Como Alckmin e Serra destruíram a TV Cultura



Considerada por décadas como o exemplo mais bem-sucedido de emissora pública com programação de qualidade no Brasil, a TV Cultura está à beira do colapso. Sua média de audiência atual é a mais baixa da história — corresponde a 0,8 ponto, o equivalente a apenas 47,2 mil domicílios.
O "traço" de audiência se reflete na arrecadação da emissora. Em maio, sete meses após a eleição do ex-secretário de Cultura João Sayad como presidente da Fundação Padre Anchieta, a receita obtida foi 58% menor que o previsto. Em 12 meses, período em que cortou 993 vagas (46% dos funcionários fixos), a Cultura perdeu 27% de sua audiência média.

Não é uma crise atípica. A destruição da TV Cultura é uma política deliberada do PSDB — partido que administra há 16 anos o governo paulista, responsável pela emissora. O esvaziamento do canal teve início nas gestões de Geraldo Alckmin (2001-2006), ganhou forte impulso no governo Serra (2007-2010) e atinge agora seu auge, com o retorno de Alckmin ao Palácio dos Bandeirantes.

Esse cenário pessimista não é uma visão externa dos rumos da fundação. Trata-se de relatório interno produzido para exame da direção e do Conselho Curador. O documento pinta um retrato pouco animador da atual gestão.

Historicamente, as audiências da Cultura eram baixas, mas nunca chegaram a tal patamar. Raros programas ultrapassam 1 ponto de audiência (share de 1,8). A queda média de audiência é de 26% em um ano. A Cultura ficou 21 dias no penúltimo lugar e dez dias no último na Grande São Paulo em maio, alternando-se com a TV Gazeta.

Todos os indicadores do relatório são negativos. A meta de arrecadação de fontes externas, em maio, era de R$ 4,7 milhões, e a emissora conseguiu levantar R$ 1,99 milhões. O governo investe R$ 84 milhões na Cultura. Ao assumir, Sayad adotou uma linha de ação neoliberal. Sua estratégia era enxugar custos e manter o equilíbrio das contas com corte de pessoal.

"Mas corremos o risco de a TV não aguentar esse processo. É impossível de sustentar", admite um conselheiro, que prefere não se identificar. "Embora haja corte brutal de funcionários, há um aumento inexplicável de despesa com funcionários afastados."

O estudo aponta que 22 funcionários recebem pela emissora para, na verdade, atuarem na Secretaria de Estado da Cultura. Dividindo-se o valor pago mensalmente pelo número de empregados, chega-se a salários mensais de R$ 13 mil — certamente, funcionários da cúpula da secretaria. No Conselho, que antigamente não tinha remuneração, dois funcionários recebem R$ 45 mil.

Disputa

Os problemas de gestão da TV Cultura expõem com nitidez as divergências internas do PSDB. Em cinco anos, a emissora teve três presidentes, cada um ligado a um governador. Marcos Mendonça, no período 2004-2007, começou o mandato no governo Geraldo Alckmin, mas teve de sair por exigência de José Serra.

O tucano escolheu como substituto o jornalista Paulo Markun, que o desagradou progressivamente, por não conseguir "enxugar" a televisão no ritmo almejado. Ao deixar o governo para disputar as eleições, em 2010, Serra obrigou o sucessor, Alberto Goldman, a apoiar a eleição do então secretário de Cultura, João Sayad, para o comando. Mas o custo político que o desmonte da Cultura traz já desagrada Alckmin.

Com informações do Vermelho.
.

Nenhum comentário: