compromisso da UNE com a luta feminista e por uma educação libertária e livre de todas as opressões.

Por fim, o 51º CONUNE reafirmou, ao longo de todas as suas atividades, principalmente nas resoluções aprovadas na plenária final, a opção acertada de diálogo com a sociedade brasileira que a UNE trilhou no último período, reconhecendo os avanços e as contradições do Governo Lula, e dos governos populares da América Latina, entendendo que somente por meio da mobilização e pressão dos movimentos sociais é possível aprofundar as mudanças e construir alternativas ao mercado e ao sistema capitalista consolidado na sociedade mundial.

Foi precisamente no sentido de reforçar o diálogo e a necessária disputa de rumos que ocorreu a participação do Presidente Lula, a primeira participação de um presidente da República em um congresso estudantil na história do país. A atividade foi marcada pelo tom crítico dado pela intervenção da ex-presidente da entidade Lúcia Stumpf, exigindo assistência estudantil aos estudantes do Prouni, a ampliação e aplicação do programa somente em universidades que possuam pesquisa e extensão e a auditoria das contas das universidades que recebem a isenção, reforçando a inclusão de parcelas expressivas da população no ensino superior e construindo marcos regulatórios importantes do ensino privado.

Como era de se esperar, no decorrer do Congresso, e, principalmente, ao seu final, a grande mídia conservadora e monopolista – com destaque negativo para a Folha de São Paulo e as Organizações Globo - produziu uma série de matérias questionando as atividades construídas ao longo do evento, acusando a entidade de estar atrelada ao Governo Federal por receber apoio para realização do Congresso da Petrobras e de ter “abandonado a educação e as bandeiras históricas”, ignorando as resoluções aprovadas após cinco dias de debates. Os ataques chegaram ao cúmulo de tentar desmoralizar individualmente o estudante Augusto Chagas, recém-eleito presidente da UNE.

Trata-se de uma nítida tentativa de criminalizar e desqualificar a atuação de uma entidade que possui 72 anos de história em defesa do povo e da juventude brasileira, exemplificada na campanha do "Petróleo é nosso", na luta pelas reformas de base e contra a ditadura militar, nas lutas pelas "Diretas Já" e pelo "Fora Collor" e na resistência à privatização da Universidade Pública, organizada pelo Governo FHC na década de 90. Enquadra-se no contexto de perseguição organizada pelos setores conservadores, com braços infiltrados desde o Poder Judiciário até o Senado Federal, aos movimentos sociais combativos da sociedade brasileira, como os lançados recentemente contra o MST e o MAB, enxergando-os como organizações terroristas, organizadas pelo Governo a partir da liberação de verbas públicas. O enredo é sempre o mesmo, pois ao lado dos movimentos sociais se encontra a UNE, e do outro lado se encontra a aliança Demo-Tucana, que tem a imprensa monopolista como grande porta-voz.

A imprensa brasileira não quis informar à sociedade que o apoio da Petrobras se deu também no 50º Congresso da UNE, realizado em 2007. Neste encontro, a entidade levou, em parceria com a Coordenação dos Movimentos Sociais, mais de 8 mil estudantes às ruas exigindo o "Fora Meirelles", demarcando a sua posição de discordância com a política econômica do Governo Federal e a sua autonomia política, que é constantemente reafirmada na política de boicote ao ENADE, nas críticas à política de comunicação e nas exigências de se avançar cada vez mais nos investimentos e democratização da Universidade brasileira, derrubando, por exemplo, os vetos dados pelo Governo FHC ao Plano Nacional de Educação e a manutenção da Desvinculação da Receita da União na área da educação.

As críticas e a perseguição por parte da imprensa são resultados sobretudo da política acertada da entidade e das resoluções aprovadas no Congresso. Ocorrem porque a imprensa das elites brasileiras é contra a inclusão do setor privado no Sistema Nacional de Educação e a ampliação de vagas nas Universidades Públicas, em especial para os negros e negras filhos da classe trabalhadora; é contra a luta pela autonomia das mulheres e obtêm lucro com a mercantilização de seus corpos e suas vidas; é contra a realização da Conferência Nacional de Comunicação e a construção de um sistema público de comunicação; é contra a abertura dos arquivos da ditadura militar, porque se encontra envolvida com os porões da chamada "ditabranda", conforme editorial da Folha de São Paulo; e, acima de tudo, ataca a Petrobras e a UNE por ser contrária à criação de uma Estatal para a exploração da camada pré-sal com seus lucros voltados prioritariamente para educação, saúde e desenvolvimento social.
À imprensa conservadora resta a UNE responder: se assim não fosse, estaríamos preocupados, se estivessem contentes, estaríamos no caminho errado. Vida longa aos 72 anos de luta e combatividade da União Nacional dos Estudantes.

*Tiago Ventura é Vice-Presidente da UNE e Joanna Paroli é Diretora da UNE, ambos eleitos no 51º CONUNE

Os nós das esquerdas


Flávio Aguiar

O que é um nó das esquerdas? É um ponto onde as argumentações começam a se enredar de tal modo que fica difícil detectar o conceito, ou a lógica que as informa, a não ser o pré-conceito, ou a lógica do interesse da posição. São questões difíceis, complicadas, complexas, para as quais se quer dar respostas simples, breves, e muitas vezes uni-dimensionais. O que usualmente complica mais a situação.

Primeiro exemplo: Israel. Com freqüência brande-se a resolução de 1967 da ONU, exigindo -se a manutenção daquelas fronteiras. Mais adiante, vai se encontrar a pregação do fim do estado de Israel – o que vai de encontro à resolução da mesma ONU que criou aquele estado. Quer dizer, para um argumento, a ONU vale; para o outro, não.

Segundo exemplo: a OEA. Nos últimos tempos tenho lido comentários irados de que o pedido de Hillary Clinton para que o presidente Arias da Costa Rica mediasse o conflito em Honduras visava esvaziar a competência da OEA para resolver a questão, uma vez que este organismo se inclinou pela exclusão de Honduras. Ao mesmo tempo vou acompanhando argumentos que aplaudem a decisão de Cuba de não voltar à OEA, mesmo depois desta ter suspenso a resolução que expulsou-a em 1962. De novo: de um lado da moeda, a OEA vale; do outro não. Isso é um problema. Para as argumentações e para a diplomacia cubana também, pois hoje Cuba precisa, na verdade, de um, dois, três, de muitos, de todos os fóruns internacionais possíveis.

Terceiro exemplo: o Irã. Considerar Ahmadinejad uma espécie de “Hugo Chávez do Oriente Médio” é um erro de grande monta. Em primeiro lugar, a “revolução islâmica” tem muito pouco em comum com a “revolução bolivariana”. A “revolução islâmica” abriu espaço para um regime clerical reacionário, com instituições fechadas, anti-democráticas, onde se debatem interesses de grande monta e que mantém, em relação ao povo empobrecido, uma espécie de “populismo caritativo”. Essa é a moldura em que cresce e em que navega Ahmadinejad com sua proposta dúbia, para dizer o mínimo, de programa nuclear. Às vezes parece até haver um raciocínio do seguinte tipo: “nós somos pela causa palestina; Ahmadinejad fala mal de Israel, então ele é um dos nossos”. Devagar com o andor, que o argumento é de barro.

Nos confrontos iranianos recentes, interessa mais ver os movimentos sociais por detrás do proscênio da peça. No Irã existe um movimento de classe média – com suas contradições, evidentemente – um movimento de mulheres bastante significativo, que não podem simplesmente ser reduzidos a fantoches do imperialismo. Embora seja claro que há interesses imperialistas norte-americanos e britânicos na região, e que para estes a “república islâmica”, que eles mesmo ajudaram a criar favorecendo o esmagamento das outras oposições ao tempo do Xá Reza Phlavi, agora tornou-se incômoda, por controlar uma reserva trilionária, em qualquer moeda, em termos de reservas naturais. Mais ou menos o que aconteceu com os talebãs e a Al-Qaeda no Afeganistão.

Por fim o quarto nó chama-se Barack Obama. Naveguemos pela internete. Vamos encontrar, por parte de críticos à esquerda, os mais variados retratos do novo presidente dos Estados Unidos. Já não falo daquelas mais simplistas, de que ele é apenas um “traidor” de sua pele, de seu povo, etc., alguém pior do que Abraham Lincoln, porque este, para subir, não precisou passar por um processo de “branqueamento”: já era branco.

Falo de posições mais complexas. Às vezes as coisas parecem assim: Obama é uma fachada, uma espécie de bobo da república, quem manda é Hillary. Outras vezes: Obama e Hillary são os bobos, quem manda mesmo é a Casa Branca 2 de McCain e seus empresários de extrema-direita, que “reconheceram” o golpe em Honduras. E que Barack Obama é apenas um malabarista de palavras e promessas – mais ou menos mal ou bem intencionado.

Ressalta aí esse nosso gosto pelos julgamentos imediatos morais e pessoais em detrimento da análise dos personagens e de seus contextos, um gosto de tradição no personalismo ibérico, como bem demonstrou Sérgio Buarque no Raízes do Brasil.

A primeira grande batalha dentro e fora do “esquadrão Obama” vai se dar agora, com a proposta de reforma do sistema de saúde norte-americano, reconhecidamente um dos piores do mundo, que deixa pelo menos 46 milhões de cidadãos ao relento, e condena outra centena de milhões a condições ao mesmo tempo caras e precárias de atendimento. Essa vai ser uma batalha tão dura, ressalvadas as armas em combate, quanto a de Stalingrado. Quanto à questão de quem manda de fato ser o “esquadrão da Casa Branca 2 republicana”, o mínimo que se pode reconhecer é que desastre teria sido a eleição da “solução McCain” ao invés do “problema Obama”.

É claro que, às vezes, no calor da hora, precisamos tomar posições com os recursos que temos e as visões que discernimos, e neste mundo de neblinas tão espessas, em que se vê com clareza o que naufragou (os regimes socialistas), o que adernou (o estado do bem estar social), o que triunfou (a lógica neoliberal, agora também adernada), e não se distinguem muito bem as alternativas que estejam em ascensão, busquemos tábuas de salvação. Mas elas podem nos levar também na direção da cachoeira, se não atentarmos para de onde vêm e para onde almejam ir, em seus contextos específicos, que demandam análise, ao invés de crenças imediatas.


Flávio Aguiar é correspondente internacional da Carta Maior.

Humor


Autor: Santiago

Yeda, até o fim


Leandro Fortes

Quem estava na Bahia se lembra: nas eleições municipais de 1985, Antonio Carlos Magalhães, então todo-poderoso ministro das Comunicações do governo José Sarney, apareceu sorridente para votar no salão nobre do Clube Bahiano de Tênis, reduto da elite branca de Salvador. ACM vivia tempos de glória. Tinha virado a casaca e abandonado os militares, a quem servira como poucos na ditadura, para embarcar na canoa da Nova República de Tancredo Neves. Era uma tarde ensolarada de novembro, sol da Bahia, luz e calor. O coronel chegou sorridente, cercado de acólitos e puxa-sacos, como de costume, certo de estar lá, naquela hora, para viver mais um momento de glória. Bastou pisar nos salão do clube, no entanto, para ser escandalosamente vaiado. Ainda atordoado pelo vexame, ACM tentou usar da velha tático do nem-é-comigo para continuar sorrindo e cumprimentando providenciais correligionários apressadamente colocados em fila por assessores solícitos. Seria pouco para conter a besta-fera que sempre foi verdadeira alma do coronel.

A dois passos da urna, ACM foi abordado por um repórter com cara de menino, baixinho, calças exageradamente colocadas acima da cintura, um cabelo preto, liso e espetado, caído sobre a cabeça em forma de cuia. Chamava-se Antônio Fraga, tinha 19 anos e uma disposição dos diabos. Repórter-estagiário da TV Itapoan (à época, retransmissora do SBT), Fraga cursava comigo o primeiro ano da faculdade de jornalismo da Universidade Federal da Bahia. Era um jornalista precoce e hiperativo. Com a audácia tão típica da juventude, ele furou o séquito de bajuladores carlistas e perguntou, à queima-roupa, na cara de ACM, o que ele achava de estar sendo vaiado.

Com o rosto desfigurado de ódio, Antonio Carlos, primeiro, deu um soco no microfone que Fraga segurava com a mão direita, de maneira a atingi-lo na boca. Em seguida, chamou o jornalista de “filho da puta” e passou a ameaçá-lo de outras agressões, enquanto dois seguranças tentavam derrubá-lo desferindo chutes no calcanhar. Na aurora da redemocratização do Brasil, o garoto Fraga conseguiu mostrar para o país quem era, de fato, aquela triste e grotesca figura política que ainda iria reinar soberana nas colunas políticas da imprensa brasileira, por muitos anos, impune e cheia de prestígio.

Essa história antiga me veio à cabeça assim que vi, na internet, a máscara de rancor estampada no rosto da governadora Yeda Crusius, do Rio Grande do Sul, na semana passada, a chamar, histérica, os professores gaúchos de “torturadores de crianças”. Atrás das grades do portão da casa onde mora, casa, aliás, suspeita de ter sido adquirida com dinheiro de caixa dois de campanha, a tucana tornou-se um emblema da loucura que quando em vez acomete os bichos acuados, na iminência do extermínio, certos de que o próximo passo, de ré, será o vazio terrível de todo abismo. Diante do mundo, reproduzidos on line, os gestos alucinados de Yeda Crusius se tornaram o emblema de uma administração falida, desmoralizada e corrompida até a medula. O instantâneo da débâcle de uma administração que, ironicamente, arrogou-se de ser “um jeito novo de governar”.

Ao tentar incutir a pecha de “torturadores” em professores que assustaram seus netos com uma manifestação contra a precariedade da rede pública de ensino no estado, a governadora ultrapassou os limites da sanidade política minimamente exigida para o cargo que ocupa. Estivesse em um barco, seria alvo de um justificado motim. Ainda assim, achou-se no direito de usar a Brigada Militar contra os manifestantes. Incapaz de controlar a avalanche de denúncias que se amontoam sobre ela desde que a Polícia Federal descobriu, na Operação Rodin, a quadrilha de trambiqueiros que opera nos bastidores do Palácio do Piratini, Yeda Crusius decidiu esconder-se por trás de um discurso autista e surreal. Fala de uma gestão que não existe e enaltece a si mesmo como inspiração de governança.

Trata-se, portanto, de um caso de intervenção humanitária. Seria, portanto, a chance de o senador Pedro Simon, do PMDB, que é franciscano, esquecer-se das circunstâncias políticas que o mantêm convenientemente calado e tomar uma atitude, digamos, cristã. Se não pela decência da política gaúcha, quem sabe em nome dos netos de Yeda, pobres crianças assustadas com o barulho da turba de professores de escolas – de lata, lotadas, imundas e apertadas – nas quais eles jamais irão estudar.

No fim das contas, não há nada mais cristão do que salvar uma mulher do apedrejamento, ainda que seja ela a jogar as pedras para o ar.


PS: Não deixem de ir ao blog do Leandro Fortes para ver o vídeo do ACM agredindo o jornalista clicando aqui

Honduras: o esforço de Arias e o golpismo da mídia


Argemiro Ferreira

Ainda não é fato consumado o fracasso da mediação de Oscar Arias, presidente da Costa Rica, já que pediu mais 72 horas e sua equipe considera a mediação “bem encaminhada”. O deposto e exilado Manuel (Mel) Zelaya marcou para o dia 24 a volta a Honduras. E Roberto Micheletti, ditador instalado pelo golpe militar, rejeita enfaticamente o retorno do presidente legítimo, eleito pelo voto popular.

Figuras de uma foto amplamente divulgada na mídia, feitas de fibra de vidro, parecem saídas de um desfile de escola de samba. O regime do golpe diz que estavam num jardim da casa presidencial e representam o presidente deposto (Zelaya) ao lado de heróis da independência no século XIX. Um presidente não precisa necessariamente ter bom gosto, mas seria ridículo ver nisso "prova" de que era ditador - estapafúrdia alegação dos golpistas.

Com tais “provas” fica fácil entender porque nenhum país (nem Israel!) reconhece o regime. A diplomacia dos EUA continua ambígua (a secretária Hillary Clinton, da Índia, puxou ontem a orelha de Micheletti pelo telefone); OEA e ONU apoiam a democracia, com a volta do presidente eleito; BID e Banco Mundial suspendem programas; e União Européia congela US$ 65,5 milhões da ajuda a Honduras.

Apesar desse quadro os golpistas conseguem protelar o fim da crise. Na proposta de Árias a volta de Zelaya ao cargo do qual foi retirado à força é o ítem 1, mas os golpistas tentam ganhar tempo. Como na crise dominicana de 1965: ante a resistência popular, o chefe do golpe pediu socorro aos EUA e os fuzileiros vieram (45 mil) - tropa transformada depois em “força de paz da OEA”. A protelação impediu o presidente Juan Bosch de voltar.

O exemplo de Wessin y Wessin
Há 45 anos, claro, a moda era outra: o pretexto da “ameaça comunista” justificava golpes militares e intervenções dos EUA. Na época o Brasil dos generais retribuiu a operação Brother Sam (de apoio ao golpe de 1° de abril no ano anterior, contra o “comunista” João Goulart). Enviou as tropas brasileiras comandadas pelo general Meira Mattos, que se somaram à falsa “força de paz”.

O cinismo do governo do presidente Lyndon Johnson e dos países que o apoiaram (nosso ditador de plantão, Castello Branco, entre eles) tornou aquele episódio página infame da história continental. Do outro lado lutavam pela democracia as forças constitucionalistas lideradas pelo coronel Francisco Caamaño Deño e integradas por oficiais jovens e civis.

Com larga adesão popular, a “revolução constitucionalista” tentava restabelecer a Constituição. Bosch tinha sido o primeiro presidente eleito depois da ditadura Trujillo. O líder do golpe foi o general Elias Wessin y Wessin. Junto com outros chefes militares formados à sombra de Trujillo, tinha respaldo no Pentágono.

É oportuno lembrar Wessin y Wessin - retratado na capa da revista Time, em seguida ao golpe, como herói da luta contra o comunismo Ele morreu há apenas três meses, com 84 anos. Morte serena, na cama. Depois daquela crise o general viveu um tempo no luxo em Miami (como em geral ocorre com ditadores e golpistas) mas voltou para integrar vários governos dominicanos.

Zelaya, um novo Juan Bosch?
A intervenção americana de 1965 foi ainda uma das razões da sobrevivência política de outros filhotes da ditadura Trujillo - como Joaquín Balaguer, outra vocação autoritária, que acabaria ocupando três vezes a presidência dominicana, num total superior a 20 anos. Balaguer só morreria em 2002, com 95 anos.

O equívoco dos constitucionalistas de 1965 foi acreditar na promessa dos EUA, ainda no governo Kennedy, de apoiar reformas democráticas no continente. Como o presidente que prometera foi assassinado em 1963, o sucessor Johnson preferiu aderir aos golpistas. Hoje a situação é parecida. Em Honduras e no resto do hemisfério não se sabe até que ponto é real o compromisso dos EUA com a democracia.

Para Zelaya, a protelação reduz o tempo na presidência e favorece a pregação golpista da mídia. E há mais complicadores: a proposta de Árias anula na prática os poderes do presidente; golpistas do legislativo e judiciário serão anistiados e participarão do governo; e a mídia golpista, impune, manterá seu papel nos complôs, atacando e difamando governantes que não se submetem aos interesses dela.

Vale a pena passar os olhos nas edições online dos diários hondurenhos. Repetem todo dia que Micheletti, instalado pelo golpe, é democrata; e Zelaya, que o povo elegeu, é ditador - “violava a Constituição não uma, mas muitas vezes”, dizem os golpistas. Favorável a estes e tão irresponsável como a do Brasil, a grande mídia de Honduras chama Zelaya de “corrupto”, “golpista”, “chavista”, “comunista”, etc.

Ou um novo Saddam Hussein?
As figuras em fibra de vidro no jardim foram feitas por artista popular em troca de uns trocados. São bregas mas Zelaya é presidente, não crítico de arte. O que elas provam é o baixo a que desce a mídia partidária dos golpes. O jornal El Heraldo achou gravíssimo as "estátuas" estarem na residência presidencial, mas um leitor contestou o relato.

Disse na edição online não ser hoje e nem ter sido antes empregado do governo. E explicou que visitara há algum tempo ateliê no qual são feitas imagens como aquelas. “Soube então que eram dadas de presente a Zelaya, para um evento. O veneno de vocês nesses artigos é incrível. Não sei quem é pior, vocês ou ele”, concluiu.

Os que invadiram a casa presidencial esperaram mais de 20 dias para falar das tais figuras do jardim. El Heraldo, como costuma fazer O Globo, Folha de S.Paulo, Estadão e Veja, ouviu "especialistas". Um deles, psiquiatra, diagnosticou e definiu a “megalomania” de Zelaya: “É um exagero delirante da própria capacidade, um delírio de grandeza”.

Já um analista político viu naquilo “simbologia típica de ditadores”. Lembrou que “Saddam Hussein mandou erigir estátua gigantesca de si mesmo”. E proclamou com eloquência cívica: “Zelaya julga-se no direito de governar (…) pela eternidade”, precisa de “ajuda psiquiátrica”.

Lula envia ao Congresso projeto do Vale-Cultura


O presidente Luiz Inácio Lula da Silva envia ao Congresso Nacional nesta quinta-feira (23) o Projeto de Lei que cria o Vale-Cultura. Participam da cerimônia de assinatura da mensagem a ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, e o ministro da Cultura, Juca Ferreira. O evento será realizado às 18h, no Teatro Raul Cortez (Rua Dr. Plínio Barreto, nº 285), na Sede da Fecomercio, em São Paulo.


O Vale-Cultura será a primeira política pública governamental voltada para o consumo cultural. De acordo com a proposta, as empresas deverão disponibilizar, mensalmente, um vale de R$ 50 aos trabalhadores para que esses possam ter acesso aos bens e serviços culturais. O Governo Federal concederá renúncia fiscal de parte do valor concedido para as empresas que aderirem à iniciativa.

O projeto de lei que cria o Vale-Cultura poderá incluir 14 milhões de pessoas no mercado de consumo cultural, estima o ministro da Cultura, Juca Ferreira.

O ministro acredita que o projeto será aprovado no Congresso Nacional ainda este ano, pois tramitará em regime de urgência. A criação do benefício foi desmembrada do projeto de reforma da Lei Rouanet justamente para ganhar celeridade. “O projeto só chegará à plenitude um ou dois anos depois, mas acredito numa provação rápida, porque as centrais sindicais estão favoráveis, e as empresas que poderão manejar já estão se candidatando.”

Honduras: antes e depois do golpe


Emir Sader


O golpe militar contra o presidente Mel Zelaya em Honduras colocou um problema novo para o continente, a partir de velhos procedimentos. Apoiado na unidade das elites dominantes em torno das FFAA, do Judiciário e do Parlamento, foi dado um golpe que tirou do poder a um presidente legalmente eleito, que havia proposto ao país uma Assembléia Constituinte – que incluía o direito a reeleição do atual presidente.

A reação popular de apoio ao presidente deposto foi clara e maciça, ao mesmo tempo que os golpistas conseguiam manter – até agora, pelo menos – a unidade das elites tradicionais, com apoios de setores da população. Ao mesmo tempo, a condenação internacional ao golpe foi unânime, com algumas repercussões no plano econômico – como a suspensão da venda subsidiada de petróleo venezuelano e acordos com o BID, conforme o país foi suspenso da OEA.

Mas a condenação internacional tem se mostrado insuficiente, diante da atitude do governo golpista. Zelaya aceitou as propostas do mediador, o presidente da Costa Rica, mesmo se elas impediriam que ele retomasse a proposta de convocação da Assembléia Constituinte, demonstrando sua disposição de pacificação e deixando claro que a intransigência vem dos golpistas.

Diante do impasse, Zelaya anuncia seu retorno ao país para buscar, pela via da luta de massas – ele fala mesmo de insurreição -, o mandato que lhe foi outorgado pelo povo. Demonstra combatividade e confiança no apoio popular. Pode voltar à presidência de forma similar a que retornou Hugo Chavez.

Uma solução política permitiria que Zelaya ou um candidato diretamente vinculado a ele – fala-se de sua mulher, dado que não existe reeleição na super remendada constituição, agora rasgada pelos golpistas. Zelaya tem o direito de submeter ao povo hondurenho seu governo e as propostas de aprofundamento das reformas que apenas começou a colocar em pratica no país – o suficiente para que as elites tradicionais, responsáveis pela situação de país mais pobre do continente, junto como Haiti, reagissem com o golpe militar.

Para a América Latina, é o momento de mostrar que os tempos mudaram, que tal como a Venezuela inaugurou, os golpes militares serão derrotados pelo povo organizado. O golpe deve abrir um caminho novo em Honduras, cansadas de ser a “republica bananeira”, como foi caracterizada por um escritor norteamericano. Houve um antes e um depois do golpe na Venezuela, deve haver um antes e um depois do golpe em Honduras.

Violência não é uma característica de torcida, diz sociólogo



A violência no futebol não é uma característica nova. No Brasil, por exemplo, ela já estava presente desde quando o futebol se popularizou, por volta da década de 1910. Há relatos de que, nessa época, os melhores jogadores dos clubes adversários eram sequestrados por torcedores para que fossem impedidos de comparecer às partidas de futebol a que estavam escalados.

“Atos de agressão sempre estiveram presentes no futebol. O que acontece hoje é que, com a chamada torcida organizada, a violência ganhou outras dimensões”, afirmou o sociólgo Carlos Alberto Pimenta, professor da Universidade Federal de Utajubá e autor de vários livros sobre as torcidas organizadas.

Segundo ele, a violência não é uma característica das torcidas organizadas. “Elas não são só isso, mas a violência é constitutiva. Essa química é que permite a aglutinação em torno do jogo e que os torcedores se sintam fortes, socialmente aceitos e impondo respeito sobre o outro.”


As torcidas organizadas ganharam força a partir dos anos 1970, quando começaram a se desvincular dos clubes. Se antes elas serviam apenas para estimular o clube, surgem a partir desse momento os grupos contestadores, que passam a criticar a administração do clube. Uma das primeiras a adquirir esse caráter, segundo o professor, foi a Gaviões da Fiel, a maior torcida do Corinthians.


Antes disso, as torcidas podiam ser encaixadas em três fases. A inicial vai até os anos 1920 e que marca o torcedor, geralmente de elite, que frequentava o clube e adquiria produtos que identificavam o seu time de coração. A segunda etapa, por volta dos anos 1940, é a do torcedor que acompanha o clube nos lugares onde ele está e o futebol começa a se popularizar. A terceira marca o agrupamento dos torcedores nas chamadas uniformizadas, tais como as charangas, no Rio de Janeiro.


“Hoje, como cresceu e se profissionalizou muito, vendemos materiais para fazer bandeiras e temos matrículas e mensalidades para sustentar uma estrutura com salas, sedes e funcionários. Mudou um pouco daquela coisa muito amadora e romântica”, diz José Maria de Sá Freire, presidente do Conselho da Torcida Jovem do Flamengo, uma das organizadas que surgiram como dissidência da famosa uniformizada Charanga Rubro-Negra.


Segundo o psicanalista e professor da Universidade Nove de Julho (Uninove), Alexandre Nicolau Luccas, as torcidas permitem que uma pessoa seja reconhecida como parte de um grupo, além de proporcionar inserção social, algo que o governo, em sua opinião, não consegue fazer. “Os jovens não tem mais espaço para jogar, para brincar, se distrair e para consumir cultura. Então as torcidas oferecem isso vinculando com o clube.”


Segundo Pimenta, a violência chega ao ambiente das torcidas no momento em que a própria sociedade assume novos contornos, dimensões da violência, em torno de uma sociedade que não reconhece e não dá visibilidade às pessoas, e aparece nesses grupos que se traduzem em movimento de fortalecimento do papel da pessoa dentro do contexto social”, explicou Pimenta.



Os torcedores violentos, seriam, segundo o sociológo Maurício Murad, da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj) e da Universo, de setores minoritários dentro das organizadas.


“Alguns fanáticos, movidos pela rivalidade, acabam por cometer atos violentos, mas a grande maioria está interessada em preservar as torcidas, visto que a violência só traz malefícios para a mesma”, afirmaram representantes do Portal Torcidas Organizadas, que não quiseram se identificar, mas que confirmam fazer parte de torcidas organizadas de times brasileiros.


O tenente-coronel Almir Ribeiro, comandante do 2º Batalhão da Polícia de Choque de São Paulo, diz que os grupos violentos "são pessoas que saem do controle da própria organização das torcidas. A diretoria de cada torcida não consegue ser responsável por todas as atuações de seus agremiados. Sempre são infiltrados ali malfeitores que escapam do controle”.


Como essa violência seria específica de alguns membros das torcidas, vários setores da sociedade acreditam que a melhor maneira de combatê-los seria aumentando a responsabilidade das organizadas, principalmente quanto ao cadastramento de seus sócios e integrantes.


“Sou contra o fechamento da torcida organizada porque é uma pessoa jurídica e existe de fato e de direito. Seria uma ilusão achar que, ao extingui-la, o problema seria resolvido. Os torcedores vão continuar existindo e com um agravante: sem o controle do Estado", afirma o promotor de São Paulo Paulo Castilho.


Para ele, as torcidasorganizadas devem ser cadastradas e monitoradas por um serviço de inteligência. Num segundo passo, acrescenta Castilho, é necessário promover um serviço de inclusão social junto a essas torcidas.


A punição aos maus torcedores está prevista no novo Estatuto do Torcedor, que deverá virar lei ainda este ano. “Sem punição nenhuma, como é hoje, onde o sujeito vai para a delegacia, assina um termo e volta para casa é complicadíssimo e a violência continua se perpetuando", esclareceu o secretário de assuntos legislativos do Ministério da Justiça, Pedro Abramovay. "O que propomos é uma pena alternativa. O sujeito tem que prestar serviço à comunidade na hora do jogo do time dele. Ele pode ficar até três anos prestando serviço comunitário na hora do jogo.”.


Apesar de algumas ideias, esse problema não deverá ser solucionado tão facilmente. “A violência nos estádios só vai ser superada quando estiver superada também na sociedade. As torcidas são reflexo direto da sociedade”, disse o presidente do conselho da Torcida Jovem do Flamengo.



Agência Brasil

Deu Grêmio no Grenal do centenário


Neste domingo, se disputou o Grenal que marcava o centenário da maior disputa futebolística do Brasil. Que me perdoem os torcedores e outros estados, mas não há rivalidade maior que a do Grêmio e a do Inter no país.
Foi um bom jogo, cercado de expectativas, o Inter entrava buscando a liderança no campeonato brasileiro e vinha de um boom resultado contra o Fluminense. O Grêmio havia perdido, mas passava por bons resultados anteriores e o time claramente estava evoluindo no futebol demonstrado.
Fui ao jogo na certeza de que desta vez a história poderia ser diferente dos Grenais anteriores deste ano, em que a equipe comandada pelo trágico Celso Roth conseguiu perder todas as disputas.
Apesar disso, foi o Inter que abriu o placar num golaço do Nilmar, em um contra-ataque. Mas o Grêmio estava melhor a partida inteira e o empate era uma questão de tempo, e Souza em uma cobrança de falta precisa, empatou a partida, marcando o gol de número 500 na história do tricolor nos clássicos.
Maxi Lopez foi o autor do gol de empate, em um gol de cabeça típico de centroavante. Herrera ainda teve uma bola na trave, que poderia ter ampliado ainda mais a superioridade do tricolor na partida. Rever foi um gigante na zaga e a boa surpresa da estréia do jovem Mário Fernandes também merecem destaque.
Foi um baita jogo, digno da história por trás desse clássico que é um dos maiores do mundo e pode ser o jogo que marcará um novo impulso do Grêmio rumo a conquistas ainda maiores.

A legitimidade do protesto contra a Yeda


Desde o iluminismo francês, quando naquela oportunidade expressou as necessidades e anseios da sociedade burguesa do século XVIII, o chamado“século das luzes”. Movimento este que denunciava o Antigo Regime, abrindo caminho para diversos movimentos sociais. A partir de uma noção de função e papel do estado, direitos civis e rompimento com uma idéia de poder autocrático.
Pensadores como Rousseau e Montesquieu foram influência direta para os movimentos democratizantes na Europa e na América, que posteriormente originariam, num longo e lento processo, os modernos estados democráticos ocidentais.
Uma importante noção desenvolvida já naquele tempo é a de que quando o Estado não cumpre suas funções, a população tem o direito de se rebelar contra ele. Constituindo aí um importante elo de movimentação social para a construção democrática, ainda que com limites. Não é a toa que governos de cunho autoritários e ditatoriais sempre buscam impedir esse direito ao protesto.
No Rio Grande do Sul, a atual governadora, Yeda Crusius, pelas inúmeras políticas anti-populares e de cunho neoliberal, além de diversas denúncias de corrupção ao longo de toda a gestão tem tentado, repetidas vezes, impedir ou cercear as manifestações populares. Quando não conseguindo, trata de tentar desqualificar as mesmas, não conseguindo esconder a visão autoritária da governadora.
Diversas foram as ações da Yeda que comprovam isso, desde uma opção por uma política de enfrentamento aberto, comandado pelo “cão de guarda” Capitão Mendes, que quando esteve no comando da polícia militar tratou com violência e repressão as diferentes manifestações sociais. Com um ódio particular pelo MST, alvo de ataques constantes e arbitrários. Essa tática, obviamente, foi um desastre completo, não arrefeceu os movimentos sociais, que apenas intensificaram as suas mobilizações e ainda ampliou o desgaste político.
Nasce desta postura inicial autoritária e violenta da reação do governo Yeda, aliada as políticas desastrosas por outro, que explicam o processo de radicalização das mobilizações sociais no RS. Não surgiu por obra do “acaso”, como a governadora gosta de querer fazer transparecer, em uma tentativa frustrada de vitimização, mas tem uma origem muito conhecida e sabida.
O quadro só não é pior pela proteção constante da mídia, do grupo RBS em particular, que sempre garante uma “blindagem” para a governadora. O recente protesto dos sindicalistas liderados pelo CPERS em frente a casa da governadora teve esse mesmo tratamento que os anteriores.
Por um lado, uma ação violenta e truculenta da Polícia Militar para reprimir a manifestação e por outra uma cobertura midiática distorcida por parte da RBS, colocando a governadora como vítima. Dois problemas imprevistos ocorrem na execução da desta resposta da direita: por um lado a repressão foi excessiva, tendo jornalistas agredidos e prisões arbitrárias de manifestantes e a reação destemperada da governadora.
O Brasil inteiro noticiou o “papelão” da governadora, menos a Zero Hora, que chegou ao cumulo de comparar o Cpers ao MST numa tática que lembra um pouco a estratégia da direita na Guerra Fria., onde busca no “temor” aos “comedores de criancinhas” e na desinformação, reforçar uma visão preconceituosa e anti-democrática da esquerda ou de qualquer opinião que não seja a deles.
O direito ao protesto passa a ser questionado, como conseqüência, nessa visão conservadora. Liberdade apenas para o mercado, ainda mais se for alimentado a incentivos fiscais, arroxos salariais e flexibilização nas leis trabalhistas e ambientais. Nada disso é novidade no governo da Yeda, e tem sido uma marca de seu governo.
Nunca esconderam a falta de apreço pela democracia, o direito ao protesto não é coisa de “comunistas” como a RBS e a Yeda querem fazer crer, ele acompanha a própria noção de estado democrático republicano. Romper com essa noção apenas reforça a certeza de que esse governo não deve continuar, e que o protesto, mais que uma opção passa a ser uma necessidade.

O apartamento de Olívio Dutra


Post pescado do RS Urgente:

Um leitor do blog envia texto de Adão Oliveira, publicado no Jornal do Comércio, no dia 17 de agosto de 2005. Guarda atualidade:

Ontem (16/08/2005), vi uma foto do ex-governador e ex-ministro Olívio Dutra, tomando chimarrão, espremido na apertada sala de sua residência, na zona norte da cidade. Até aí nada de mais, não fosse o ex-bancário ter ocupado a chefia do Executivo gaúcho e o ministério das Cidades, durante mais de dois anos do governo Lula. Olívio não é mais governador e muito menos ministro, mas continua o mesmo sujeito simples de antes. O missioneiro, que mandou e desmandou em orçamentos altíssimos, não mexeu em nada que não lhe pertencesse. O cofre nunca lhe caiu nos pés. Terminadas as suas tarefas, Olívio voltava para o acanhado apartamento que um dia conseguiu comprar com os parcos salários que recebia como funcionário do Banrisul.

Olívio Dutra é, pois, um homem honesto! Nem sei porque estou escrevendo sobre isso, porque eu participo do princípio que honestidade não é virtude. Honestidade é inerente ao cidadão. Não ser honesto é um grave defeito de caráter mas, honestidade, não é virtude. Mas virtude ou não, a verdade é que Olívio Dutra é um homem intrinsecamente honesto.

Tumulto e violência da BM marcam protesto contra a Yeda








Centenas de servidores realizavam manifestação na rua Araruama, Bairro Vila Jardim, em frente a casa da governadora, casa esta objeto de fortes suspeitas a cerca da sua compra, pelo impeachment de Yeda Crusius. O Batalhão de Operações Especiais da BM interveio e houve princípio de tumulto. Há informações de que até mesmo fotógrafos e cinegrafistas de veiculos de imprensa teriam sido agredidos e afastados do local.
A presidente do Cpers Sindicato, Rejane Oliveira, o fotógrafo da entidade, a vereadora Fernanda Melchiona (PSOL) , um servidor e dois professores, ainda não identificados, foram presos esta manhã e conduzidos à 14ª DP, em Porto Alegre O comandante da BM, João Trindade Lopes, não soube explicar, em entrevista a emissoras de rádio, as razões que levaram a prisão da líder sindical. "Não sei se ela agrediu os soldados com palavras ou o que houve", afirmou.
A governadora demonstrou destempero ao exibir um cartaz para os manifestantes em que taxava os professores de "torturadores de crianças", referindo-se a seus netos que, segundo ela, estariam sendo impedidos de sairem de casa para ir à escola. Momentos depois, em entrevista a uma emissora de rádio, reforçou as acusações e responsabilizou o magistério e o Cpers Sindicato pela queda de qualidade na educação no Rio Grande do Sul
A atividade integra o dia de lutas contra a corrupção no governo, organizado pelo Fórum dos Servidores e também chamava a atenção para a precariedade das condições de ensino no Rio Grande do Sul. Tanto que foi levada ao local uma miniatura de uma escola feita de lata, simbolizando os contêineres que servem de sala de aula a centenas de crianças no estado.

A governadora demonstrou destempero ao exibir um cartaz para os manifestantes em que taxava os professores de "torturadores de crianças", referindo-se a seus netos que, segundo ela, estariam sendo impedidos de sairem de casa para ir à escola. Momentos depois, em entrevista a uma emissora de rádio, reforçou as acusações e responsabilizou o magistério e o Cpers Sindicato pela queda de qualidade na educação no Rio Grande do Sul.

A atividade integra o dia de lutas contra a corrupção no governo, organizado pelo Fórum dos Servidores e também chamava a atenção para a precariedade das condições de ensino no Rio Grande do Sul. Tanto que foi levada ao local uma miniatura de uma escola feita de lata, simbolizando os contêineres que servem de sala de aula a centenas de crianças no estado.
Texto: PT Sul (Editado)

Lula critica CPI e alfineta senadores: "São bons pizzaiolos"


Por: Thiago Domenici






O presidente Luiz Inácio Lula da Silva criticou nesta quarta-feira (15) a CPI da Petrobrás afirmando que sua preocupação momentânea é o novo marco regulatório do petróleo, com proposta a ser entregue em duas semanas.

"CPI é muito interessante para quem quer fazer carnaval, para quem quer investigar seriamente era preciso ter outro mecanismo. A mim não me preocupa, quero anunciar ao Brasil qual é esse novo marco regulatório", disse após participar da cerimônia de posse do novo presidente da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa).

Instalada na terça-feira, a CPI da Petrobras está sendo coordenada pela base governista, com presidência nas mãos do petista João Pedro (AM) e a relatoria sob responsabilidade do líder do governo Romero Jucá (PMDB-RR).
Sarney

O presidente também se pronunciou a respeito das acusações ao presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP): “se cada pessoa renunciar quando alguém faz uma denúncia sem provas e antes de ser provado, o Brasil não vai ter nem síndico mais”.

Lula defendeu a apuração dos fatos antes de qualquer acusação, inclusive às denúncias referentes a uso de dinheiro público na fundação de Sarney, no Maranhão. Disse que a apuração é fundamental para que não se crie uma “crise desnecessária”.

Ao ouvir de um jornalista sobre a CPI do Senado terminar em pizza temperada com pré-sal, respondeu: “Depende, todos eles (senadores) são bons pizzaiolos.”

A declaração irritou alguns senadores que reagiram. "A irresponsabilidade do presidente está passando de todos os limites", afirmou o senador Tasso Jereissati (PSDB-CE).

Os senadores derrotaram no plenário a indicação de um diretor da Agência Nacional de Águas (ANA), Bruno Pagnoccheschi após a declaração chegar aos senadores. O líder do governo na Casa, e relator da CPI, Romero Jucá (PMDB-RR), pediu que a sessão fosse suspensa para evitar outros problemas para o governo.

Com informações da Reuters e Agência Brasil

Vaticano muda de opinião e 'abençoa' o bruxo Harry Potter


Levou algum tempo, mas o Vaticano finalmente deu sua bênção a Harry Potter. O jornal do Vaticano publicou uma crítica favorável do filme mais recente da série, Harry Potter e o Enigma do Príncipe, depois de ter desaprovado o personagem principal no passado.

A resenha publicada diz que o novo filme "atinge o equilíbrio correto", graças a "uma divisão clara entre aqueles que trabalham pelo bem e os que fazem o mal". O Osservatore Romano disse que Enigma do Príncipe é "o melhor filme da série", apesar de faltar aos livros "uma referência ao transcendente". No ano passado, um artigo conservador publicado no jornal afirmou que Harry Potter é "um modelo errado de herói".


O próprio papa Bento 16 não é fã de Harry Potter. Em 2003, dois anos depois de tornar-se papa, o então cardeal Joseph Ratzinger escreveu em uma carta a mulheres alemãs que os livros de Harry Potter contêm "seduções sutis" capazes de corromper os jovens cristãos.

Já no início deste ano, o papa provocou ultraje na Igreja austríaca. Tudo porque quis promover um padre que tinha declarado que as histórias sobre Harry Potter cheiravam a "satanismo" e que o furacão Katrina tinha sido o castigo imposto por Deus pelos pecados cometidos em Nova Orleans.

Depois de protestos de líderes da Igreja austríaca, o papa foi obrigado a cancelar a promoção do padre. E agora Harry Potter, um bruxo, já é abençoado pela Igreja Católica.

Fonte: Reuters

Lançamento do Documentário Beyond Elections no Brasil


Pessoal, na segunda, dia 20 de julho, vai ocorrer o lançamento do filme Além das Eleições : Redefinindo Democracia nas Américas, abaixo encaminho as informações sobre o horário e o local da exibição e um breve resumo sobre a produção.
Imperdível.



CONVITE

Gostaríamos de convidar a todos e a todas para participar do "Lançamento Oficial do Documentário Beyond Elections no Brasil".

(Beyond Elections) Além das Eleições: Redefinindo Democracia nas Américas
Nesta próxima segunda-feira, dia 20 de julho, as 19:30
Sala de cinema do SindBancários (CineBancários)
Rua General Câmara 424 - Centro - Porto Alegre.

Após a sessão haverá um debate com os Diretores - Sílvia Leindecker e Michael Fox.


Breve Resumo de Beyond Elections:

(Beyond Elections) Além das Eleições: Redefinindo Democracia nas Américas é um documentário que percorre vários países, desde o Norte ao Sul das Américas, mostrando modelos de Organizações Democráticas de Base, que criam alternativas sustentáveis e autônomas, além dos muros limitados do sistema político no qual estão inseridos. As imagens captadas ilustram suas lutas e a forma democrática na qual estão organizados, a partir das necessidades sentidas e discutidas por toda a comunidade. O documentário busca unir estas experiências por todas as Américas para responder uma das perguntas mais importantes do nosso tempo: O que é Democracia? Servindo também como uma ponte, entre o Sul e o Norte, auxiliando na busca de alternativas frente a crise econômica e de valores simbólicos que enfrentamos.

As experiências documentadas mostram desde os Conselhos Comunais em Venezuela ao Orçamento Participativo no Brasil; As Assembléias Constituintes em Bolívia e Equador; Os Movimentos Sociais nos Estados Unidos e México; Fábricas recuperadas em Argentina e Movimentos Cooperativistas por todo o hemisfério. Entrevistas com os membros das comunidades, representantes eleitos, cooperativistas, acadêmicos e ativistas. Bem como entrevistas com Eduardo Galeano, Amy Goodman, Emir Sader, Marta Harnecker, Ward Churchill e Leonardo Avritzer.

O Documentário foi oficialmente lançado em Outubro de 2008 nos EUA e desde então tem sido mostrado em países como África do Sul, Canadá, Espanha, Irlanda, Guatemala, EUA ,Venezuela entre outros. Chegando agora ao sul do Brasil.

Para maiores informações, visite nossa página Web, www.beyondelections.com.

Direção e Produção: Silvia Leindecker e Michael Fox.
Estreito Meios Produções, 2008
Duração: 114 minutos
EUA/VENEZUELA/BRASIL

CONTAMOS COM SUA PRESENÇA

Gracias
Sílvia Leindecker e Michael Fox

Os sofismas da extrema-esquerda


Idelber Avelar

O PSOL, o PSTU e o PCO deveriam parar de brigar, abandonar o sofisma -- desmentido pela história brasileira recente -- de que PT e PSDB são duas faces do mesmo projeto político e agir como verdadeiros partidos leninistas. Eu sou dos que acham que o leninismo está longe de ter esgotado sua significação histórica. Mas não a vejo na teoria do partido de vanguarda nem na teoria da ditadura do proletariado. O que constitui um leninista é a análise da circunstância concreta, sempre em busca do ponto universalizante, da âncora que pode sintetizar toda a luta política. Não há leninismo sem a pergunta: o que fazer?

O que fazer, na extrema-esquerda, hoje no Brasil? O PSOL, que dos três é o único que não se reivindica leninista (embora haja leninistas por lá), deve pensar se quer mesmo fazer da moral, do udenismo de esquerda, o eixo de seu discurso. A escolha pode ter tido sua lógica em 2005, como aglutinação para a extrema-esquerda no momento de maior desgaste do governo Lula. Hoje, é um tiro no pé, além de despolitizadora e inadequada. A redução da política à moral já se anunciara na campanha de Heloísa Helena, em 2006, das mais despolitizadas que a esquerda já fez. No Brasil pós-Satiagraha, o PSOL extrapola, do louvável apoio ao Delegado Protógenes Queiroz, uma leitura da realidade que faria Trótski revirar-se no túmulo, inimigo que era ele de toda confusão entre lei e justiça ou entre moral e política. Confio que o leitor não pense que eu sugira desatenção ao problema da corrupção. Simplesmente estou afirmando que o discurso moral anti-corrupção não pode ser eixo de uma política de extrema-esquerda genuína.

No site do PSTU, a principal manchete é “Os trabalhadores não pagarão pela crise”. É difícil reconciliar a manchete com a própria interpretação que faz o PSTU do Brasil. Pois se o governo Lula é o agente neoliberal que a extrema-esquerda denuncia, a chamada correta deveria ser “Trabalhadores pagarão pela crise”. A manchete incorre numa contradição performativa, uma comum confusão entre o ser e o dever ser que frequentemente acomete a extrema-esquerda quando ela perde contato com a realidade. Se fosse verdadeiro para o PSTU dizer “os trabalhadores não pagarão”, ou seja, se fosse factível a hipótese de que um movimento operário liderado pela Conlutas conseguisse, dentro da “ordem neoliberal” de Lula, que os trabalhadores deixassem de pagar pela crise, ora ora, seria a própria existência dessa ordem que estaria em dúvida. Ela não está, como o próprio PSTU reconhece. Achar que dentro da ordem capitalista os trabalhadores “não vão pagar” por algo é de um reformismo inaceitável num partido que se quer revolucionário. De novo, Lênin revira no túmulo. A confusão entre o que é e o que deveria ser não é causa, claro, mas sintoma de uma extrema-esquerda que não sabe formular seu papel no presente.

Mas passemos ao momento propositivo. O que fazer? Para a esquerda, o eixo definidor, o ponto-âncora do corpo político é a putrefação da grande mídia no bojo da Satiagraha, a partir da qual se desatou a jagunçagem de Gilmar Mendes e a desmoralização do Poder Judiciário. Nesse feixe de contradições um leninista identificaria a questão universalizante, ou seja, aquela tensão do corpo social que tem o potencial de desatar o antagonismo constitutivo, central. Quem é de esquerda no Brasil hoje e não está refletindo sobre esse imbróglio não está pensando nada.

Como trabalham com o sofisma de que PT e PSDB são irmãos gêmeos, os partidos de extrema-esquerda não compreendem por que raios se forma de maneira tão furiosa a articulação Gilmar Mendes-Revista Veja e seus capangas. Perdem a oportunidade de contribuir ao esforço definidor da intervenção de esquerda hoje (e dentro do qual eles poderiam até ganhar espaço em relação ao PT): acelerar a destruição da moribunda credibilidade nos grupos de mídia; promover a guerra de guerrilha incessante contra sua imagem, moral e capacidade de esconder a fábrica de linguiça; exibir e ridicularizar cada erro, mentira, notícia distorcida; revelar e expor minuciosa e diariamente sua história de colaboração com a ditadura; acossar seus patrocinadores com o boicote; bombardear seus ombudsmen com críticas; ajudar a disseminar os blogs que os desconstroem; trabalhar diuturnamente nas campanhas de cancelamento de assinaturas; não respirar enquanto as corjas Civita, Marinho, Frias e cia. tenham sofrido uma derrota categórica.

No bojo dessa práxis, quem sabe não se acumulam forças suficientes para um movimento nacional pelo impeachment de Gilmar Mendes? Quem aposta que um movimento popular não pode encurralar um Senado?

Isso é mais leninista e revolucionário que fazer um sitezinho dizendo que as comemorações do 1° de maio serão “independentes e classistas” e que o Bolsa Família é “migalha dada pela burguesia”. Os partidos de extrema-esquerda brasileiros precisam ler com atenção seus Lênin e Trótski: a interpretação revolucionária da realidade começa com a identificação da sua contradição constitutiva.

Fonte: NovaE

Políticos ligados a Manuel Zelaya são assassinados em Honduras










Dois dirigentes do partido de esquerda Unificação Democrática (UD) foram assassinados, no último sábado (11), em Honduras. Ambos participaram, nos últimos dias, de manifestações favoráveis a Manuel Zelaya, presidente do país deposto por um golpe de Estado em 28 de junho.

Roger Iván Bados, de 54 anos, foi morto a tiros em sua residência, na colônia de Rivera Hernández, em San Pedro Sula, norte do país. A outra vítima foi Ramón García, de 40 anos, também assassinado por homens armados ao descer de um ônibus no município de Macuelizo, departamento de Santa Bárbara, oeste de Honduras.

Em entrevista , o presidente da UD, Renán Valdés, indicou que García era um dos líderes dos protestos em Santa Bárbara, e que Bados também sempre participou de manifestações pró-Zelaya.

Para ele, por este motivo, os dois homicídios configuram um "ato de represália" perpetrado pelo governo de facto do país, encabeçado pelo presidente Roberto Micheletti, nomeado pelo Congresso.

Em um comunicado, a Frente Nacional de Resistência Contra o Golpe de Estado ressaltou que as mortes ocorreram em meio à "grave crise política vivida por Honduras e sob claras condições de perseguição e repressão desencadeadas pelo governo de facto contra dirigentes populares em todo o país".

Na nota, o grupo exige que as autoridades investiguem "estes cruéis assassinatos" e levem à Justiça seus "autores materiais e intelectuais". "Convocamos o povo hondurenho a continuar participando de todas as atividades de resistência até que a ordem constitucional seja restituída e os golpistas abandonem o poder, ao qual chegaram mediante usurpação", diz o texto.


Sem toque de recolher, mas com censura

Ontem, o governo de facto hondurenho decidiu pôr fim ao toque de recolher que estava vigente no país desde o dia 28 de junho. Por outro lado, a censura aos meios de comunicação persiste, com toda a força.

O presidente da Venezuela, Hugo Chávez, denunciou que um grupo de jornalistas da cadeia multiestatal Telesur e da tv pública venezuelana VTV foram ameaçados de morte em Honduras e tiveram que abandonar o país neste domingo.

"Eles foram deportados. Essa é a democracia que nos querem impor no continente: a ditadura. Eles foram ameaçados de morte", afirmou Chávez em seu programa de rádio e tv dominical "Alô, Presidente".

Chávez qualificou de "covarde" a ação do governo. Jornalisas da Telesur e da VTV denunciaram ter sido presos e obrigados a abandonar Honduras depois de terem seus quartos de hotel invadido pela polícia.

Eles disseram ainda terem ficado presos durante algumas horas e aconselhados a abandonar o país por ordem do governo de fato de Roberto Micheletti. Segundo a polícia, a prisão foi punição por um roubo, mas os jornalistas afirmam que foi uma tentativa de amedrontá-los.

Vários oficiais da Imigração, acompanhados por policiais armados e encapuzados, percorreram vários hotéis de Tegucigalpa para checar a situação migratória de jornalistas estrangeiros.

Pressão

Enquanto isso, a pressão internacional cresceu sobre Micheletti e seu governo, com apelos pelo restabelecimento imediato da ordem constitucional e o congelamento de fundos de ajuda por parte de organismos multilaterais de crédito como o FMI.

"A suspensão da ajuda internacional é gravíssima, porque cerca de um terço do Orçamento Nacional - aproximadamente 1,5 bilhão de dólares - dependem de ajuda bilateral e multilateral", declarou o economista Nelson Avila, ex-assessor de Zelaya.

O economista Martín Barahona, ex-presidente do Colégio de Economistas de Honduras, advertiu por sua vez que o país só "tem capacidade de se sustentar de forma autônoma por mais quatro ou cinco meses"."Nas atuais condições, é impossível que um governo consiga resistir por mais de seis meses", concordou Wilfredo Girón, professor de Economia da Universidade Nacional Autônoma de Honduras.

Mediação da Costa Rica

O presidente costarriquenho Oscar Arias anunciou que retomaria a mediação entre as duas partes da crise política hondurenha dentro de uma semana. Arias disse no domingo em San José que espera convocar um novo encontro entre representantes de Zelaya e do presidente interino Roberto Micheletti dentro de aproximadamente oito dias. A primeira reunião terminou na sexta-feira sem nenhum compromisso concreto, a não ser o de um novo encontro, sem data definida.

A mediação de Arias, apoiada pelos Estados Unidos, foi criticada no domingo pelo presidente venezuelano Hugo Chávez, para quem a única solução aceitável para Honduras é a restituição de Zelaya.

Fonte: Vermelho

Os espinhos renitentes do nosso idioma



Chico Guill



Talvez um dia descobriremos que José Sarney é inocente de todas as acusações que pendem sobre ele no Senado e na mídia nacional. Mas isso não o exime da culpa de levar milhares de empresários à falência durante seu reinado na década de 1980. Os escândalos envolvendo a família do senador nos últimos anos são demasiado volumosos para que possamos suspeitar de algum complô contra ele. Tudo isso multiplica minha revolta quando lembro que a instituição que decidiu mudar minha forma de escrever tem acolhido indivíduos como José Sarney.

A última reforma ortográfica, promovida pela academia criada por Machado de Assis e outros homens valorosos, não é apenas um desastre, é uma ofensa aos cidadãos inteligentes. Era necessário inovar, sim, tirar todos os espinhos e preservar as flores da nossa língua. O que se fez foi obra de uma tesoura inapta, que passou por este frondoso roseiral mascando aqui e ali, sem nenhum critério que considerasse nossa riqueza lingüística e literária.

Tirar o acento agudo de “idéia” foi um pecado, como disse um certo entrevistado na TV. Mas há outras mudanças doloridas. A supressão de hífens e acentos obedece a uma lógica nada criteriosa. Se eram um problema para alunos distraídos ou preguiçosos, então que se suprimissem todos os hífens e acentos. Ou que se estabelecessem regras para facilitar — não para complicar ou deixar na mesma — a utilização e a leitura de palavras acentuadas ou hifenizadas. Com o modelo que a ABL apresentou, alunos e escribas em geral continuarão sofrendo a língua portuguesa, em vez de desfrutá-la.

A quem interessa uma mudança na escrita que visa melhorar as relações entre os países de língua portuguesa, além daqueles que têm um relacionamento direto com outros países de língua portuguesa? A jornalistas, exportadores, altos funcionários dos governos, isto é, no máximo 0,1 % da população desses países. Ao resto do povo brasileiro, qual o interesse real pelo idioma falado em Angola ou Moçambique? Com todo respeito a esses povos, as diferenças eram motivo de graça, de brincadeiras que, acredito, nunca fizeram um grande mal a ninguém.

A comunicação entre os países de língua portuguesa era suficientemente eficaz. Os acadêmicos talvez pensaram que estariam realmente criando uma grande unidade com esse amálgama, mas na verdade os problemas de interpretação de uma ou outra frase ocorrem em função dos estilos, da forma singular de comunicação de cada país, não das diferenças gramaticais. E estilos de linguagem não se modifica com decretos.
Não há justificativa para a mudança, exceto, talvez, o fato de que a ABL precisava mostrar serviço, e aparecer ao menos numa uma nota de rodapé para provar ao seu primeiro presidente que as solicitações de abertura estão sendo cumpridas:

“O vosso desejo”, disse Machado na inauguração da Academia Brasileira de Letras, em 1897, “é conservar, no meio da federação política, a unidade literária. Tal obra exige, não só a compreensão pública, mas ainda e principalmente a vossa constância. (...) Passai aos vossos sucessores o pensamento e a vontade iniciais, para que eles o transmitam aos seus, e a vossa obra seja contada entre as sólidas e brilhantes páginas da nossa vida brasileira”.

De minha parte, continuarei escrevendo “idéia” com acento, e “tranqüilo” com trema. Pelo menos enquanto a teimosia não afetar o meu bolso, ou até os fabricantes de teclados me tirarem definitivamente esse privilégio.



Chico Guil é escritor.

Yeda: "A culpa é do PT"


A semana começa com um movimento requentado do governo Yeda Crusius (PSDB), para usar uma palavra apreciada pelos atuais ocupantes do Palácio Piratini. Os culpados pela crise são a oposição e o ministro Tarso Genro (PT), bradam a governadora e os seus aliados. Nenhum fato novo. Josias de Souza, colunista da Folha de São Paulo, faz o seguinte comentário sobre a “contra-ofensiva” do governo tucano:

“A tática da governadora e de seus aliados assemelha-se à estratégia do malandro de rua. Do tipo que, pilhado batendo a carteira, desce rua abaixo gritando “pega ladrão”.

Encontra-se na Procuradoria-geral da República, em Brasília, uma carta redigida por Lair Ferst -empresário, lobista e ex-coletor das arcas eleitorais do tucanato gaúcho. No texto, Ferst empilha um lote de 20 acusações. Vão de caixa dois na campanha de Yeda a verbas de má origem na aquisição de uma mansão da governadora.

Tomada pelo lado político, a tática de arrastar Tarso Genro para a encrenca tem eficácia duvidosa. Vista pelo ângulo jurídico, o efeito é nulo. As acusações que pendem sobre o penteado de Yeda reclamam explicações. Ou a governadora dispõe delas ou não as tem. É simples assim”.



Texto: Marco Weissheimer

Humor


Autor: Bira

Para que e para quem as isenções fiscais no RS?


Já faz alguns anos que uma cena tem se repetido no Rio Grande do Sul: a concessão de subsídios fiscais por parte do governo do estado para algumas grandes empresas.
Ressalto que são algumas, e não todas, com critérios muito questionáveis e com efeitos ainda mais. Uma desculpa que é dada pelo governo da ocasião é de que tais isenções fiscais iriam corroborar para a “geração de empregos no RS”. Infelizmente para estes, tal situação não tem se comprovado, ao contrário, o dinheiro perdido com essas isenções tem feito falta aos cofres públicos.
Tal política deflagrada a passos largos no governo Britto, sendo interrompida no governo Olívio, foi retomada com Rigotto e mantida pela Yeda. Com todo este período de implementação desta política fiscal, os resultados deixam de ser fruto de “especulações e intrigas da oposição” e são uma realidade.
Economicamente, o RS vive a pelo menos uns quatro anos (alguns estudos apontam para um período maior) um processo de estagnação. Só isso já seria um elemento para desnudar a ineficiência desta continua política de redução do papel do estado e de crença no “deus mágico do mercado”, acentuado na atual gestão da Yeda.
Mas nem só de lágrimas vive o RS no que tange a política de transferências indiretas de recursos públicos para a iniciativa privada. Ainda que os trabalhadores nada tenham obtidos, os empresários ganharam e ganharam muito com isso. Sem ter qualquer tipo de contrapartida estipulada pelo Piratini.
Uma das maiores beneficiarias dessas isenções tem sido a Gerdau. Uma indústria “humilde”, que sem dúvida precisa do aporte financeiro do estado para manter as portas abertas.
Provando isso, a última edição da revista americana Fortune, divulgou a lista das 500 maiores empresas do mundo, onde neste ano passou a contar com a ilustre presença da nossa empresa campeã de subsídios fiscais, a Gerdau.
A Gerdau fechou a participação ocupando a 400ª posição do ranking, com receita de US$ 22,86 bilhões, segundo a Fortune.
Fica a pergunta no ar, uma empresa com essa estatura, necessitaria estar ganhando todo este aporte de recursos do estado? Não teria outras áreas, com resultados muito melhores para a economia gaúcha, que poderiam estar recebendo apoio estatal? O único resultado inquestionável dessas isenções é que sem dúvida elas ajudaram a tornar a Gerdau ainda mais rica e poderosa, e não ao Rio Grande do Sul.

O último a sair apague a luz


A governadora Yeda Crusius não pode se queixar de tédio. Depois de um dia agitado ontem, quando o Fórum dos Servidores Públicos protocolou na Assembleia pedido para o seu impeachment, a viúva de Marcelo Cavalcante admitiu que vai ingressar na justiça porque entende que sua honra foi ofendida e a Polícia Federal indiciou o secretário de Irrigação, Rogério Porto, hoje o movimento continuou: a PF revelou que o secretário estadual de Habitação, Saneamento e Desenvolvimento, Marco Alba, também está sendo investigado no âmbito da Operação Solidária e o secretário da Transparência, Carlos Otaviano Brenner de Moraes, oficializou sua renúncia.

Otaviano é o segundo titular da pasta a pedir demissão por não encontrar eco no governo à sua atuação. A primeira, Mercedes Rodrigues, saiu dizendo que a secretaria da transparência tinha apenas uma função decorativa. Otaviano comprovou isto na prática: ele pediu o afastamento da assessora da governadora, Walna Meneses, suspeita de ligação com um esquema montado para fraudar licitações públicas, e a governadora não acatou. Ele sugeriu a abertura de uma sindicância para apurar as denúncias e Yeda também o desrespeitou.


Os reconhecimentos a FHC


Emir Sader

Que cada um expresse aqui o reconhecimento que FHC pede.
Felizmente para a oposição, FHC não se contêm, não consegue recolher-se ao fim de carreira intelectual e política melancólicos que ele merece. E cada vez que fala, o apoio ao governo e a Lula aumentam.

Agora reaparece para reclamar que não se lhe dá os reconhecimentos que ele julga merecer. Carente de apoio popular, ele vai receber aqui os reconhecimentos que conquistou.

Em primeiro lugar, o reconhecimento das elites dominantes brasileiras por ter usado sua imagem para implementar o neoliberalismo no Brasil. Por ter afirmado que ia “virar a página do getulismo”. Por ter, do alto da sua suposta sapiência, dito a milhões de brasileiros que eles são “inimpregáveis”, que ele assim não governava para eles, que não tinham lugar no país que o tinha elegido e para quem ele governava.

O reconhecimento por ter dito que “A globalização é o novo Renascimento da humanidade”, embasbacado, deslumbrado com o neoliberalismo.

O reconhecimento por ter quebrado o país por três vezes, elevado a taxa de juros a 48%, assinado cartas de intenção com o FMI, que consolidaram a subordinação do Brasil ao capital financeiro internacional.

O reconhecimento dos EUA por ter feito o Brasil ser completamente subordinado às políticas de Washington, por ter preparado o caminho para a Alca, para o grande Tratado de Livre Comércio, que queria reduzir o continente a um imenso shopping Center.

O reconhecimento a FHC por ter promovido a mais prolongada recessão que o Brasil enfrentou.

O reconhecimento a FHC por ter desmontado o Estado brasileiro, tanto quanto ele pôde. Privatizou tudo o que pôde. Entregou para os grandes capitais privados a Vale do Rio Doce e outros grandes patrimônios do povo brasileiro. Por isso ele é adorado pelas elites antinacionais, por isso montaram uma fundação para ele exercer seu narcisismo, nos jardins de São Paulo, chiquérrimo, com o dinheiro que puderam ganhar das negociatas propiciadas pelo governo FHC.

FHC será sempre reconhecido pelo povo brasileiro, que tem nele a melhor expressão do anti-Brasil, de tudo o que o povo detesta, ele serve para que se tome consciência clara do que o povo não quer, do que o Brasil não deve ser.

Michael Jackson e a histeria suicida



Nunca fui um fã das músicas do Michael Jackson, mas sabia reconhecer o talento que ele tinha e inigualável capacidade de inovar e reinventar a si mesmo.
Ainda que seu auge criativo tenha se dado já a algumas décadas atrás, ele ainda ostentava uma significativa massa de admiradores e fãs ardorosos ao redor do mundo. Tanto que, desde a sua morte na semana passada, ele tem sido a manchete principal dos jornais e rendido muitas discussões.
Teve uma manchete que vi na internet, no entanto que me causou um verdadeiro espanto, o fato de que a morte de Michael já teria levado pelo menos 12 fãs a cometerem suicídio. Segundo a matéria:
"O presidente da maior comunidade online de Michael Jackson, a MJJcommunity.com, Gary Taylor, disse saber de pelo menos 12 casos de pessoas ao redor do mundo que se suicidaram ao saber da morte do cantor. "Essas pessoas estão passando por uma situação séria, mas Michael Jackson nunca iria querer isso. Ele ia querer que as pessoas vivessem", declarou ao site da Sky News UK.
"Eles (os fãs) não conseguem aceitar, eles se sentem em outra realidade. Eu estou arrasado com a morte dele. Em um minuto ele está aqui para os shows e no próximo ele se foi. Acho que o funeral vai ser o momento em que vai ficar bem claro que ele se foi e não vai voltar, e haverá uma depressão enorme na comunidade de fãs quando isso acontecer", acredita Taylor. A questão é tão preocupante que países como a Austrália já reforçaram suas linhas de apoio e valorização da vida."

A gente acabou até por se acostumar a ver fãs cometerem loucuras e fazerem coisas que a "razão" não recomendaria por seus ídolos, mas retirar a própria vida demonstra a forma como a falta de perspectivas e o condicionamento comportamental de uma sociedade espetaculorizada podem produzir situações de total perca de parâmetros e alienação extremada nessa sociedade de consumo.
E ainda existem aqueles que acham que isso é "normal" e inevitável...

História sonegada


Por Luis Fernando Veríssimo


A abertura ou não dos arquivos sobre a repressão à insurgência armada durante a ditadura militar se resume numa questão: se alguém tem o direito de sonegar à nação sua própria História. Os debates sobre a conveniência de se remexer esse passado viscoso e sobre as razões e as causas de cada lado são secundários. A discussão real é sobre quem são os donos da nossa História. E se, 25 anos depois do fim da ditadura, os militares têm sobre a nossa memória o mesmo poder arbitrário que tiveram durante 20 anos sobre a nossa vida cívica.

Não é só a nossa história em comum que está sendo sonegada. A história individual dos mortos pela repressão também. Aos parentes são negados não apenas seus restos, como a formal cortesia de uma biografia completa. Uma reivindicação que nada tem a ver com revanchismo, que só pede uma deferência à simples necessidade das famílias reaverem seus corpos e saberem seu fim. Impedir que isso aconteça para não melindrar noções corporativas de honra ou imunidade é uma forma de prepotência que, 25 anos depois, não tem mais desculpa.

Revelações como as que o Estadão está publicando sobre a guerrilha no Araguaia servem como um começo para o resgate da nossa memória tutelada. Não precisa mexer na Lei da Anistia. É mais importante para a nação saber a verdade do que punir os culpados. E já que se liberou a História e se busca a verdade com novo ânimo, por que não aproveitar e investigar alguns pontos cegos daqueles tempos, como a participação de setores do empresariado em coisas como o Comando de Caça aos Comunistas e a Operação Bandeirantes, agindo como corpos auxiliares da repressão urbana, não raro com entusiasmo maior do que o dos militares ou da polícia política – como costuma acontecer quando diletantes fazem o trabalho de profissionais? Algum correspondente civil ao major Curió deve ter em seus arquivos o relato da guerra naquela outra selva.

Mas sei não, há uma tradição brasileira de poupar o patriciado quando ele se desencaminha. Quando descobriram que todos os negócios com o novo governo Collor teriam que passar pela empresa do P.C. Farias, não foram poucos e não foram pequenos os empresários nacionais que aderiram ao esquema sem fazer perguntas. Nas investigações sobre a corrupção que acabou derrubando Collor, seus nomes desapareceram. E, neste caso, não foram os militares que esconderam a verdade.

*Artigo originalmente publicado em vários jornais brasileiros
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