Por Flávio Aguiar
Pois é, Manuel Zelaya voltou a Honduras. Foi recebido entusiasticamente no aeroporto por seus correligionários. Pediu à OEA que reintegre o país a seu conselho. Fechou um acordo político com o atual presidente Porfírio "Pepe" Lobo, que lhe abre campo para uma intensa participação política. Vai tudo de vento em popa.
Outro aspecto mais que interessante da notícia é que esse acordo foi firmado sob o co-patrocínio de Hugo Chavez e Juan Manuel Santos, presidentes respectivamente da Venezuela e da Colômbia, países que há pouco tempo pareciam estar prestes a entrar em guerra. "Notícias alvissareiras", como escrevia há tempos o finado João Amazonas, embora sobre outros temas.
Segundo o Estadão, a volta de Zelaya teve direito até a uma serenata internacional em sua casa, com o Ministro de Relações Exteriores da Venezuela e uma ex-senadora colombiana cantando juntos "Perfidia". Discreto, como sempre, o assessor especial da Presidência da República brasileira, Marco Aurélio Garcia, acompanhou tudo de perto. Não duvido (embora não tenha informação precisa) de que até a serenata.
Maravilha.
Enquanto isso, mais uma vez a direita brasileira ficou chupando dedo. Ou a ver navios. Porque o Brasil estava certo. Mais e menos do que apoiar Zelaya, o Brasil se recusou a ser cúmplice de um golpe de estado, como queria a nossa direita. E depois se recusou a apoiar uma situação "de facto" que o excluía da nova agenda política hondurenha, como queriam os Estados Unidos (que, é verdade, não patrcinaram nem apoiaram o golpe que o derrubou).
Em suma, a diplomacia brasileira venceu a tradição norte-americana na OEA e fora dela. Além de ter razão, a política externa brasileira ganhou a mão na mesa de cartas. E (re)afirmou sua liderança que, nessa altura, já não é apenas regional.
Mas tudo isso é um mundo impenetrável para a direita brasileira, para seus políticos, seus arautos na mídia e também seus formuladores de alternativas para a política externa bem sucedida do país.
É verdade que tenho uma visão externa do debate político brasileiro. Mas assim, vendo de longe, a impressão que se tem é que a direita brasileira, em grande parte, continua apostando todas as suas fichas em... derrotar Lula! A derrota em 2002 lhes foi uma surpresa dolorosa; a de 2006, outra surpresa, mais dolorosa ainda; e a de 2010, para Dilma, dolorosíssima.
Inicialmente sem candidato (liderança) viável depois da eleição, a direita brasileira concentrou-se em fazer... Dilma derrotar Lula! E um dos trunfos dessa "derrota" seria uma "guinada" na política externa. A de Lula seria "ideológica", "terceiro mundista", "infantil". A de Dilma seria "pragmática", "aberta", "responsável", etc. Lula seria um "falastrão demagógico"; Dilma, seria "técnica e sóbria", e por aí vai.
Agora, ao mesmo tempo em que o PSDB tenta acomodar seus ego-melancias em seu caminhão apertado, o conjunto da direita tenta fazer com que a sombra de Palocci (que, de fato, é um personagem complicado) derrote ambos, Dilma e Lula. E já há quem aponte que quem orquestra a defesa de Palocci é Lula, em detrimento de Dilma. Haja futrica!
Do outro lado do oceano e em outro hemisfério, Obama se precocupa em reafirmar a liderança dos EUA e da Europa (e também sua possível liderança na reeleição) diante da emergência dos BRICS, e ainda, de quebra, afirma que o sucesso de países como o Brasil vem da assunção de valores ocidentais em sua economia e em sua política. Discussões possíveis à parte, esse é um reconhecimento insuspeito de como as coisas estão mudando de lugar no mundo.
Mas para a direita brasileira o mais importante é ficar discutindo se o livro do MEC defende que se fale errado o português ou não (para quem leu as passagens a respeito fica evidente o absurdo desse comentário da direita), quando o português do Brasil está em clara ascenção de procura na Europa e no resto do mundo.
Pode parecer paradoxal, mas penso que nós, brasileiros, todos os brasileiros, merecíamos uma direita melhor. Menos provinciana, menos paroquial, menos anacrônica, menos tacanha. Refinaria o debate da esquerda. E não nos daria vergonha fora do país.
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