Após cortar laços das comunidades, serra árvores do centro de Porto Alegre
Por Everton Rodrigues
Colaboração de Valdirene Corrêa e Carlos Zezo.
Ontem (7 de janeiro de 2013), cerca de 500 manifestantes de todas as idades, de diferentes culturas políticas organizativas e causas, reuniram-se em frente à Usina do Gasômetro para protestar contra o prefeito José Fortunati e suas motosserras.
Na quarta-feira (6 de janeiro), as máquinas da destruição derrubaram 14 árvores da Praça Júlio Mesquita em frente à Usina do Gasômetro, que segundo a declaração do prefeito, a população não utilizava. Tal ação se justifica pela implantação das obras para a Copa do Mundo de 2014. Imediatamente, alguns jovens subiram nas árvores para impedir a continuidade da derrubada. Outros fizeram a devida cobertura digital, que desencadeou o início de uma rede viral. No início da noite do mesmo dia 6, um evento no facebook já havia sido criado e chamava para um protesto no dia seguinte. Por volta da meia noite, 400 pessoas haviam confirmado presença. Às 17h de quinta-feira (7), 24h após o início da mobilização, mil pessoas confirmaram presença. 20 mil pessoas foram convidadas, 1000 confirmaram presença e 500 compareceram na manifestação em apenas 24h de mobilização. Isto é trabalho em rede. Isto é colaboração.
Mas, as motosserras e outras máquinas de destruir do prefeito de Porto Alegre já estão ligadas faz muito tempo e não param. As máquinas foram carregadas até muito perto do Estádio Beira-Rio, onde acontecerão os jogos da Copa do Mundo de 2014, próximo ainda do Barra Shopping Sul, o maior da América Latina, onde estão localizados os bairros Cruzeiro, Morro Santa Tereza e Cristal.
Nestes três bairros existem diversas comunidades já estabelecidas há muito tempo. Em função da Copa 2014 acontecer no estádio já citado, as grandes empresas do setor imobiliário atentaram para as altas cifras de lucros que podem obter, caso a prefeitura consiga fazer uma “limpeza da pobreza” na região e, assim, todos os terrenos sejam liberados para a guerra da especulação imobiliária.
As máquinas da guerra imobiliária utilizadas pelo Prefeito José Fortunati, já derrubaram e/ou danificaram residências, mataram trabalhadores, lideranças foram compradas com falsas promessas e moradores iludidos por perspectivas sem futuro e todos e todas sendo expulsos para fora de Porto Alegre.
Informações sobre tais afirmações:
1) http://www.apublica.org: Em Porto Alegre, 1.400 famílias que vivem na rota das obras da Copa exigem contrapartida clara do governo para desocupar suas casas
2) http://www.sul21.com.br: Casas são atingidas por máquina do DMAE na zona sul de Porto Alegre
4) http://rsurgente.opsblog.org: A Copa de 2014 e um conflito anunciado no bairro Cristal, em Porto Alegre
O pior de tudo são os laços sociais, culturais e afetivos entre moradores construídos ao longo dos anos, que também estão sendo cortados e serrados. Com isso, muros entre essas relações são erguidos gerados pela distância que as políticas focadas nos grandes empreendimentos estão sendo implementadas.
Por isso, o prefeito e suas máquinas estão criando riscos a toda população de Porto Alegre, porque fomentam conflitos desnecessários nas comunidades.
Pessoas simples que não compreendem o que está em jogo, caem no erro de aceitar 54 mil reais de bônus moradia, com os quais não conseguem comprar qualquer terreno ou imóvel na cidade, ou aceitar ficar em casas de passagem e que, com o tempo, a prefeitura determina a expulsão dessas famílias, justamente por não ter qualquer projeto de moradia na cidade.
Agora, as máquinas chegaram ao centro da cidade onde a visibilidade é grande. O prefeito pensou que mexer com um símbolo da cultura Portoalegrense, a Usina do Gasômetro, passaria facilmente despercebido. Mas, jovens ativistas, organizações ambientalistas, militantes de movimentos sociais, vereadoras e vereadores, mostraram que podem trabalhar em rede por uma causa maior.
E foi o que aconteceu. Uma manifestação pacífica, criativa, em rede, alegre, com sorrisos e risadas que trouxe à tona uma prática impositiva por parte da prefeitura, que nunca esteve aberta ao diálogo.
Uma manifestação poética registrada em vídeos e fotos ao som do canto, som do violão e tambores, misturado com o visual dos movimentos acrobáticos de artistas circenses penduradas nas árvores que sobraram.

Foto: Outro Jó (Epíntula)
Assim, continuou a caminhada do Gasômetro, passando pela Esquina Democrática, onde foi simbolicamente construída uma árvore com os destroços das árvores cortadas, e os galhos restantes dessa ação criminosa foram deixados em frente à prefeitura. Cabe destacar que, a manifestação, ao passar pela Rua dos Andradas, era aplaudida pela população que legitimava a ação.
Entretanto, a mobilização precisa continuar e é necessário dar um passo adiante. É preciso que este movimento de ontem junte-se com outros movimentos da cidade num debate que busque alternativas para combater esta forma destrutiva de tentar construir a Copa do Mundo em Porto Alegre, somando forças e propondo e concretizando a ideia de que “uma outra #Copa2014 é possível”.
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