Sem Fogaça, Serra se irrita com perguntas sobre Paulo Preto


Serra tentou levar o apoio do candidato derrotado ao governo do RS, José Fogaça, não conseguiu e teve que se contentar com sua velha amiga, a futura ex-governadora Yeda Crusius.

Do Vermelho

O candidato do PSDB à Presidência, José Serra, criticou ontem a imprensa e acusou o jornal "Valor Econômico" de atuar em favor da adversária Dilma Rousseff (PT). Por duas vezes, o tucano ignorou perguntas de jornalistas sobre a acusação de desvio de R$ 4 milhões de reais da sua campanha pelo ex-diretor da Dersa (estatal responsável pelas obras viárias em São Paulo), Paulo Viera de Souza, conhecido como Paulo Preto, afirmando que eram "pauta petista".
O candidato do PSDB à Presidência da República, José Serra, esteve ontem em Porto Alegre para reunir-se em um hotel com aliados locais. O tucano tenta reverter a desvantagem de 400 mil votos no Rio Grande do Sul registrada no primeiro turno em relação à adversária Dilma Rousseff, do PT, que somou 3 milhões de votos no Estado.

Liberdade de imprensa
Em entrevista a veículos de comunicação, o tucano afirmou que a "liberdade de imprensa" é "indispensável" para a democracia. "Às vezes eu reclamo da imprensa, de notícia errada, de tendenciosidade. Mas vou lutar até a morte para defender que eles sejam livres naquilo que dizem".

Entretanto, no fim da tumultuada entrevista coletiva que se seguiu aos discursos, o candidato esquivou-se diversas vezes de responder a perguntas dos jornalistas sobre o ex-diretor da Dersa (estatal responsável pelas obras viárias em São Paulo), Paulo Viera de Souza, conhecido como Paulo Preto, que teria desviado R$ 4 milhões da campanha do tucano. Ele limitou-se a afirmar: "Isso é pauta petista. Só isso".

Sem Fogaça, com muito estresse
Do hotel, localizado no centro da cidade, Serra foi para um encontro com o ex-candidato do PMDB ao governo gaúcho, José Fogaça, que somou 24,7% dos votos no primeiro turno no Estado, contra 54,3% de Genro. No fim, o pemedebista, que se manteve neutro no primeiro turno da eleição presidencial, disse que só se manifestaria sobre um eventual apoio no segundo turno depois da reunião convocada para hoje pelo diretório estadual para decidir a questão.

Na saída, Serra negou-se novamente a responder sobre as supostas irregularidades envolvendo o ex-assessor e travou o seguinte diálogo com o correspondente do Valor no Rio Grande do Sul:

Valor: O senhor não vai mais comentar a questão do Paulo Preto?
José Serra: Não tem o que comentar.

Valor: Mas primeiro o senhor disse que não o conhecia e depois...
Serra: Eu considero em primeiro lugar... Você é de onde?

Valor: Do Valor Econômico
Serra: Sei. Eu considero, em primeiro lugar, um preconceito odiento (sic) o fato de se referirem a uma pessoa com esse apelido. Quando me disseram por esse apelido eu disse: eu não conheço. Eu não traio, não tenho preconceito racial que está envolvido na sua pergunta, está envolvido em muito do que se fala.

Valor: Mas é como ele é conhecido.
Serra: Envolve um preconceito racial. Segundo, não tem nada para comentar exceto a pauta petista feita. Não houve desvio de dinheiro na minha campanha nenhum. A Dilma está preocupada com desvio de dinheiro na minha campanha, que não aconteceu. Já eu estou preocupado com o desvio de dinheiro feito na Casa Civil. Tá certo? Eu sei que no caso, vocês [dirigindo-se ao correspondente do Valor] não têm interesse na Casa Civil, naquilo foi desviado etc. Seu jornal pelo menos não tem. Agora, no nosso caso, nós temos. E o resto é factóide petista.

Serra arrematou, dizendo: "o seu jornal faz manchete para o PT colocar no horário eleitoral".

Segundo reportagem da revista "IstoÉ", que foi usada por Dilma no último debate, o engenheiro "fugiu" com R$ 4 milhões arrecadados extraoficialmente com empreiteiras -ele era responsável pelo controle das maiores obras viárias de São Paulo.

Resposta enviesada
"Eu sei que, no caso, vocês não têm interesse na Casa Civil, naquilo que foi desviado. Seu jornal, pelo menos, não tem. Agora, no nosso caso, nós temos. O resto é factóide petista", disse José Serra.

A resposta de Serra, ao criticar o "Valor", não se referia, no entanto, a Paulo Preto. Fazia menção implícita a uma entrevista com David Zylbersztajn, diretor da ANP (Agência Nacional do Petróleo) no governo FHC, na qual falou sobre sua visão do modelo de concessão do pré-sal. Dilma disse no debate que Zylbersztajn, chamado de "principal assessor energético" de Serra, é a favor da "privatização do pré-sal".

Diretora do Valor critica postura de Serra
A diretora de Redação do "Valor", Vera Brandimarte, lamentou as declarações. "O jornalista [Sérgio Bueno] só estava fazendo o trabalho dele, que é perguntar. Todos os candidatos devem estar dispostos a responder questões, mesmo sobre temas que não lhes agradem", disse.
"É lamentável que diante de uma pergunta que não o agradou, o candidato José Serra tenha reagido de forma explosiva, atacando o jornal, ou mesmo o jornalista", afirmou Brandimarte.

Em Rio Grande (RS), o tucano negou ter recebido um e-mail com reclamações contra Paulo Preto. A Folha revelou ontem que, em novembro de 2009, o então vice-governador Alberto Goldman (PSDB) mandou um e-mail a Serra criticando a atitude "arrogante" e "vaidosa" de Paulo Preto.

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