Honduras: o jogo vai para a prorrogação
Flávio Aguiar
Ahora es esta la batalla
Pa’que vuelva Manuel Zelaya
E parece que vai ter de chegar aos pênaltis. O governo golpista de Roberto Micheletti resolveu não ceder nem mesmo diante do acordo que fez com o governo norte-americano. Para este, fica a escolha entre ter encenado um acordo para também ganhar tempo e favorecer os golpistas, ou não ter forças para enfrentar uma situação política que vai embaraçar – embaçar – toda sua relação com a América Latina e prejudicar sua posição perante sua oposição interna.
Dia 29 deverão se realizar as eleições gerais em Honduras. Quase toda a América Latina, do México à Argentina e ao Chile, está comprometida com o não reconhecimento dessas eleições promovidas sob a égide do golpe. O presidente (deposto, suspenso) Manuel Zelaya chamou o boicote às urnas. O candidato de esquerda Carlos Reyes retirou sua candidatura; outros cinco candidatos continuam inscritos, entre eles os favoritos Porfírio Lobo Sosa, do Partido Nacional, e Elvin Santos, do Partido Liberal.
A situação internacional tornou-se mais complicada. Para a presidência do Conselho da União Européia elegeu-se no dia 19 de novembro o primeiro ministro belga, do Partido Democrata Cristão, Herman Van Rompuy. Ele assume no dia 1o. de janeiro de 2010, mas desde já isso significa uma inclinação mais para a direita. Se nenhum país reconheceu o governo de Micheletti, é possível que alguns venham a fazê-lo depois da eleição. Um indício disso é a posição dos dois partidos que compõem o atual governo alemão. O governo de Berlim, seguindo os demais da União Européia, não reconheceu o governo golpista. Mas em compensação, informações na imprensa local dizem que a União Democrata Cristã, partido da chanceler Ângela Merkel, apoiaria o Partido Nacional, enquanto o FDP, do ministro de Relações Exteriores, Guido Westerwelle, apoiaria o Partido Liberal.
Ainda é impossível dizer o que acontecerá. Tudo vai depender ainda do comparecimento às urnas, do desempenho das Forças Armadas, da possibilidade da Frente de Resistência contra o Golpe de Estado em Honduras, de que Carlos Reyes é líder, capitalizar o boicote. Certamente tudo vai depender também da até aqui mantida unidade de 99% dos governos da OEA contra os golpistas e contra a atitude complacente dos Estados Unidos. Quanto a este governo, a impressão que dá é a de não só estar enredado em suas contradições internas e confrontos externos (com o governo de Hugo Chávez, por exemplo), como a de estar disposto a sacrificar o futuro de suas relações na região por causa de suas lealdades do passado. Ou seja, o governo de Barck Obama pode estar muito bem dando um pequeno passo para o abismo em matéria de relações diplomáticas na América Latina enquanto olha no espelho retrovisor.
Quanto à direita latino-americana, esta almeja, evidentemente, o sucesso golpista.
Flávio Aguiar é correspondente internacional da Carta Maior.
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