Guerra no PSDB: para Serra, FHC é ´contrabando´


O Rodrigo Viana no seu blog  (acesse aqui) traz uma interessante análise da "guerra interna" que esta sendo travada nas ordas tucanas. Em mais um capítulo das dificuldades que a direita tem e terá para se posicionar com alguma chance para tentar recolocar o neoliberalismo no Palácio do Planalto.

Sou de um tempo em que o PT era apontado como o partido que perdia mais tempo em lutas internas do que no combate aos adversários. Acompanhei bem isso em 89/90/91, durante o mandato de Luiza Erundina na Prefeitura de São Paulo. As tendências petistas travavam um combate feroz, às vezes irracional... O que atrapalhou muito Erundina.
Pois bem. Hoje, é o PSDB quem vive situação parecida com a do PT de 20 anos atrás. Reparem bem. Só que a guerra tucana é surda, sem o debate público que caracterizava as disputas petistas. Mas é guerra do mesmo jeito.

Agora, assistimos a mais um capítulo. Em entrevista à radio Jovem Pan, Serra mostrou-se contrariado com a pesquisa CNT/Sensus que mostra o crescimento de Dilma. O governador paulista disse que a pergunta sobre a influência de FHC na eleição (tira votos de quem receber seu apoio) entrou como "contrabando" na pesquisa. O portal "Vermelho" traz um texto detalhado sobre isso - http://www.vermelho.org.br/noticia.php?id_noticia=120025&id_secao=1

Essa história de "contrabando" foi a maneira velada de Serra dizer a Aécio: "sei o que você está aprontando". E o que Aécio (que disputa a indicação presidencial dos tucanos com Serra) tem a ver com isso?

Ora, a pesquisa CNT/Sensus é patrocinada pela Confederação Nacional do Transporte, presidida pelo mineiro Clésio Andrade. Clésio foi  vice de Aécio no primeiro mandato à frente do governo de Minas. Clésio faz o jogo de Aécio. Na hora da divulgação dos números, Clésio fez questão de ressaltar que a proximidade com FHC pode atrapalhar Serra; já estaria tirando votos de Serra.

O governador paulista sabe bem o que os mineiros estão tramando.

Não foi o primeiro golpe contra Serra.

 Semana pasada, foi Cesar Maia (do aliado DEM) quem chamou Serra de "caudilho", e deu a entender que Aécio é melhor candidato.

A movimentação de Aécio também incluiu o encontro com Ciro - numa tentativa de encurralar Serra. Ciro deixou claro que fecha com Aécio.

A pesquisa, a crítica de Cesar e o encontro com Ciro mostram que Aécio entrou firme no jogo.

Serra não vai assistir a isso tudo calado. Podem esperar que o troco virá. Serra já usou jornalistas para mandar recados sobre a vida - digamos - desregrada de Aécio. O que mais virá?

Isso  tudo seria apenas um capítulo menos importante da eleição, não fosse um detalhe: Serra, sem o apoio mineiro, não ganha a eleição. Dilma terá vantagem no Norte/Nordeste, e provavelmente no Rio. No Sul e em São Paulo, Serra deve levar vantagem (ainda que no Rio Grande do Sul a situação tucana seja dramática, por conta do desgoverno de Yeda). Resta Minas.

Se Aécio sair a senador, e encostar o corpo, Serra está frito. Que vantagem Aécio teria numa vitória tucana? Nenhuma.... Com Dilma no Planalto, dependendo da correlação de forças, Aécio pode ser o líder da oposição no Congresso. Ou até o presidente do Senado - num quadro de "pacificação" entre tucanos e petistas...

Da mesma forma, se Serra desistir, dificilmente fará campanha aberta por Aécio. O que ganharia com isso? Aécio presidente teria a chance de se recandidatar em 2014 - quando Serra estaria encerrando o segundo mandato de governador em São Paulo. Serra pode preferir uma vitória de Dilma. Se a petista for mal na presidência, ele (Serra) ganha a chance de concorrer pela oposição em 2014.

O xadrez tucano é complicado: as arestas se avolumam entre Serra e Aécio, FHC é um peso morto a se carregar, e  Lula é um presidente popular depois de 7 anos de poder.

Diante desse quadro, resta a Serra falar besteira, como: "a economia não vai decidir a eleição" (ele disse isso na entrevista à "Jovem Pan").

A economia não vai decidir? O Brasil estará crescendo perto de 6% a 7% na véspera do pleito ano que vem. Dilma vai crescer junto.

Se a economia não vai decidir, o que vai decidir? FHC? Coitado: o príncipe dos sociólogos hoje é visto como "contrabando" em pesquisa...

E, para azar dos tucanos, além de tudo, o PT já não briga tanto. Enquanto a oposição erra, vacila e se perde, Lula atua como o general que conduz suas tropas sem desperdiçar energias.

Será que alguém pode explicar ao Serra o que vai decidir a eleição: "é o Lula, estúpido!".

Nenhum comentário: