A morte em vida de FHC



Por Walter Pinheiro

Ao agradecer a homenagem que recebia no Senado em comemoração ao seu 80º aniversário, na semana passada, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso afirmou a certa altura que se sentia como se tivesse morrido, pois no Brasil, segundo ele, só se faz festa para quem já saiu desta vida para outra.

Se morto está o ex-presidente é para o PSDB, seu filho ingrato. O partido fundado por Fernando Henrique o enterrou antes mesmo de ele deixar o Palácio do Planalto, em janeiro de 2003. Foi durante a campanha eleitoral de 2002, vencida pelo ex-presidente Lula, quando o então candidato José Serra ignorou FHC solenemente.

Mas esta não seria a única vez. Toda a obra de FHC nos oito anos dos seus dois mandatos, e mais no tempo de ministro da Fazenda do presidente Itamar Franco, quando implantou o Plano Real, foi primeiro ignorada por Serra em 2002, depois por Geraldo Alckmin, em 2006, e novamente por Serra, em 2010.

Como Pedro fez a Cristo, o PSDB negou Fernando Henrique por três vezes.

Duas vezes ministro de FHC, Serra apresentou-se à sua sucessão com o equivocado discurso de “candidato da mudança”, sem nenhuma sintonia com o eleitor, àquela altura frustrado com o estelionato eleitoral da estabilização que reelegera Fernando Henrique.

Tentando se descolar de FHC, o candidato Serra negou responsabilidade com as privatizações, embora tivesse comandado o Ministério do Planejamento. Negou também culpa na epidemia de dengue que assolava o país, mesmo tendo dispensado, quando ministro da Saúde, 5.792 agentes da Funasa, os “mata mosquitos”.

Nessa estranha troca de sinais, depois de ter proposto “mudar” a administração FHC, Serra foi novamente candidato do PSDB no ano passado agora para “continuar” o governo Lula. O tucano passou a campanha perdido em meio a promessas de expandir o PAC, ampliar o Bolsa Família, levar às alturas o valor do salário mínimo.

Quando disputou a eleição com Lula, o atual governador de São Paulo Geraldo Alckmin usou o mesmo diapasão. Fugiu dos governos FHC como o diabo da cruz, sob o argumento de que não se deve dirigir com os olhos fixos no espelho retrovisor. Para negar que retomaria as privatizações, Alckmin chegou a vestir um macacão da Petrobras em juras de amor às empresas estatais.

Na verdade, salvo a estabilização, nem mesmo a privatização da telefonia o PSDB consegue mais comemorar. Foi o presidente da Anatel, Ronaldo Sardemberg, ex-ministro de FHC, quem desmistificou o tema, ao reconhecer que a universalização dos telefones no país deve-se, na verdade, ao aumento da renda da população promovida durante os dois governos de Lula.

O PSDB só festeja Fernando Henrique quando não tem eleição no horizonte. Quando há a necessidade de mostrar a sua obra, de comparar as realizações dos governos tucanos com as dos governos petistas, o ex-presidente é trancado a quatro chaves.

Filhos ingratos, os tucanos tratam seu maior líder como aquele ancião rejeitado pela família, que só sai do quarto em dia de aniversário para posar em fotos para a posteridade.
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