Ibope, Globo, Folha: a metodologia do golpismo


Desde as eleições presidenciais de 1989, os "magos" de institutos de pesquisa são tratados pela grande imprensa como grãos-senhores da opinião pública, cientistas políticos dotados do preceito positivista da infalibilidade. Era de se esperar que os especialistas adulados soubessem que cair no canto da sereia midiática pode conduzir suas naus à boca do Adamastor ou espalhar-se no invisível Cabo das Tormentas.

A entrevista concedida pelo presidente do Ibope Carlos Augusto Montenegro à revista Veja (edição 2127, de 26/8/2009) bate de frente com o rochedo da verdade, lançando uma nuvem de suspeita sobre os rigores científicos de futuras pesquisas, seus modelos matemáticos e estatísticos.

Ao afirmar que "sem o surgimento de novas lideranças no PT e com a derrocada de seus principais quadros, o presidente se empenhou em criar um candidato, que é a Dilma Rousseff. Mas isso ocorreu de maneira muito artificial. Ela nunca disputou uma eleição, não tem carisma, jogo de cintura nem simpatia", Montenegro incorreu em erro primário. Ou o narcisismo excedeu os limites toleráveis, ou a má-fé já não se preocupa em vestir disfarces.

Um "pesquiseiro" pode ter uma expectativa a priori sobre os resultados (ou ninguém testaria hipóteses) e expô-la ao cliente – confidencialmente. Até deve, se achar que não é recomendável gastar tempo, dinheiro e esforço com pesquisa redundante. Mas não é disso que tratamos. É de coisa bem distinta. É do que diz o presidente de uma instituição com conhecidos vínculos com corporações midiáticas a uma revista que não esconde o protofascismo de sua linha editorial.

Dados, só com sondagem realizada

Ao emitir juízo de valor sobre a ministra Dilma que, apesar das evidências, ainda não confirmou sua pré-candidatura, o analista incorreu em duplo erro: ético e metodológico. Quando diz que Dilma não dispõe de carisma, simpatia ou jogo de cintura, Montenegro parece ter se esquecido que sua empresa vai ser solicitada a fazer pesquisa de opinião sobre o objeto dos comentários. Suas afirmações podem criar uma pré-percepção de predisposição. O que, convenhamos, é um desastre para a credibilidade do grupo que preside.

Em outro trecho, quando perguntado pelo jornalista Alexandre Oltramari sobre as possibilidades das candidaturas aventadas até o momento, o economista, habituado a realizar pesquisas em diversos setores, vaticina: "Faltando um ano para as eleições, o governador de São Paulo, José Serra, lidera as pesquisas. Ele tem cerca de 40% das intenções de voto. Em 1998, também faltando um ano para a eleição, o líder de então, Fernando Henrique Cardoso, ganhou. Em 2002, também um ano antes, Lula liderava – e venceu. O mesmo aconteceu em 2006."

Lorota. Em 1994, pesquisa sobre intenção de voto do Datafolha dava 41% para Lula contra 19% para FHC. O tucano ganhou o pleito no primeiro turno. Em 1998 e 2006 tivemos reeleições e os favoritos eram os candidatos a elas, respectivamente FHC forte (cf. "estelionato cambial") e Lula, se não diretamente enfraquecido, pelo menos alvejado pelo "mensalão". Coisa bem diferente de agora.

Montenegro deveria saber que só tem que apresentar dados em cima de um parecer quantitativo que foi extraído de sondagem efetivamente realizada. Do contrário, como faz nessa entrevista, parece querer induzir futura pesquisa ou dar uma opinião pessoal, já dizendo, mesmo antes de fazê-la, qual vai ser o resultado. Conspiracionismos à parte, algo soou estranho nas "amarelinhas" da revista dos Civita.

Uma notinha indispensável
Nossa grande imprensa progride. Já havia abandonado a verdade factual para fazer campanha. Agora, faz pouco da verdade textual também.

A Folha de S.Paulo ("Apoio de petistas a Sarney é insustentável, diz Marina", 23/08, página A4) falseia (deliberadamente?) as palavras da senadora Marina Silva.

Diz o texto de Marta Salomon: "[Marina Silva] lançou mão de personagens da Bíblia para comparar a candidatura Dilma Rousseff e uma candidadtura pelo PV à luta entre o gigante Golias e Davi." Diz a senadora: "(...) não imagino que a candidatura do PT é Golias e nem tenho a pretensão de ser o Davi (...)." Portanto, e ao contrário do afirmado no texto redacional, a senadora "lança mão de personagens da Bíblia" para expor como descabida tal comparação.

O Globo já foi obrigado, no sábado [22/8], a se retratar pela manchete falsa da véspera, denunciada pela senadora no plenário do Senado, com transmissão ao vivo pela emissora da Casa. A Folha, que tem por política não se retratar de falsidades, vai esperar também ser – merecidamente – denunciada de público?

A profissão de fé jornalística nunca esteve tão em alta.

Artigo publicado originalmente no Observatório da Imprensa.

5 comentários:

Carlos Eduardo da Maia disse...

Por que motivos, Erick, o governo do PT está querendo deixar de fiscalizar os grandes sonegadores, como está dito na carta dos demissionários da receita federal, inclusive o superintendente do RS? Por que será? É que o PT está fazendo de tudo, o certo e o errado, para permanecer no poder. E acho, sinceramente, que a Dilma não vai além. Ela não tem carisma, ela nunca foi eleita pelo voto popular para nenhum cargo, ela não é simpática e gosta de uma mentira. O Serra também não tem lá muito carisma, mas é um sujeito preparado. Eu não tenho dúvida nenhuma que a classe média brasileira vai de Serra. Mas isso não significa que o voto da classe média tenha condições de ganhar eleição no complicado e distorcido Brasil.

José Renato Moura disse...

Olá Erik. Sou leitor assíduo do Aldeia Gaulesa. E também fã do Asterix, Obelix e Ideiafix.
Quero te convidar a dar uma visitada no meu blog: www.joserenatomoura.blogspot.com.
Agora, estamos envolvidos na luta contra a privatização da água em São Luiz Gonzaga. E tá difícil.

Miguel Graziottin disse...

Triste este Maia, primeiro que o ex secretario da receita federal Everardo maciel já destruiu esta falacia sobre a receita. E segundo, mentirosa até agora foi Lina. este lacaio dos facistas tenta colocar a pecha de mentirosa em Dilma. Calma ,meu caro , não é porque seus donos querem isto que isto virará verdade..
Alias de mentira, Serra e sua laia sabem muito bem.
www.miguelgrazziotinonline.blogspot.com

Carlos Eduardo da Maia disse...

Miguel, por que motivos tanto funcionário de carreira da REceita FEderal se demitiu? Não lembro de algo parecido ter acontecido antes? Por que será que eles pediram demissão, inclusive o pessoal do RS? Sabe por que? Porque o governo do PT quer sim politizar um órgão que é absolutamente técnico. E isso não se pode fazer.

ERick disse...

Engraçado que no programa Entre Aspas", da Globonews, o ex-secretário da Receita Federal (no governo FHC), Everardo Maciel diz que a politização ocorreu com Lina e que agora não há ingerência política, porque é atribuição do Ministro definir o Secretário.
E ele não é do PT como tu bens deve saber...