Oportunismo na libertação de Ingrid Betancourt

A notícia da libertação de Ingrid Betancourt, refém há 6 anos das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc) virou manchete em todos os cantos. E o que mais incomoda a qualquer leitor/telespectador com um pouco de senso crítico é a forma instrumental com que tem se dado esta cobertura.
Um exemplo grotesco disto foi a cobertura do Jornal da Globo ontem a noite. Era explicito a tentativa de utilizar este fato como forma de generalizar um ataque as esquerdas como um todo. Não sobrou nem para Marx, que foi objeto de chacotas pelo sempre "brilhante" Arnaldo Jabor.
A agência Adial, nos traz elementos que ajudam a encontrar elementos encobertos por esta cobertura sensacionalista dos grandes meios de comunicação.
"Há fatos dando conta de que o mérito não é somente do governo colombiano, contrariamente ao que afirma o ministro de Defesa colombiano, Juan Manuel Santos. O ministro chamou o resgate de uma brilhante operação de inteligência militar. De acordo com reportagens da imprensa mundial, dois delegados europeus estiveram envolvidos nas negociações com as Farcs, o francês Noel Sáez e o suíço Jean Pierre Gontard.
Segundo as informações, as Farcs já haviam expressado a intenção de libertar os reféns e o governo colombiano havia autorizado os contatos. O jornal francês Le Figaro divulgou que os emissários europeus haviam se reunido no domingo ou na segunda dessa semana na selva colombiana com uma pessoa próxima ao novo chefe da guerrilha, Alfonso Cano.
Segundo fontes do governo colombiano, o resgate foi realizado em uma zona de florestas do departamento de Guaviere, no sudoeste da Colômbia. Para a Agência de Notícias Nova Colômbia (ANNCOL), muitas sombras ainda rodeiam a explicação de como tudo aconteceu. A Agência ressalta que nenhum comunicado oficial foi enviado pelas Farcs.
"É necessário nesses momentos convocar a oligarquia colombiana a não se embriagar falsamente com um ‘triunfo’ que em nenhum momento é deles e a não acreditar que podem impor o que querem ao povo colombiano. Não. Agora mais do que nunca nossa convocação a partir de ANNCOL é a de ter os pés sobre a terra e pensar com cabeça fria", afirma um comunicado da Agência, que com freqüência repassa os informes e comunicados oficiais do grupo insurgente.
A Agencia pede que governo e guerrilha não joguem fora uma oportunidade histórica: "A uns que não se fechem à eventualidade de mudanças que cedo ou tarde terão que ser realizadas - que sabemos que em seu maior desejo e na eventualidade que o ‘outro’ assim o queira-, e aos outros a não impossibilitar as mudanças na vida nacional que nos levem a uma saída política ao conflito social e armado interno que sofremos, apesar de que na administração de Bogotá não de pode confiar".

O analista internacional e ex-professor da London School of Economics (LSE), Isaac Bigio, em análise realizada especialmente para Analisis Global/BR Press, afirmou que o resgate pode beneficiar o presidente colombiano Álvaro Uribe nos problemas que enfrenta com a Corte Suprema do país. A Corte questiona a "ilegalidade" da eleição de Uribe pelo fato de 20% de seus congressistas estarem ligados ao paramilitarismo." A íntegra da matéria pode ser conferida aqui

Veremos como se desenrolaram os fatos na conturbada conjuntura política colombiana, mas fato é que, a imprensa e a direita internacional tentarão fazer o uso mais oportunista possível neste fato. O nosso dever será o de não aceitar as "falsas verdades" que se vincularão.

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