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A Ucrânia no caminho das superpotências


Por Jeferson Miola


No conflito interno ucraniano, um pesado jogo geoestratégico está em andamento. E tem a participação de interesses e atores externos que incidem fortemente, com poder de desenhar os contornos que podem levar finalmente a uma guerra.
Apesar do noticiário internacional aparentar o papel externo exclusivo da União Européia [UE] no conflito, os EUA não só tem interesse direto nos encaminhamentos para a Ucrânia, como atua fortemente para proteger suas prioridades geoestratégicas.

Ucrânia: laços indiscretos entre EUA e neonazistas


Obcecada com vitória geopolítica na Europa Oriental, Washington envolveu-se com grupos que defendem “supremacia branca” e atacam comunistas, anarquistas e judeus.

Por Max Blumenthal


Quando os protestos na capital da Ucrânia chegaram a um desfecho, este fim-de-semana, as demonstrações de extremistas fascistas e neo-nazistas assumidos tornaram-se evidentes demais para serem ignoradas. Desde o início dos protestos, quando manifestantes lotaram a praça central para combater a polícia ucraniana e exigir a expulsão do corrupto presidente pró-russia Viktor Yanukovich, as ruas estavam cheias de pelotões de extrema-direita, prometendo defender a pureza étnica de seu país.

Slavoj Žižek - Rabinovitch no Chipre


Confira abaixo artigo inédito, traduzido por Rogério Bettoni, enviado pelo autor para a Boitempo publicar em seu Blog.

Por Slavoj Žižek


Recordemos a cena clássica dos desenhos animados em que um gato chega à beira do precipício e continua caminhando, ignorando o fato de que não há chão sob suas patas; ele só começa a cair quando olha para baixo e se vê pairando sobre o abismo. Não é assim que o povo do Chipre se sente hoje em dia? As pessoas sabem que o Chipre nunca mais será o mesmo, que logo adiante haverá uma queda catastrófica no padrão de vida, mas o impacto total dessa queda ainda não foi sentido devidamente; então, por um curto período, as pessoas se dão ao luxo de continuar vivendo normalmente, como o gato que caminha tranquilo no ar. E não podemos condená-las: esse adiamento do colapso total também é uma estratégia de sobrevivência – o verdadeiro impacto acontecerá em silêncio, quando o pânico tiver acabado. Por isso é que agora, quando a crise no Chipre desapareceu em grande medida da mídia, devemos falar e escrever sobre ela.
Há uma piada famosa, contada na última década da União Soviética, sobre Rabinovitch, um judeu que quer emigrar. O funcionário do departamento de emigração pergunta o motivo, e ele responde: “Há dois motivos. O primeiro é o medo de que os comunistas percam o poder na União Soviética, e o novo governo coloque sobre nós, judeus, toda a culpa pelos crimes comunistas – e daí haverá mais pogroms…” O funcionário interrompe, dizendo: “Mas isso é uma bobagem, nada vai mudar na União Soviética, o poder dos comunistas vai durar para sempre!” “Pois então, esse é o segundo motivo”, responde Rabinovitch tranquilamente.
É fácil imaginarmos uma conversa semelhante entre um gestor financeiro da União Europeia e um Rabinovitch cipriota – Rabinovitch reclama: “Há duas razões para estarmos em pânico. Primeiro, temos medo de que a UE simplesmente abandone o Chipre e deixe nossa economia ruir…” O gestor financeiro o interrompe: “Você pode confiar na UE: nós os controlaremos com firmeza e diremos o que devem fazer!” E Rabinovitch responde tranquilamente: “Bem, essa é a segunda razão”.
Esse impasse representa perfeitamente o cerne da triste situação do Chipre: eles não podem sobreviver prosperamente sem a Europa, mas também não o podem com a Europa – as duas opções são piores, como diria Stalin. Recordemos a piada cruel de Ser ou não ser (1942), de Ernst Lubitch: quando questionado sobre os campos de concentração na Polônia ocupada, o responsável oficial nazista, apelidado de “Campo de Concentração Erhardt”, responde: “Nós concentramos, os poloneses acampam”. O mesmo não vale para a atual crise financeira europeia? A forte Europa Setentrional, voltada para a Alemanha, é responsável pela concentração, enquanto o Sul, enfraquecido e vulnerável, acampa. Desse modo, surgem no horizonte os contornos de uma Europa dividida: a região Sul será cada vez mais reduzida a uma zona com força de trabalho mais barata, fora da rede segura do bem-estar social, um domínio próprio para a terceirização e o turismo. Em suma, a lacuna entre o mundo desenvolvido e os retardatários avançará dentro da própria Europa.
Essa lacuna se reflete nas duas principais histórias sobre o Chipre, que lembram duas histórias anteriores sobre a Grécia. Há o que podemos chamar de história alemã: o gasto livre, as dívidas e a lavagem de dinheiro não podem continuar indefinidamente etc. E há a história do Chipre: as medidas brutais da UE resultam em uma nova ocupação alemã que destitui o Chipre de sua soberania. As duas histórias estão erradas, e as demandas que implicam são absurdas: o Chipre, por definição, não pode liquidar sua dívida, enquanto a Alemanha e a UE não podem simplesmente continuar injetando dinheiro para preencher o buraco financeiro cipriota. As duas histórias escondem o fato principal de que há algo errado com o sistema inteiro, no qual as especulações bancárias incontroláveis podem levar um país inteiro à falência. A crise do Chipre não é uma tempestade no copo d’água de um país marginal pequeno, mas um sintoma do que acontece com todo o sistema da UE.
Por isso a solução não é apenas uma regulação maior para evitar a lavagem de dinheiro etc., mas (pelo menos) uma mudança radical no sistema bancário inteiro – para dizer o indizível, algum tipo de socialização dos bancos. A lição das quebras no mundo inteiro desde 2008 é clara: a rede inteira de fundos e transações monetárias, desde depósitos individuais e fundos de aposentadoria até o funcionamento de todos os tipos de derivativos, terá de ser controlada socialmente, modernizada e regulada. Pode soar utópico, mas a verdadeira utopia é a ideia de que podemos, de alguma maneira, sobreviver com mudanças pequenas e cosméticas.
Nesse aspecto, devemos evitar uma armadilha fundamental: a necessária socialização dos bancos não é um compromisso entre o trabalho assalariado e o capital produtivo contra o poder das finanças. Colapsos e crises financeiras são lembretes óbvios de que a circulação do Capital não é um circuito fechado capaz de sustentar plenamente a si próprio, isto é, que essa circulação visa a realidade da produção e da venda de bens que satisfazem às necessidades das pessoas. No entanto, a lição mais sutil dos colapsos e das crises financeiras é que não há como retornar a essa realidade – toda a retórica do “passemos do espaço virtual da especulação financeira de volta às pessoas reais que produzem e consomem” é profundamente equivocada, é a ideologia em sua forma mais pura. O paradoxo do capitalismo é que não podemos jogar fora a água suja das especulações financeiras e guardar o bebê saudável da economia real: a água suja efetivamente é a “linhagem” do bebê saudável.
Isso significa apenas que a solução da crise do Chipre não está no Chipre. Para que o país tenha uma chance, alguma coisa terá de mudar alhures.
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Parlamento Europeu treina "patrulha de trolls" para controlar a opinião pública



O Parlamento Europeu decidiu investir 2,5 milhões de euros numa campanha de propaganda para infiltrar "trolls" nas redes sociais com o objetivo de "controlar a opinião pública", sobretudo em casos onde se manifeste "euroceticismo".
A formação dos "trolls" começa ainda este mês, para que a sua ação se faça sentir antes e durante as eleições europeias de 4 a 8 de Junho de 2014.
A informação foi divulgada a partir de documentos secretos sobre despesas e estratégias de ação obtidos pelo correspondente em Bruxelas do jornal britânico Daily Telegraph. Os gastos vão ser feitos numa ocasião em que as instituições comunitárias procedem a cortes orçamentais nunca vistos na história da integração europeia.
Os "trolls", que em terminologia de internet se podem caracterizar segundo os conceitos de agente provocador ou agente desestabilizador, devem funcionar, segundo um documento interno do Parlamento Europeu, como instrumentos de controlo da opinião pública de modo a identificar o mais cedo possível se debates de natureza política entre seguidores de redes sociais e blogues têm potencial para atrair "o interesse" dos cidadãos e dos meios de comunicação social.
A atividade da "patrulha de trolls", como já é conhecida entre alguns eurodeputados, deve prestar "especial atenção" aos países onde os sentimentos eurocéticos têm vindo a desenvolver-se.
Um documento interno do Parlamento Europeu citado pelo Daily Telegraph afirma que "os comunicadores institucionais do PE têm que estar preparados para controlar as conversações e os sentimentos no terreno em tempo real, para identificar tópicos dominantes e de ter a capacidade de reagir rapidamente, de maneira direta e relevante, associando-se às conversas e influenciando-as, por exemplo contribuindo com factos e números para desconstruir mitos".
A notícia do correspondente do Daily Telegraph cita ainda um documento interno que revela a existência, no interior do setor administrativo do Parlamento Europeu, de opiniões dissonantes sobre o assunto, ao reconhecer que "são muito ténues as linhas que separam a comunicação institucional da comunicação política".
No entanto, a estratégia do processo foi aprovado pelo gabinete administrativo do Parlamento já em Julho do ano passado. O documento principal intitula-se "linhas políticas para a informação institucional e a campanha de comunicação". Parte do principio de que é necessário combater a degradação constante da imagem da União Europeia decorrente da gestão da crise e da aplicação das políticas da austeridade. Situação que o documento define como um "nítido contraste" entre uma realidade de "insegurança crescente e instabilidade financeira" e as promessas de "liberdade, segurança e justiça social com um próspero mercado interno".
Instruções para os "trolls" sobre este assunto são exemplificadas da seguinte maneira: "de maneira a contrariar a perceção de que 'a Europa é o problema' necessitamos de comunicar que a resposta aos desafios existentes é 'mais Europa' e não 'menos Europa'".
Fonte: Esquerda.net

União Europeia e o Nobel da paz


Após concederem o Nobel da paz para o "senhor da guerra" Barack Obama agora foi a vez da União Europeia, em crise e com inúmeros casos de violenta repressão contra manifestações populares, ser laureada com o prêmio.
Fica a dúvida, o Nobel da Paz se converteu em um prêmio para aqueles que violam a paz?

Autor do cartum: Dalcío
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Ignacio Ramonet: Uma forma particular de sadismo


Por Ignacio Ramonet


Sadismo? Sim, sadismo. Como chamar de outra forma a complacência com aquilo que humilha as pessoas e as faz sofrer? Durante estes anos de crise, temos assistido — na Grécia, Irlanda, Portugal, Espanha e outros países da União Europeia (UE) — à impediosa aplicação do ritual de punição “austeritária” exigido pela Alemanha, o que tem provocado um crescimento exponencial dos flagelos sociais (desemprego, pobreza, mendicância, suicídios).
Apesar disso, Angela Merkel e seus aliados continuam a afirmar que sofrer é bom e que, ao invés de suplício, o ato deveria ser considerado um instante de prazer… Segundo eles, cada nova expiação nos purificará, nos regenerará e nos aproximará do fim da tormenta. Essa filosofia da dor não se inspira no Marquês de Sade, mas sim nas teorias de Joseph Schumpeter, um dos pais do neoliberalismo, segundo o qual todo sofrimento social responde a um necessário objetivo econômico; e será errado, em consequência, amenizar o suplício, mesmo que ligeiramente.
Eis que Angela Merkel entra em cena como Wanda, a dominadora, encorajada por um coro de fanáticas instituições financeiras (Bundesbank, Banco Central Europeu, Fundo Monetário Internacional…) e por todos os eurocratas sectários habituais (José Luís Barroso, Von Rompuy, Olli Rehn, Joaquin Almunia…). Todos apostam na existência de um masoquismo popular, que empurraria os cidadãos não apenas à passividade, mas a clamar por mais punições e mortificações — ad maiorem Europa gloriam [Para maior glória da Europa, trocadilho com ad maiorem Dei gloriam, lema dos jesuítas (Nota da Tradução]. Sonham realmente em administrar os povos por meio daquilo que a polícia chama de “golpe do boa-noite cinderela” —  isto é, fazer uso de substâncias capazes de eliminar total ou parcialmente a consciência das vítimas, deixá-las sem forças para, enfim, torná-las marionetes nas mãos de seus agressores. Mas devem tomar cuidado, porque as massas começam a rugir.
Na Espanha, por exemplo, onde o governo conservador aplica políticas selvagens de austeridade ao limite do sadismo, as manifestações de descontentamento social se multiplicam. Neste momento, o país se encontra (com a Grécia) no coração da crise financeira mundial. O presidente do governo, Mariano Rajoy, e sua equipe econômica têm dado, ao longo dos últimos meses, a impressão de avançar sem bússula. Dirigem a crise bancária com uma evidente falta de jeito, notadamente por deixar ocorrer a falência do Bankia e por praticar o negacionismo mais limítrofe, a propósito do plano de resgate europeu dos bancos espanhóis, que o ministro da economia local, Luis de Guindos, apresenta como a concessão de uma simples linha de crédito, que não afeta em nada o déficit público.
De fato houve, depois, a Cúpula Europeia de 28 e 29 de Junho — uma pressão conjugada da França, Itália e Espanha a fim de aceitar que o novo Mecanismo Europeu de Estabilidade (ESM, na sigla em inglês) possa emprestar diretamente aos bancos europeus em dificuldade (notadamente os espanhóis), sem que essa ajuda onere a dívida soberana dos Estados. Em contrapartida, contudo, os Estados deverão aplicar políticas severas de ajuste e austeridade exigidos pela UE, e ceder uma parte de sua soberania em matéria orçamentária e fiscal.
Berlim quer se beneficiar do choque causado pela crise, e de sua posição dominante, para alcançar um velho objetivo: integração política da Europa de acordo com as condições alemãs.  ”Nosso projeto hoje — declarou Merkel num discurso no parlamento alemão, o Bundstag  — é atingir o que não foi feito (quando o euro foi criado) e acabar com o ciclo vicioso da dívida infinita e da não-aplicação das regras. Eu sei que isso é duro, doloroso. É uma tarefa hercúlea, porém indispensável”.
Se o chamado “salto federal” ocorrer, e se a Europa avançar rumo a uma maior união política, isso significará, para cada Estado-membro da UE, renunciar a novos elementos de sua soberania nacional. Uma instância central poderia intervir diretamente para ajustar o orçamento público e fixar os tributos de cada Estado, em nome dos compromissos europeus. Quais países estão dispostos a abandonar sua soberania nacional? Porque, se ceder certos aspectos da soberania é inevitável,  em um processo de integração como a União Europeia, é necessário dizer também que não se deve confundir federalismo com neocolonialismo… 
Nos países da UE atualmente sujeitos aos planos de resgates, essas perdas de soberania já são uma realidade. Sobre a Espanha, o ministro das Finanças alemão, Wolfgang Schäuble, também disse que a “troika” (BCE, Comissão Europeia e FMI) irá controlar a reestruturação do sistema bancário. Será que isso mudará depois da decisão adotada na Cúpula Europeia de 28 e 29 de Junho últimos?
Isso é provável porque, como têm apontado os economistas Niall Ferguson e Nouriel Roubini: “A estratégia de recapitalizar os bancos, forçando os Estados a tomar emprestado dos mercados nacionais de bônus — ou do Fundo Europeu de Estabilidade Financeira (EFSF) — foi desastrosa para a Irlanda e Grécia, pois isso causou uma explosão da dívida pública e tornou os Estados ainda mais insolventes. E, ao mesmo tempo, os bancos tornaram-se eles mesmos um risco incontrolável, na medida em que passaram a deter uma parcela ainda maior da dívida pública”.
Se isso não funcionou, por que persistir com essas políticas “de austeridade” por tantos anos? A inquietação das sociedades tem conseguido retardar o sadismo econômico encarnado pela Alemanha. Mas por quanto tempo?
Tradução: Hugo Albuquerque
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Fanáticos do mercado perdem de novo na Islândia



Por Paulo Moreira Leite


Há dois motivos para se prestar atenção à política da Islândia mas a maioria das pessoas só costuma prestar atenção num deles.
A primeira ministra é Jóhanna Sigorarddóttir, primeira chefe de governo assumidamente homossexual do planeta. Mãe de dois filhos, divorciada, quando a união entre pessoas do mesmo sexo foi legalizada a primeira ministra oficializou o casamento com uma escritora.
O outro motivo para se prestar atenção na Islândia é político. Seu presidente, o socialista Olafur Ragnar Grimsson, que foi reeleito ontem com mais de 52,7% dos votos, é uma das personalidades mais relevantes da crise econômica mundial.
Enquanto os demais governos europeus caem como dominó, repudiados por eleitores que se recusam a pagar a conta de uma crise criada pelo cassino financeiro, Grimsson recebeu o quinto mandato consecutivo. Sua margem de votos equivale a uma vitória em primeiro turno.
A razão é simples. Recusando-se a sacrificar a população em nome da saúde dos bancos, em duas ocasiões Grimsson vetou uma lei que pretendia obrigar o país a pagar a conta pelos prejuízos do cassino financeiro de 2008, que levou o principal banco do país à falência.
Governos muito mais poderosos e influentes, da Inglaterra e da Holanda, cobravam a conta a população dos 400 000 habitantes da Islândia. Abrigo de um sistema de bem-estar social típico dos países nórdicos, com uma boa renda per capta e uma das sociedades mais equilibradas do planeta, nas décadas anteriores a Islandia fora transformada num paraíso neo-liberal, abandonando a atividade industrial tradicional, em torno da pesca, para se transformar num paraíso financeiro e fiscal sob encomenda para grandes bancos europeus.
A ideia para enfrentar a crise depois da quebra de 2008 era o modelito dos fanáticos do mercado, aplicado na Grécia, na Espanha, em Portugal e Itália: cortar investimentos sociais e aumentar impostos, elevando o desemprego e aumentando as receitas dos bancos.
O presidente islandês Olafur Ragnar Grimsson
Com seu veto, Grimsson abriu caminho para um referendo sobre o tema – venceu a proposta de não pagar a dívida e arrumar a economia, com prioridade a investimentos que gerassem empregos e crescimento. Seus adversários levantaram o previsível espantalho da crise sem fim mas se deram mal, como demonstra a votação de ontem.
Essa trajetória inovadora explica a reação preventiva dos  mercados quando, no final de 2011, então primeiro ministro grego Georges Papandreou resolveu fazer um referendo sobre o plano de austeridade imposto pela União Europeia. Papandreou foi obrigado a renunciar ao cargo em menos de uma semana. O capítulo seguinte da história nós sabemos: o país foi entregue a um homem de confiança do Goldman Sachs, que, após duas eleições apertadas e pouco conclusivas, transferiu o governo para um candidato conservador.
A cena atual na Grécia é previsível: o pacote de austeridade é tão rico em sacrifícios e pobre em perspectivas reais que dias depois da vitória, quando fez campanha a seu favor, o novo governo já pede uma revisão de suas condições. A comparação com a Islândia mostra que há opção.
Você já deve ter lido um bom número de articulistas que se queixam que faltam governantes duros, com coragem de pedir sacrifícios da população. Eles gostam de acusar esses governos de populistas. É puro xingatório de quem apoia políticas que não tem voto — mas prefere se esconder atrás de um conceito político que já teve momentos de maior prestígio no passado.
O sucesso único de Grimsson mostra o contrário. Não faltam autoridades dispostas a servir aos interesses financeiros e  entregar a população à própria sorte. São uma unanimidade – ou quase.
A reeleição de Grimsson apenas confirma uma lição óbvia das democracias: a população rejeita políticos que viram as costas na hora da dificuldade.
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A falência da Espanha e seus disfarces


Por Maurício Caleiro



A Espanha quebrou, faliu. Este é o fato, a terrível realidade que se esconde por detrás de uma operação discursiva que lança mão de termos amenos, humanistas e solidários como “ajuda”, “resgate” e “operação de salvamento”. 

Trata-se, na verdade, de uma intervenção na economia e na soberania espanholas, para benefício do mercado financeiro e com duras consequências para a população. 


Rajoy questionado
Tendo imposto suas demandas ao governo do conservador Mariano Rajoy sob sua relutância apenas aparente, a batalha que os arautos do neoliberalismo ora travam é de ordem discursiva: em primeiro lugar, trata-se de convencer os espanhóis que é não apenas aceitável, mas para seu próprio bem desejável que paguem, com carestia, desemprego, cortes nos salários, nas aposentadorias e no acesso a saúde e educação – em suma, com o que resta do Estado de bem-estar social à europeia – as dezenas (talvez centenas) de bilhões de euros que serão utilizadas para tirar as instituições financeiras do buraco por elas mesmas cavado.

A julgar pelas reportagens na imprensa espanhola, agora está ficando claro para muitos de seus ingênuos eleitores que Rajoy - que há dez dias declarou taxativamente que não haveria resgate aos bancos - mentiu. E, a bem da verdade, continua a fazê-lo, já que é lugar-comum entre economistas que cem bilhões de euros são um mero paliativo, e que o setor financeiro, com as cartas na mão, demandará de quatro a oito vezes esse valor para cobrir seus rombos - com a imposição dos cortes sociais correspondentes.
Consequências psicológicas
“A intervenção é um golpe psicológico que constitui um marco na história de nossas relações com a Europa. Em um país onde a identidade nacional e os sentimentos de autoestima coletiva têm estado sempre tão estreitamente vinculados aos feitos alcançados no âmbito europeu, custa crer que tenhamos chegado a este ponto. Entender como e por quê e o que ocorrerá a partir de agora mostra-se imprescindível”, aquiesce uma voz favorável ao "resgate".

Desse quadro decorre um segundo movimento da citada operação discursiva, desta feita para salvaguardar o orgulho nacional, que a menção à condição de quarta economia da Europa costuma alimentar. Nela pontifica, de novo, a promoção do contorcionismo verbal à maneira do 1984, de Orwell, com a adoção de uma novilíngua em que a tragédia torna-se pacto social; a bancarrota, ajuste mercadológico; a humilhação à soberania nacional, solução negociada com os parceiros de bloco.

Nós, latino-americanos, já vimos algumas vezes esse filme, porém em versões em preto e branco, do final do século passado. Trata-se, com o perdão pela redundância, de uma chanchada de má qualidade, protagonizada por canastrões, com um roteiro que tem sérios problemas de verossimilhança e, pior, não tem final feliz: os vilões vencem.


Espanha x Argentina
Essa autorreferência ao nosso continente nos leva ao terceiro movimento da estratégia discursiva neoliberal acima aludida, desta feita de caráter eurocêntrico e, naturalmente, pró-mercado, facilmente identificável no discurso da mídia brasileira relativo à crise espanhola: “Quando o resgate era de pais da periferia, a mídia chamava de falência, quebra. Quando é no centro: resgate, apoio, empréstimo. Ajuda”, resume o professor Emir Sader, em seu Twitter.

Convido os(as) leitores(as) a compararem o tratamento que essa mesma mídia deu ao default argentino – que se recusou a seguir as imposições do sistema financeiro internacional - e o enfoque que ora dispensa à quebra da Espanha – que segue à risca o que manda a Troika. Recomenda-se, ainda, daqui a algum tempo, quando tivermos elementos sobre os desdobramentos da obediência espanhola à banca, que também se leve em conta, nessa comparação, a situação do país ibérico e a da Argentina – que, malgrado todas as ameaças de danação eterna a que fatalmente estava condenada por ousar enfrentar a cartolagem, tem apresentado, sob um governo de centro-esquerda, um desempenho econômico superlativo em meio à crise. 
Confusão conceitual
A persistência do neoliberalismo como modelo orientador das políticas econômicas da Zona do Euro - agravadas por sua prescrição como antídoto que só faz agravar sua maior crise, como se vê na Espanha - nos fornece a medida do quanto a constituição de blocos econômicos transnacionais, apregoada como imprescindível à sobrevivência na globalização, acabou por constituir-se em um fator determinante na submissão dos estados nacionais aos ditames do mercado financeiro.

No âmago de tal problema está uma confusão conceitual, intencionalmente inoculada pelos arautos do neoliberalismo quando da ascensão histórica deste, ao longo dos anos 80, sob os  os eflúvios de Thatcher e Reagan: a concepção de globalização e neoliberalismo como termos indissociáveis e, em larga medida, intercambiáveis, marcados por uma relação pela qual a primeira, por seu caráter estruturante, imporia a adoção de políticas econômicas nos moldes ditados pelo segundo, sob a ameaça de expulsão da então chamada “nova ordem mundial” e decorrente aniquilamento do país enquanto ente autônomo.

Essa confusão e essa crença são um lugar-comum na reflexão teórica sobre o período, levada a cabo inclusive por pensadores que continuam na linha de frente da crítica socioeconômica. É notável, no entanto, que tanto intelectuais brasileiros como Octávio Ianni e Milton Santos quanto uma certa tendência do pensamento franco-europeu agrupada em torno do Le Monde Diplomatique tenham desde sempre, em sua maioria, recusado a aferrar-se ao determinismo teórico do período. 


O retorno da soberania
Este, embora falho, é até certo ponto compreensível, posto que tardiamente desmentido factualmente. Pois, a rigor, a constatação de que a morte do Estado nacional era uma balela e que havia possibilidade de as nações, enquanto ente socioeconômico, sobreviverem – com crescimento, inclusão social e um Estado fortalecido, atuante e que conservasse um bom grau de independência a despeito da interdependência da economia global– só tem lugar com a ascensão e o sucesso das administrações de Lula, Chávez, Kirchner, Morales, Corea, entre outros - e, em alguns casos, de seus sucessores.

Assim, ainda que devamos ter muito claros a persistência insidiosa do poder neoliberal sobre tais administrações e os limites e eventuais equívocos e desacertos destas – como a insensibilidade do governo de Dilma Rousseff para com as demandas do funcionalismo público, que ora fornece um dentre tantos exemplos possíveis -, é preciso atentar com limpidez para as conquistas e as possibilidades propiciadas pelo realinhamento político-ideológico promovido pela democracia brasileira na última década -e lutar para efetivá-las e ampliá-las.

O povo espanhol, por sua vez, já promete voltar a tomar as ruas e a Puerta del Sol, em protesto. Suerte.
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O futuro da Europa será decidido na Grécia



Por Michael Löwy, Étienne Balibar e Eleni Varikas.

A situação da Grécia neste momento não tem igual, depois do fim da ocupação alemã em 1944. Redução brutal de salários e aposentadorias; desemprego entre jovens em 50%; empresas, pequeno comércio, jornais e editoras falindo; milhares de mendigos e sem-teto nas ruas; impostos extravagantes e arbitrários e cortes constantes em salários e aposentadorias; privatizações em série, suspensão de serviços públicos (saúde e educação) e da seguridade social; suicídios que se multiplicam… E poderíamos continuar a lista dos prejuízos do “memorando”.

Em compensação, os banqueiros, os armadores e a Igreja (maior proprietário fundiário do país) não são taxados. O governo decretou a redução de todos os orçamentos sociais, mas não mexeu no orçamento descomunal da “defesa”: a Grécia é obrigada a continuar comprando material militar de bilhões de euros de fornecedores europeus que são também – pura coincidência – os que exigem o pagamento da dívida (Alemanha e França).

A Grécia se tornou um laboratório para a Europa. Ali são testados em cobaias humanas os métodos que serão aplicados em Portugal, na Espanha, na Irlanda, na Itália e assim por diante. Os responsáveis pela experiência, a Troika (Comissão Europeia, Banco Central e FMI) e seus associados nos governos gregos, não estavam preocupados: alguma vez já se viu porquinhos-da-índia ou ratos de laboratório protestar contra uma experiência científica? Milagre! As cobaias humanas se revoltaram: apesar da repressão feroz de uma polícia amplamente infiltrada pelos neonazistas, recrutados nos últimos anos, as greves gerais, as ocupações das praças, as manifestações e os protestos não param há um ano. E, agora, para o cúmulo da insolência, os gregos votaram contra a continuação da “experiência”, diminuindo pela metade os votos a favor dos partidos do governo (a direita e a centro-esquerda, que, obedecendo ao seu programa, assinaram o memorando) e quadruplicando o apoio à Syriza (Coalizão de Esquerda Radical).

Não é preciso ser da esquerda radical para ver que os remédios neoliberais da Troika são catastróficos. Paul Krugman, Nobel de economia, não cansa de repetir: como “sanear as finanças” da Grécia, se o país está de joelhos, em recessão, o que só vai diminuir a receita e desequilibrar o orçamento? Para que serviram os “generosos” empréstimos da Europa e do FMI? Para pagar… a dívida com os bancos, correndo o risco de se endividar de novo. Os “experts” da Troika seguem o capitalismo como uma religião (W. Benjamin, 1921): uma religião cujas divindades – os mercados financeiros dos decretos imprevisíveis, arbitrários e irracionais – exigem sacrifícios (humanos).

Transformando o arbitrário, o secreto e o medo num verdadeiro modo de governar, essa política de submissão brutal de um povo só poderia provocar reações de fúria, desespero, raiva. Parte dessa raiva foi canalizada por uma sinistra força racista, antissemita e xenofóbica, o grupo neonazista “Aurora Dourada”. Mas os indignados, pela primeira vez desde 1958, apoiaram em sua grande maioria a esquerda radical. Essa esquerda é profundamente europeia. Ela não tem nenhuma intenção de abandonar o euro, mas rejeita categoricamente o “memorando” imposto pela Troika e aceito pelos governos gregos que se sucederam nos últimos anos: o Pasok, a “Nova Democracia” e o da “unidade nacional” com a extrema-direita. Ela propõe alternativas concretas, realistas e imediatamente aplicáveis: moratória, seguida de auditoria internacional para atestar a legitimidade da moratória; controle social dos bancos; supressão das medidas antissociais tomadas pelos governos que assinaram o “memorando”. Com o apoio de um amplo espectro da esquerda democrática, dos movimentos sociais, dos indignados, dos trabalhadores em luta, das redes de defesa dos imigrantes, dos grupos feministas, queer e ambientalistas, ela conseguiu se tornar a segunda força política do país. “Eles não sabiam que era impossível, então fizeram”, diria Mark Twain.

Haverá uma segunda eleição em junho. Algumas pesquisas dão a esquerda radical como a primeira força política do país. Para nós, está claro que o futuro da Europa será definido na Grécia. Os porta-vozes do capital financeiro, tanto Barroso quanto Schäuble, sabem disso e ameaçam os gregos com todo tipo de represália, caso se atrevam a não votar nos candidatos avalizados pelos bancos e pelo FMI. O novo governo francês, que se limita a um silêncio cauteloso, deveria afirmar em alto e bom som que respeitará as decisões do povo grego e rejeitará qualquer proposta de excluir a Grécia da Europa ou da zona do euro.

É urgente apoiar a esquerda radical grega e o impulso democrático, antifascista e de união que a move. Neste momento, ela está à frente do combate para tirar a Grécia e, consequemente, a Europa do pesadelo da austeridade neoliberal.

O futuro da Europa se define neste momento na Grécia.

Traduzido por Mariana Echalar para o Blog da Boitempo
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Salvem-nos dos salvadores: Slavoj Žižek sobre a Europa e os gregos


Por Slavoj Žižek


“O sujeito que odeia os progressistas em Londres, apresenta-se como progressista na África”
Chesterton, 1808,loc. cit[1]

Imagine uma cena de um filme distópico que mostre nossa sociedade num futuro próximo. Guardas uniformizados patrulham ruas semivazias dos centros das cidades, à caça de imigrantes, criminosos e desocupados. Os que encontram, os guardas espancam. O que parece fantasia de Hollywood já é realidade hoje, na Grécia. Durante a noite, vigilantes uniformizados com as camisas negras do partido neofascista Golden Dawn [Aurora Dourada], de negadores do Holocausto –, que receberam 7% dos votos no segundo turno das eleições gregas e que contam com o apoio, como ouve-se pela cidade, de 50% da polícia de Atenas – patrulham as ruas, espancando todos os imigrantes que cruzem seu caminho: afegãos, paquistaneses, argelinos. É como a Europa defende-se hoje, na primavera de 2012.
O problema de defender a civilização europeia contra a ameaça dos imigrantes é que a ferocidade com que os defensores europeus defendem-se é ameaça muito maior a qualquer “civilização”, que qualquer tipo de invasão de muçulmanos, e ainda que todos os muçulmanos decidissem mudar-se para a Europa. Com defensores como esses, a Europa não precisa de inimigos. Há cem anos, G.K. Chesterton deu forma articulada ao impasse em que se metem os que criticam a religião: “Homens que se põem a combater igrejas em nome da liberdade e da humanidade espantam de si mesmos a liberdade e a humanidade em nome do combate à igreja (…). Os secularistas não provocaram o naufrágio das coisas divinas; só fizeram naufragar coisas seculares… se isso lhes serve de consolo.” [1]
Tantos guerreiros liberais andam tão furiosamente decididos a combater o fundamentalismo anti-democrático, que acabam esquecendo qualquer liberdade e qualquer democracia, tudo em nome de combater o terror. Se os “terroristas” estão dispostos a destruir nosso mundo por amor a outro mundo, nossos guerreiros antiterror prontificam-se a devastar qualquer democracia, por ódio ao próximo muçulmano. Alguns deles amam tanto a dignidade humana que, para defendê-la, dispõem-se a legalizar a tortura… É a inversão do processo pelo qual os fanáticos defensores da religião começaram por atacar a cultura secular contemporânea e acabaram por sacrificar até as próprias credenciais religiosas, na ânsia de erradicar todos os aspectos que odeiam no secularismo.
Mas os defensores que insistem em defender a Grécia contra imigrantes não são o principal perigo: não passam de subproduto do perigo muito maior: as políticas de austeridade que causaram a desgraça da Grécia. As próximas eleições na Grécia estão marcadas para dia 17 de junho. O establishment europeu alerta que são eleições cruciais: não estaria em jogo só o destino da Grécia, mas o destino de toda a Europa. Um resultado – o correto, segundo eles – levará ao processo doloroso mas necessário de recuperação. A alternativa – no caso de vitória do Partido Syriza, de “extrema esquerda” – seria votar pelo caos, pelo fim do mundo (europeu) como o conhecemos.
Os profetas do apocalipse estão corretos, mas não como supõem ou pretendem. Críticos dos arranjos democráticos hoje vigentes reclamam que as eleições não oferecem opção real: votamos para escolher apenas entre uma centro-direita e uma centro-esquerda cujos programas são quase absolutamente idênticos. Mas dia 17 de junho, afinal, haverá escolha significativa: de um lado o establishment (Nova Democracia e Pasok); do outro lado, a Coalizão Syriza. E, como acontece quase sempre em que há escolhas reais no mercado eleitoral, o establishment está em pânico: caos, pobreza e violência eclodirão imediatamente, dizem, se os eleitores escolherem “errado”. A mera possibilidade de vitória da Coalizão Syriza, como se ouve, já dispara convulsões de medo nos mercados. A prosopopéia ideológica é rampante: os mercados falam como se fossem gente, manifestam “preocupação” pelo que acontecerá se as eleições não produzirem governo com mandato para manter o programa de austeridade e reformas estruturais de UE-FMI. Os cidadãos gregos não têm tempo para pensar nas preocupações “dos mercados”: mal conseguem ter tempo para preocupar-se com a sobrevivência diária, numa vida que já alcança graus de miséria que não se viam na Europa há décadas.
Todas essas são previsões enunciadas para se autocumprirem, causar mais pânico e, assim, forçar as coisas a andarem na direção “prevista”. Se a Coalizão Syriza vencer, o establishment europeu ficará à espera de que nós aprendamos com nossos erros o que acontece quando alguém tenta interromper, por via democrática, o ciclo vicioso de cumplicidade bandida, entre os tecnocratas de Bruxelas e a demagogia suicida do populismo anti-imigrantes.
Foi exatamente o que disse Alexis Tsipras, candidato da Coalizão Syriza, em entrevista recente: que sua prioridade absoluta, no caso de sua coalizão vencer as eleições, será conter o pânico: “Os gregos derrotarão o medo. Não sucumbirão. Não se deixarão chantagear.”
A tarefa da Coalizão Syriza é quase impossível. A coalizão não traz a voz da “loucura” da extrema esquerda, mas a voz do falar racional contra a loucura da ideologia dos mercados. No movimento de prontidão para assumir o governo da Grécia, já derrotaram o medo de governar, tão característico entre a esquerda; já mostraram que não temem fazer a faxina do quadro confuso que herdarão. Terão de mostrar-se capazes de montar e cumprir uma formidável combinação de princípios e pragmatismo; de compromisso democrático e presteza para intervir com firmeza onde seja preciso. Para que tenham uma mínima chance de sucesso, precisarão de toda a solidariedade dos povos europeus; não só de respeito e tratamento decente pelos demais países europeus, mas, também, de ideias mais criativas – como a de um “turismo solidário” nesse verão, que já propuseram.
Em suas Notes towards the Definition of Culture, T.S. Eliot [2] observou que há momentos em que a única escolha é entre a heresia e o não crer – ou seja., quando o único meio para manter viva uma religião é promover uma divisão herética. Essa é, hoje, a posição em que está a Europa. Só uma nova “heresia” – representada hoje pela Coalizão Syriza – pode salvar o que valha a pena do legado europeu: a democracia, a confiança nas pessoas, a solidariedade igualitária etc. A Europa que haverá para nós, se a Coalizão Syriza for descartada, é uma “Europa com valores asiáticos” – os quais, é claro, nada têm a ver com a Ásia, e tem tudo a ver com a tendência do capitalismo contemporâneo, para suspender a democracia.
Eis o paradoxo que mantém o “voto livre” nas sociedades democráticas: cada um é livre para escolher, desde que faça a escolha certa. Por isso, quando se faz a escolha errada (como quando a Irlanda rejeitou a Constituição da União Europeia), a escolha é tratada como erro; e o establishment imediatamente exige que se repita o processo “democrático”, para que o erro seja reparado. Quando George Papandreou, então primeiro-ministro grego, propôs um referendo sobre a proposta de resgate que a eurozona apresentara no final do ano passado, até este foi descartado como falsa escolha.
Há duas principais narrativas na mídia, sobre a crise grega: a narrativa alemã-europeia (os gregos são irresponsáveis, preguiçosos, gastadores, não pagam impostos, etc.; e têm de ser postos sob controle, com aulas de disciplina financeira); e a narrativa grega (nossa soberania nacional está ameaçada pelo tecnologia neoliberal imposta por Bruxelas). Quando se tornou impossível ignorar o suplício do povo grego, emergiu uma terceira narrativa: os gregos estão sendo apresentados hoje como vítimas de desastre humanitário, carentes de ajuda, como se alguma guerra ou catástrofe natural tivesse atingido o país. As três são falsas narrativas, mas a terceira parece ser a mais repugnante. Os gregos não são vítimas passivas. Os gregos estão em guerra contra o establishment econômico europeu. Precisam de solidariedade nessa luta, porque a luta dos gregos é a luta de todos nós.
A Grécia não é exceção. É mais uma, dentre várias pistas de testes de um novo modelo socioeconômico de aplicação quase ilimitada: uma tecnocracia despolitizada, na qual banqueiros e outros especialistas ganham carta branca para demolir a democracia. Ao salvar a Grécia de seus ditos “salvadores”, salvaremos também a Europa.

[1] CHESTERTON, Gilbert K., Orthodoxy [1908], “VIII: The Romance of Orthodoxy”, em http://www.leaderu.com/cyber/books/orthodoxy/orthodoxy.html(ing.) [NTs].
[2] ELIOT, T. S. Notas para uma definição de cultura. Lisboa: Século XXI, 1996.

Traduzido pela Vila Vudu
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A vitória de François Hollande sob a maldição de Mitterrand



Por J. Carlos de Assis


Por mais importante que a França seja na Europa, a eleição de François Hollande para a presidência não dever trazer, no momento, grandes mudanças na política econômica europeia. A Alemanha contracionista continuará no comando e a França, como os demais países da zona do euro, continuará refém dos mercados, pelo menos enquanto o BCE não puder comprar títulos públicos diretamente dos governos numa escala superior à simples rolagem da dívida a fim de possibilitar a retomada do investimento público.

Essa alternativa é inaceitável para a ortodoxa Alemanha. Pode-se prever um forte embate entre Hollande e Merkel, pelo menos até as eleições gerais na própria Alemanha que porão em jogo o poder da Chanceler. Até lá, a marcha real da crise muito provavelmente enfraquecerá a posição alemã, embora o desfecho do embate sofrerá a fortíssima influência de um fator externo tradicionalmente decisivo para a política europeia: a reeleição ou não de Barack Obama e a composição partidária do Congresso americano.

Da eleição de Hollande pode-se dizer o que o provérbio popular diz das posições solitárias num contexto adverso: uma andorinha só não faz verão. Lembre-se a primeira eleição de um socialista, François Mitterrand, no início dos aos 80. Ele se apresentara ao eleitorado com uma plataforma progressista, centrada na estatização de empresas e bancos considerados estratégicos para a economia e a sociedade. Estava na exata contramão do neoliberalismo então capitaneado por Thatcher e Reagan.

O “mercado” e a ideologia neoliberal em plena ascensão, baseada no princípio da liberalização financeira, levaram Mitterrand à capitulação. Em meados de 1982, seu ministro da Fazenda, Giscard d´Estaing, comunicou ao Presidente, numa reunião de gabinete, que a França, sob um severo ataque especulativo, tinha reservas não para meses, ou para muitas semanas, mas para alguns dias. No meio do pânico geral, Mitterrand deu uma virada de 180 graus na política econômica e aumentou espetacularmente os juros, seguindo o rastro do neoliberalismo triunfante. 

Eu testemunhei essa virada cobrindo a reunião dos Sete Grandes em Bonn em 1985. Fiquei desolado ao ver Mitterrand e o premiê italiano, também socialista, Betino Craxi, subscreverem um documento final que trazia todos os elementos básicos da ideologia neoliberal: globalização financeira, liberalização, primado absoluto do privado sobre o público. Esse momento foi decisivo na uniformização das políticas dos países industrializados avançados em torno dos princípios neoliberais; o Consenso de Washington, alguns anos depois, representou apenas uma formalização acadêmica.

O que se pode esperar, então, objetivamente, da eleição de Hollande? Certamente ela tem aspectos positivos. Haverá um aumento de pressão, junto com a Itália e a Espanha, para que a Europa retome os investimentos públicos. Para financiá-los, pode-se recorrer à fórmula já defendida no âmbito da Comissão Europeia de se lançar um título europeu com a garantia do bloco. O problema com essa fórmula é que ela pode deprimir ainda mais o valor dos títulos dos governos nacionais, elevando a níveis insuportáveis o custo do refinanciamento da sua dívida pública corrente.

O que se pode prever que vá efetivamente ocorrer? Primeiramente, há uma questão técnica, pouco levada em conta por políticos: não é possível, em termos contábeis, aumentar o investimento público líquido e reduzir o déficit e a dívida pública. O investimento relevante para a retomada do desenvolvimento é o investimento deficitário, isto é, aquele que representa um gasto público financiado por dívida (ou receita de senhoriagem), não por tributo, que é contracionista. Significa mobilizar recursos privados ociosos para investimentos concretos sem elevação de impostos.

O “mercado” não gosta disso. Quer que a dívida e o déficit público sejam reduzidos. Embora isso não impeça investimentos públicos, impede investimentos novos. Uma queda de braços em torno da questão do investimento público novo entre “mercado” e o governo Hollade é perfeitamente previsível. A única defesa que o novo governo francês tem é o BCE, que pode comprar seus títulos, diluindo o poder do “mercado”. Claro, para que isso aconteça, seránecessário falar com a Merkel, ou esperar que ela seja derrubada pelo voto no próximo ano.

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Neoliberalismo e crise hegemônica na Europa



Por Emir Sader



O pânico que havia gerado a possibilidade de convocação de uma consulta popular na Grecia sobre o pacote de ajuste imposto pelo Banco Central Europeu já revelava o que se confirma agora, de maneira ainda mais enfática. As “necessidades” da política de ajuste da UE, do Banco Central Europeu e do FMI se chocam frontalmente com os interesses da grande maioria dos europeus em cada país.
As eleições destes últimos dias – municipais na Inglaterra, parlamentares na Grécia, presidenciais na Franca, numa província na Alemanha – vão todas na mesma direção. Os governos da Inglaterra, da Grécia, da Alemanha, da França, não detém mais o apoio majoritario da sua população. As políticas que adotaram os levam ao isolamento social e à derrota política.
Na Inglaterra, rapidamente o governo de Cameron se desgastou e assumiu o ônus da recessão em que caiu o país. Perdeu as eleições municipais, como consolo o carismático prefeito de Londres conseguiu se reeleger, o que não esconde a maré nacional de rejeição do governo, prenunciando existência curta para o governo conservador britânico.
Na Grécia, como se poderia esperar, os dois partidos tradicionais, congregados no governo supostamente tecnocrático imposto pelo BCE, so’ conseguiram 1/3 dos votos, revelando a inviabilidade de seguir com o pacote suicida imposto ao país.
Na Alemanha, segue a série de derrotas politicas regionais da Democracia Cristä, que apontam para uma possível derrota da Merkel no próximo ano. Na França, como todos os 11 governos que se submeteram a eleições gerais, o de Sarkozy foi derrotado, terminando o longo ciclo de governos de direita no país.
No entanto, nem esta vitória na França, nem o panorama negativo para o BCE, o FMI e Angela Merkel, abrem claramente um novo período político na Europa, pelo menos por enquanto. Pode estar dando sinais claros de esgotamento do modelo atual e do ciclo de governantes direitistas que assolou o continente, mas está ainda longe o momento de que uma nova política europeia se imponha.
As armadilhas montadas pela forma que assumiu a unificação europeia – uma unificação antes de tudo monetária – amarram os pés dos governos da região. Ficar no euro ou sair se assemelha ao dilema do "se correr o bicho come, se ficar o bicho pega".
As boas novidades são a consolidação de uma nova força de esquerda na Grécia, assim como o enfraquecimento da DC na Alemanha e dos conservadores na Inglaterra. Na Franca, no entanto, a soma dos votos do Sarkozy e da Le Penn seria maioria (só 50% dos votos dela foram para ele no segundo turno), demonstrando como o consenso conservador ainda é majoritário naquele país.
Essas eleições – especialmente a francesa – demonstram como a Europa também entra em uma situação de crise hegemônica, em que o bloco atualmente dominante, liderado pelo capital financeiro, não consegue mais apoio social e politico para sobreviver. (Tiveram que praticamente realizar um golpe para impor seus governos “tecnocratas” na Itália e na Grecia.) Todos os governos perdem as eleições gerais e as locais. Os candidatos de direita – como Sarkozy – não tem nada a dizer sobre os temas centrais dos países europeus, como a recessão e o desemprego, buscando desviar a atenção para os temas da imigracao e a violência. Não há proposta, no marco das atuais políticas econômicas, que consiga ter apoio popular.
Mas se está longe ainda de ter alternativas, ainda mais que elas têm que dar conta da UE, do euro, isto é, construir uma solução alternativa para todo o continente. O peso do pensamento conservador é ainda muito forte – como se vê na França. Mas o governo de Hollande pode contribuir para a construção de um novo consenso, rompendo com os termos da questão como estão colocados pela Alemanha e assumidos por, até aqui, todos os governos europeus. Na França pode começar a se esboçar medidas de apoio popular que comecem a construir um consenso alternativo.
O que se abre na Europa é um longo processo, cheio de turbulências e instabilidades, de construção de um consenso posneoliberal, em que a América Latina está há mais de uma década.
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Ofensiva colonialista ameaça a América Latina



Por Gilson Caroni Filho
A decisão da União Européia de reconhecer o arquipélago das Malvinas como seu território, endossando as posições belicistas do premier britânico, David Cameron, que aprovou um plano para aumentar o contingente militar nas ilhas, serve para reacender um dado histórico que nunca deve ser esquecido: a tragédia dos países da América Latina, com seu fundo aberrante de exploração, miséria e desculturalização é uma só e com os mesmos inimigos: o neocolonialismo europeu e o imperialismo estadunidense.

Uma atualização política do "currency board", sistema inventado pelo império inglês para controlar seus domínios. Se nele, a colônia não tem autonomia nenhuma e a economia flutua ao sabor do déficit comercial, na geopolítica, que se afigura ameaçadora, os países periféricos voltam a orbitar em torno dos ditames das grandes potências. Cameron tira as gravatas de seda e os ternos alinhados para, três décadas depois, reafirmar a retórica de Margareth Thatcher.

Do convés do destróier Antrim, atravessado por uma bomba que não explodiu, Thatcher pronunciou o último discurso no seu giro de cinco dias pelas Malvinas: "Uma coisa tem que ficar clara: estas ilhas são britânicas, seus habitantes são súditos da rainha Elisabeth II e querem permanecer como tais". Dirigindo-se aos jornalistas que acompanhavam, ela reiterou que "não se pode negociar a soberania com os argentinos. Estendemos as mãos à Argentina. Não responderam. Confiamos em que eles o farão um dia. Mas não negociaremos a respeito de nossa posição soberana".

Cameron deve ignorar que o tempo histórico tem suas razões, que devem ser levadas em conta. A aventura do regime militar de Leopoldo Galtieri tinha como objetivo a permanência indefinida no governo, todo o tempo que fosse possível. Em 2012, Cristina Kirchner representa um modelo político em andamento na região há algum tempo, mais democrático de fato, humanizado e com ênfase nas reformas estruturais necessárias após o desmonte promovido pelo neoliberalismo. Ao contrário do "reel", dança típica inglesa, o tango se dança em silêncio, não contam tanto as palavras, mas os movimentos e os gestos.

A autodeterminação dos Kelpers, argumento central de Thatcher e Cameron, encerra uma contradição difícil de superar. Como podem reivindicar a cidadania britânica e o direito à autodeterminação? O que temos, de fato, é uma ocupação colonial permanente travestida de "independência". Não há mais condições objetivas para o oprimido fazer sua uma memória fabricada pelo opressor.

Convém recordar que se há 30 anos os países da América Latina foram muito além do previsível em seu apoio aos direitos argentinos, não cedendo um metro do seu território para que aviões militares fizessem escala, a resistência seria bem mais intensa com a região estruturada em comunidades como a Unasul e a Celac. Uma empreitada militar teria custos políticos bem mais profundos do que podem imaginar seus idealizadores.

Nada impede o início de discussões bilaterais sobre as Malvinas. Há para isso um antecedente importante: o documento celebrado em 1968 com a Argentina pelo governo trabalhista de Harold Wilson, que só não entrou em vigor, devido ao adiamento por causa da campanha eleitoral, e à vitória do conservador Edward Heath, depois, nas eleições de 1970.

Seu artigo 4 era bem explícito. "O governo de sua Majestade Britânica reconhecerá a soberania argentina sobre as ilhas a partir da data a ser combinada. Essa data será fixada tão logo o governo de sua Majestade Britânica esteja satisfeito com as garantias e salvaguardas oferecidas pelos governos argentinos para defender os interesses dos seus habitantes."

Como se vê, há uma saída para um impasse. Majestática, britânica e sensata. Algo que seria bem apreciado no sul do nosso continente.
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Os Estados Unidos contra todo o mundo


Por Immanuel Wallerstein


Era uma vez um tempo em que os Estados Unidos tinham muitos amigos, ou pelo menos seguidores relativamente obedientes. Nos dias de hoje, parecem já não ter outra coisa senão adversários de todas as cores políticas.
 
Mais ainda, parecem não estar a sair-se bem nas reuniões com os adversários.
 
Vejam os acontecimentos de novembro de 2011 e da primeira metade de dezembro. Os EUA tiveram conflitos com a China, com o Paquistão, com a Arábia Saudita, com Israel, com o Irã, com a Alemanha e com a América Latina. Não se pode dizer que tenham levado a melhor em qualquer destas controvérsias.
 
O mundo interpretou a presença e os discursos do presidente Obama na Austrália como um desafio aberto à China. Obama disse ao Parlamento australiano que os Estados Unidos estavam determinados “a alocar os recursos necessários para manter a nossa forte presença militar nesta região.” Com este objetivo, os Estados Unidos estão a deslocar 250 marines para uma base aérea australiana em Darwin (e possivelmente elevando o número, no futuro, para 2500).
 
Esta é apenas um de um número de movimentos militares semelhantes na região. Assim, ao mesmo tempo que os Estados Unidos saem (ou são forçados a sair) do Oriente Médio – tanto por razões políticas quanto financeiras – ganham mais músculo na região da Ásia-Pacífico. Dada a relutância crescente dos EUA de se envolverem externamente e as suas necessidades urgentes de reduzir gastos, mesmo no terreno militar, será isto crível? Até agora, a “resposta” chinesa foi virtualmente uma não resposta, como que a dizer que o tempo está do lado da China, mesmo no que diz respeito às suas relações com os Estados Unidos, ou talvez especialmente no que diz respeito a estas relações.
 
Depois, há o Paquistão. Os Estados Unidos lançaram o desafio. O Paquistão tem de deixar de apoiar os seus movimentos islâmicos. Tem de parar de minar o governo de Karzai no Afeganistão. Tem de suspender as ameaças à Índia de empreender ações militares em Caxemira. Senão? Esse é o problema. Parece que, segundo fugas de informação, que os Estados Unidos esperavam que o seu último amigo no Paquistão, o atual presidente Asif Ali Zardari, demitisse o líder do Exército, general Ashfaq Parvez Kayani. Em resposta, o general Kayani manobrou para o presidente Zardari ir ao Dubai para tratamento médico. O golpe potencial apoiado pelos EUA fracassou. E se os Estados Unidos tentarem retaliar cortando apoio financeiro, há sempre a China para ocupar o seu lugar.
 
No Oriente Médio, o que quer o presidente Obama, acima de tudo, é que nada de dramático aconteça entre Israel e os palestinos até, pelo menos, ele ser reeleito. Isto não satisfaz verdadeiramente as necessidades da Arábia Saudita ou do primeiro-ministro Netanyahu em Israel. Por isso, ambos atuam de forma a pôr mais lenha na fogueira, do ponto de vista dos EUA. E os Estados Unidos foram relegados à posição de lhes fazerem pedidos, não de dar ordens ou de controlá-los.
 
Há também o Irã, supostamente a principal preocupação imediata dos Estados Unidos (como são a Arábia Saudita e Israel). Os Estados Unidos têm usado os seus drones mais supersecretos para espiar o país. Nada de surpreendente nisto, exceto pelo fato de um desses drones de alguma forma ter aterrado no Irã. Disse “aterrou”, porque a questão chave é saber porque e como aterrou. A CIA, responsável por ele, tentou sugerir de forma pouco convincente que houve alguma falha mecânica. Os iranianos deram a entender que derrubaram a aeronave com uma ação cibernética. Os Estados Unidos dizem “impossível” – mas Debka, a voz na internet dos falcões israelitas, diz que é verdade. Eu sou dos que acham que é provável. Além disso, agora que os iranianos têm o drone, estão a trabalhar para decifrar todos os seus segredos tecnológicos. Quem sabe? Podem publicar esses segredos, para conhecimento do mundo inteiro. Nesse caso, quão secretos serão os supersecretos drones?
 
Ah, sim, a Alemanha. Como todos sabem, há uma “crise” na zona euro. E a chanceler Merkel tem trabalhado duramente para que os países da zona euro comprem uma “solução” que funcione para Berlim, tanto politicamente, no interior da Alemanha, quanto economicamente na Europa. Ela tem pressionado a favor de um novo tratado que imponha sanções automáticas aos países da zona euro que violem as suas disposições. Os Estados Unidos achavam que esta era a abordagem errada. A posição da Casa Branca era de que se tratava de uma ação de médio prazo que não resolvia a situação de curto prazo. Obama despachou o seu secretário do Tesouro, Timothy Geithner, para a Europa, para insistir nas suas sugestões alternativas. Não interessam os detalhes, nem quem é mais sábio. O importante a ressaltar é que Geithner foi totalmente ignorado e os alemães seguiram o seu caminho.
 
Finalmente, os países da América Latina e do Caribe reuniram-se na Venezuela para fundar uma nova organização, a CELAC – a sigla de Comunidade dos Estados da América Latina e do Caribe. Todos os países da América entraram, exceto dois que não foram convidados – os Estados Unidos e o Canadá. A CELAC tem o objetivo de substituir a Organização dos Estados Americanos (OEA), que inclui os EUA e o Canadá, e suspendeu Cuba. Pode demorar algum tempo até que a OEA desapareça e só a CELAC permaneça. Mesmo assim, não é exatamente uma coisa que esteja a ser comemorada em Washington.
 
Tradução, revista pelo autor, por Luis Leiria para o Esquerda.net.
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