Os 70 anos de Mussum
Por André
E neste dia 7, se ele estivesse vivo, seria dia dos mais alegres, mas quis o destino que ele não mais esteja entre nós desde 29 de julho de 1994. Ele comemoraria setentinhis.
O sorriso sempre franco em parte escondeu que ele foi militar por oito anos, mas a vida resolveu lhe dar uma reviravolta, quando os Sete Modernos do Samba, grupo fundado em 1960 e que em 1961 iria se tornar Os Originais do Samba e, com seu estilo popularmente sofisticado, marcar decisivamente a história do ritmo tocando com Jorge Ben, Elis Regina e outros. E o samba sempre lhe foi presente, mesmo quando foi mais conhecido pela outra face famosa desse caris.
Foi sempre extremamente engraçado, como todos nos acostumamos a ver na TV e alguns tiveram a sorte de conhecê-lo pessoalmente ou ouvir relatos de gente que o conheceu. Eu já tive a sorte de conhecer gente que o conheceu pessoalmente e me disseram que ele realmente era hiláris.
E foi por essa característica que ele acabou ficando conhecido em todo o país. Fez aquele mesmo tipo de humor que consagrou, entre outros, Ramón Valdés no México (e no mundo, graças a Seu Madruga) e, mais recentemente no Brasil, Gil Brother: é o humor daquele cara que não interpreta, mas sim faz o papel dele mesmo no máximo com algumas mudancis.
E para essa transição ele, que não se via como humorista, mas como tocador de reco-reco, foi bem assessorado. O apelido ele já tinha e quem o deu foi Grande Otelo, ao compará-lo com o muçum, peixe extremamente escorregadio. Chico Anysio deu-lhe a sugestão de falar as últimas palavras de uma frase usando "is", o que lhe fez perguntar como seria se tivesse de falar "pena". Seu sucesso em fazer rir logo atraiu a atenção de Renato Aragão, que queria ampliar o grupo Os Trapalhões. Juntou-se a isso o fato de Dedé Santana ser fã dos Originais. E foi Dedé aquele que convidou e, mais ainda, assessorou o querido trapalhão. Para quem sempre achava o Dedé sem graça, devia saber que ele era o cara que fazia muitas coisas funcionarem no grupis.
E foi com diversos quadros que aquele que hoje iria aniversariar eternizou-se. Primeiro foram quadros curtos, até pelo fato de ele estar começando a ganhar dinheiro com algo que sempre fez na naturalidade. E como as câmeras deixam alguém inibido, não é verdade? Porém, ele veio, viu e venceu também nesse campo, a ponto de muitos que hoje curtem os Originais primeiramente o terem associado ao humorzis.
Dedé diz que hoje seria difícil que Mussum emplacasse do jeito que emplacou outrora, uma vez que se em sua época houve muita patrulha ideológica, hoje há muita patrulha do politicamente correto. E patrulha, como bem sabemos, só sabe fazer uma coisa com extremo talento: encher o saco. Iriam encher o saco por causa dos "is", alegando que isso prejudicaria o ensino do correto português às crianças (dentro daquela visão de que elas são autômatos até que se prove o contrário), iriam encher o saco reclamando do mé e novamente dizendo que as crianças estariam sendo orientadas ao alcoolismo (sendo que muitas vezes as piadas do Mussum é que trouxeram um pouco de alegria a pequenos filhos de alcoólatras) ou iriam inventar algum outro chifre em cabeça de cavalo. De minha parte, creio que o contato com a coisa mais crua tenha ajudado a deixar aquelas gerações mais malandreadas do que as que vieram depois. Por malandragem aqui entenda-se aquela que Renato Aragão falava ao considerar seu falecido companheiro de grupo como o último malandro: a malandragem do cara que é ligeiro e o "honesto só por malandragem" que Jorge Ben cantava em um de seus sucessis.
Pergunto-me: que graça haveria em um Mussum novilinguadis, patrulhadis e politicamente corrigidis? Nenhumis, não é verdadis?
Eu e tantos outros fomos crianças que o viram e riram com ele. Ao que me consta, a maioria absolutíssima de nós não se tornou alcoólatra e, caso tenha se tornado, não foi por assistir a Os Trapalhões ou ouvir Cachaça no Tanque. Se alguém aqui fala e escreve errado, também não é por causa do diretor de harmonia da ala das baianas da Mangueiris.
Assim como foi tornado humorista, Mussum também semeou humor. Pelo que já ouvi falar, ele deu um senhor apoio ao Jorge Laffond quando este foi para o SBT para se consagrar como Vera Verão. E o seu jeito sempre amigo também foi motivo para que a Elis elogiasse não só a ele como aos Originais. E outros depoimentos mostram que ele era amigo para todas as horis.
Talvez a grande lição que o palíndromo artista tenha deixado para o mundo seja a de matar a bola no peito e enfrentar o campo, até porque ninguém vai enfrentá-lo por você. Enfrente o mundo querendo agregar em vez de causar cizânia. Deposite alegria aonde quer que vá. Não se coitadizer ao falar dos reveses de sua vida, mas sim conte-os de maneira franca e aberta, pois muitas vezes rindo as pessoas aprenderão com sua experiência de vida melhor do que se chorassem. E note que, se as crianças admiram e riem com coisas que certos adultos ficarão cheios de dedos apontando e acusando, é porque elas viram a qualidade da alma de quem faz a coisa muito melhor do que aqueles que querem dar de filósofo em cima daquilis.
E seu legado segue firme e forte até os dias de hoje, não apenas nos muitos vídeos do YouTube como também nas muitas camisetas com seu rosto estampado e até mesmo no Twitter e, antes disso, um gerador de frases terminadas na moda destas que escrevi neste texto que nem de longe é divertido como ele, mas deve ser encarado como a mais sincera admiraçãozis.
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