Tariq Ali e o exemplo do jornalista de Israel


Em tempos em que vemos uma imprensa cada vez mais comprometida com os interesses dos poderosos e do capital, em que no Brasil ela já mal consegue disfarçar os seus interesses e opções políticas, já esboçando uma antecipação do debate eleitoral e buscando influir diretamente no resultado. E onde uma parcela significativa dos profissionais do jornalismo se submetem de forma subserviente e acovardada aos interesses dos seus patrões, um belo exemplo que foge por completo a esta lógica nos é dado por Tariq Ali, escritor paquistanês, a respeito de um caso ocorrido em 2003 em Israel, que está no bom livro Imperialismo & Resistência e que poderia servir de exemplo para os nossos jornalistas daqui.

"Em setembro de 2003, mais de 25 pilotos israelenses assinaram um documento público anunciando que se recusavam a bombardear cidades e vilas palestinas. (...) Eles foram denunciados e severamente atacados por políticos e pela imprensa. Isto deixou furiosos alguns jornalistas liberais em Israel. Um deles, Yehuda Nuriel, publicou um artigo em um semanário de Tel Aviv, Maariv, jornal tablóide diário, atacando os pilotos e defendendo o governo de Israel; ele assinou o artigo com um nome falso, A. Schicklgruber, que era o verdadeiro nome de Hitler. Ninguém no jornal sabia disso. Sob o nome de A. Schicklgruber, ele criticou os pilotos pelo que estavam fazendo, mas o artigoo como um todo - cada uma das frases - foi tirado do Mein Kampf e dos discursos de Hitler. Esse artigo foi impresso, e os editores não se incomodaram com seu conteúdo - até que alguém com memória histórica disse: Ai, meu Deus. Schicklgruber não é um velho judeu em Jerusalém. É o verdadeiro nome de Adolf Hitler. Nuriel foi demitido, claro. Mas o fato de um jrnalista israelense ter tido coragem de fazer isso é extraordinário. Como eu costumo dizer a jornalistas da grande imprensa dos Estados Unidos e da Europa: Siga o exemplo de alguns dos seus colegas israelenses. Eles são mais corajosos do que vocês."

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