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Robert Fisk: Algo morreu no Egito

Foto: Manu Brabo/AP

O massacre no Cairo marca um ponto de viragem trágico, do qual levará anos para o Egito se recuperar. Como poderá os muçulmanos confiar nas urnas novamente?

Por Robert Fisk

O cadinho egípcio partiu-se. A "unidade" do Egito – essa cola abrangente, patriótica e essencial que tem mantido unida a nação desde o derrube da monarquia em 1952 e do governo Nasser – derreteu-se no meio de massacres, tiroteios e da fúria provocada pela repressão contra a Irmandade Muçulmana. Uma centena de mortos – 200, 300 "mártires" – o resultado não faz diferença: para milhões de egípcios, o caminho da democracia foi desviado no meio do fogo e da brutalidade. Que muçulmano em busca de um Estado baseado na sua religião confiará mais alguma vez nas urnas?

O filme sobre Maomé e a sociedade digital em xeque


Por Carlos Castilho


O episódio do filme sobre o profeta Maomé que desatou uma onda de protestos no mundo árabe mostrou a intensidade latente de ressentimentos culturais, mas também a gravidade de uma questão tecnológica que pode afetar o planeta inteiro.
A empresa Google, controladora do site YouTube onde foi postado um trailer do polêmico filme, decidiu banir a sua exibição em vários países árabes para evitar o agravamento dos protestos.
A preocupação com a violência é mais do que justificável e compreensível, mas o fato de uma empresa com sede nos Estados Unidos ter o poder de decidir o que outros países podem ou não ter acesso é da maior relevância para todos nós.
Cena do trailer do filme Innocence of Muslins
A tão decantada autonomia e independência da internet ficou seriamente abalada, e num momento em que a rede mundial de computadores passa a influenciar a vida de cada vez mais pessoas, empresas e governos. Todo o arcabouço da nova sociedade digital foi colocado em questão.
Isto nos preocupa — e muito — porque ficou claro o poder de uma empresa em influenciar eventos noutros países. A autodeterminação nacional, uma das bases da existência das Nações Unidas, pode estar ameaçada na medida em que nosso futuro não está mais dependente de fronteiras, mas do fluxo transnacional de informações.
O jornal norte-americano The Washington Post, num artigo publicado na sexta-feira (14/9), afirmou que o episódio mostra como algumas empresas norte-americanas podem se transformar em “árbitros da liberdade de expressão no resto do mundo” , ao substituir tribunais e foros internacionais.
A Google e outras empresas com grande poder na internet têm feito uso intensivo da retórica da liberdade de expressão na rede mundial de computadores, mas o episódio do malfadado filme sobre o profeta Maomé mostrou a complexidade da questão do livre fluxo de informações no mundo digital.
O filme foi um caso grosseiro, e ainda não plenamente esclarecido, de manipulação intencional de preconceitos culturais e religiosos. Por isso, a suspensão de sua exibição não provocou protestos imediatos dos defensores da liberdade de expressão na Web, como é o caso de organizações como a Electronic Frontier Foundation, dos Estados Unidos.
Mas a brecha foi aberta e mostrou uma fissura na arquitetura jurídica do mundo digital, capaz de gerar gravíssimos problemas políticos no futuro. A questão é complexa e a discussão não será fácil, mas é inevitável, porque nossas vidas estão cada vez mais condicionadas pela internet.
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O ateísmo é um legado pelo qual vale a pena lutar



Por Slavoj Zizek



Por séculos, nos foi dito que sem religião não somos mais do que animais egoístas lutando pelo nosso quinhão, nossa única moralidade a de uma matilha de lobos; apenas a religião, dizem, pode nos elevar a um nível espiritual mais alto. Hoje, quando a religião emerge como a fonte de violência homicida ao redor do mundo, garantias de que fundamentalistas cristãos ou muçulmanos ou hinduístas estão apenas abusando e pervertendo as nobres mensagens espirituais de seus credos soam cada vez mais vazias. Que tal restaurar a dignidade do ateísmo, um dos maiores legados da Europa e talvez nossa única chance de paz?
Mais de um século atrás, em “Os Irmãos Karamazov” e outras obras, Dostoiévski alertava sobre os perigos de um niilismo moral sem deus, defendendo essencialmente que, se Deus não existe, então tudo é permitido. O filósofo francês André Glucksmann até mesmo aplicou a crítica de Dostoiévski do niilismo sem deus ao 11 de setembro, como sugere o título de seu livro, “Dostoiévski em Manhattan”.
O argumento não poderia estar mais errado: A lição do terrorismo atual é que, se Deus existe, então tudo, incluindo explodir milhares de espectadores inocentes, é permitido – pelo menos àqueles que alegam agir diretamente em nome de Deus, já que, claramente, uma ligação direta com Deus justifica a violação de quaisquer refreamentos e considerações meramente humanos. Resumindo, os fundamentalistas não se tornaram diferentes dos comunistas Stalinistas “sem deus”, para os quais tudo foi permitido, já que viam a si mesmos como instrumentos diretos de sua divindade, a Necessidade Histórica do Progresso em Direção ao Comunismo.
Fundamentalistas fazem o que veem como boas ações de forma a satisfazer o desejo de Deus e ganhar a salvação; ateus o fazem simplesmente porque é a coisa certa a fazer. Não seria essa também nossa experiência mais elementar de moralidade? Quando faço uma boa ação, não a faço visando ganhar um favor de Deus; faço porque, se não fizesse, não poderia me olhar no espelho. Uma atitude moral é por definição sua própria recompensa. David Hume argumentou isso pungentemente quando escreveu que a única maneira de demonstrar verdadeiro respeito a Deus é agir moralmente ignorando sua existência.
Dois anos atrás, Europeus debatiam se o preâmbulo da Constituição Europeia deveria mencionar o cristianismo. Como de costume, um meio termo foi arranjado, uma referência em termos gerais à “herança religiosa” da Europa. Mas onde estava o legado mais precioso da Europa, o do ateísmo? O que faz da Europa moderna única é que ela é a primeira e única civilização em que o ateísmo é uma opção plenamente legítima, e não um obstáculo a qualquer posição pública.
O ateísmo é um legado europeu pelo qual vale a pena lutar, não menos por criar um espaço público seguro para os que creem. Considere o debate que inflamou-se em Ljubljana, a capital da Eslovênia, meu país natal, conforme a controvérsia constitucional fervia: muçulmanos (em sua maioria trabalhadores imigrantes das antigas repúblicas Iugoslavas) devem ter permissão para construir uma mesquita? Enquanto os conservadores opunham-se à mesquita por razões culturais, políticas e até arquitetônicas, a revista semanal liberal Mladina foi consistentemente explícita em seu apoio à mesquita, em continuar com suas preocupações pelos direitos daqueles que vinham de outras antigas repúblicas Iugoslavas.
Não surpreendentemente, dadas as atitudes liberais, Mladina também foi uma das poucas publicações eslovenas a republicar as caricaturas de Maomé. E, reciprocamente, aqueles que demonstraram maior “compreensão” pelos violentos protestos muçulmanos causados por aqueles cartuns foram também aqueles que regularmente expressavam sua preocupação com o futuro do cristianismo na Europa.
Estas alianças estranhas confrontam os muçulmanos da Europa com uma escolha difícil: A única força política que não os reduz a cidadãos de segunda classe e os concede o espaço para expressar sua identidade religiosa são liberais ateus “sem deus”, enquanto aqueles mais próximos a suas práticas religiosas sociais, seu reflexo cristão, são seus maiores inimigos políticos.

O paradoxo é que os únicos verdadeiros aliados dos muçulmanos não são aqueles que primeiramente publicaram as caricaturas para chocar, mas aqueles que, em defesa do ideal da liberdade de expressão, republicaram-nas.
Enquanto um verdadeiro ateu não tem necessidade de apoiar sua própria posição provocando crentes com blasfêmia, ele também se recusa a reduzir o problema das caricaturas de Maomé ao respeito às crenças de outras pessoas. O respeito às crenças dos outros como o valor maior só pode significar uma de duas coisas: Ou tratamos o outro de forma condescendente, evitando magoá-lo para não arruinar suas ilusões, ou adotamos a posição relativista de vários “regimes da verdade”, desqualificando como imposição violenta qualquer posição clara em relação à verdade.
Mas que tal submeter o Islã – junto com todas as outras religiões – a uma respeitosa, mas por isso mesmo não menos implacável, análise crítica? Essa, e apenas essa, é a maneira de mostrar verdadeiro respeito aos muçulmanos: tratá-los como adultos responsáveis por suas crenças.
Tradução: Alexandre Marcati
Slavoj Zizek é diretor internacional do Instituto de Humanidades de Birbecj, é o autor, entre outros livros de "A visão em paralaxe”.

Intolerância Religiosa: FIFA proíbe futebol feminino "muçulmano"


Com a decisão, seleção feminina de futebol do Irã é barrada da Olimpíada de 2012

O sonho iraniano de ter sua seleção feminina de futebol na Olimpíada de Londres, ano que vem, foi encerrado nesta segunda-feira.

O Irã não teria cumprido uma regra que diz respeito ao uniforme das jogadoras e elas entraram em campo usando o véu islâmico, o que é proibido pela Fifa.

Na sexta-feira, a equipe iraniana foi banida da partida contra a Jordânia, em Amã, antes do início do jogo classificatório aos Jogos de Londres-2012. A rival ficou com a vitória por 3 a 0, sem jogar.

A polêmica sobre as vestimentas das atletas do Irã acontece há mais de um ano. A Fifa baniu a equipe em abril passado por conta do plano de utilizar os lenços na cabeça.

De acordo com o código de vestimenta islâmico, o país exige que todas as mulheres cubram a cabeça em público.

As regras da Fifa para a Olimpíada de Londres proíbem manifestações políticas, religiosas, comerciais ou pessoais em qualquer língua nos uniformes.

"Na realidade, estes uniformes não tem nada de religioso, nem político, nem irá prejudicar nenhum jogador. Eles aprovaram [o uniforme] e Sepp Blatter aceitou isto e nossa participação na Olimpíada", diz Farideh Shojaei, responsável pelo futebol feminino da Federação iraniana.

A Federação iraniana recorreu à Fifa, mas nesta segunda-feira teve resposta negativa da entidade.

"A decisão da Fifa [de março de 2010], que permitiu que as jogadoras fossem autorizadas a utilizar algo que cobrisse a cabeça, mas não que tapasse as orelhas e o pescoço, continua em vigor", explicou a Fifa, por e-mail, à agência de notícias Reuters.

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União Islâmica irá processar revista Veja



União Nacional de Entidades Islâmicas (UNI) lançou campanha em seu site para recolher 5 mil  procurações de fiéis para entrar com ações na Justiça contra a Revista Veja, por conta da reportagem de capa "A Rede do Terror no Brasil", publicada na edição 2211, de 6 de abril.

Por meio das procurações assinadas pelos fiéis, advogados da UNI irão processar a revista nos Juizados de Pequenas Causas. No site da campanha "Você Pode", há link do download para o preenchimento e assinatura da procuração. O site da entidade afirma que vai ser exigida retratação da publicação por "Discriminação, Calúnia, Racismo, Danos Morais, Difamação, Intolerãncia Religiosa e Preconceito". 

Na capa da edição datada de seis de abril (imagem acima), a reportagem da Veja mostra, "com base em documentos oficiais da CIA, FBI, Tesouro Americano, Interpol, Polícia Federal que extremistas islâmicos usam o país como base de operações e aqui aliciam militantes".

Na prática, a revista Veja se presta a reproduzir, em solo brasileiro, a mesma cantilena intolerante adota pela extrema-direita estadunidense e européia que busca, através da estigmatizações e uma forte conotação preconceituosa, sedimentar uma visão "islamofóbica", estranha a nossa sociedade.

Este blogueiro torce para que se faça justiça e a Veja seja obrigada a se retratar, em igual espaço, contra o festival de ataques gratuitos contra a comunidade islâmica brasileira.

Ficaremos atentos!

Com informações do Portal Imprensa.