Hackers divulgam dados de 50 mil PMs do RJ. Qual o limite ético do ativismo digital?


Por Erick da Silva

Na última quinta-feira (12), hackers invadiram o site da Polícia Militar do Rio de Janeiro (PMERJ) e divulgaram os dados pessoais de mais de 50 mil policiais.O arquivo foi disponibilizado para download e distribuídos em 8.900 páginas.

A PMERJ só conseguiu tirar do ar o link para download na tarde de sábado (14). Os que baixaram o arquivo possuem o e-mail, telefone, endereço e CPF dos policiais. Agora, a Delegacia de Repressão a Crimes por Informática quer saber quem foram os autores da divulgação destes dados.

A PM vem sendo criticada pela violência empregada durante as manifestações que ocorrem no RJ desde junho. Não são raros os casos de abuso de violência e detenções arbitrárias, entre outras infrações e crimes cometidos durante os protestos. O grupo que invadiu o site da PMERJ avisou que novas ações serão feitas. Diversos grupos de apoio as manifestações já reivindicaram a autoria do hackeamento.

Qual o limite ético?

No entanto, esta ação expõe um problema de natureza mais profunda: Qual o limite ético que separa um ativismo digital transformador de uma mera delinquência? É correto expor dados pessoais de 50 mil trabalhadores da segurança pública do RJ? Seriam todos estas 50 mil pessoas responsáveis, por exemplo, por ações de violação dos direitos humanos? Por eles trabalharem com a segurança pública, ao serem expostos dados como o endereço dos policiais, não poderiam estar sendo colocados em uma situação de risco?

A PM é uma estrutura extremamente hierarquizada, pouco democrática, onde as decisões são tomadas por uma cúpula de segurança que, via de regra, não conta com espaços de participação dos policiais da "ponta". Seguramente, não são todos os 50 mil PMs que tiveram os seus dados pessoais divulgados, defensores da política de segurança do governo Sérgio Cabral.

Uma ação como esta, que pouco ou nada afetará as decisões da cúpula da segurança, mas que pode afetar a vida de 50 mil pessoas é algo, no mínimo questionável. Os hacktivistas que divulgaram estes dados deveriam recordar o lema Cypherpunks: “Privacidade para os fracos, transparência para os poderosos.” Ativismo político sem estratégia, sem refletir sobre as consequências, leva a erros que podem ser fatais. Fica o convite a reflexão.
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