As lições da tragédia do Realengo
Quando soube da notícia que um jovem armado havia cometido uma chacina na manhã desta quinta-feira (07/04) em uma sala de aula de uma escola municipal em Realengo, na zona oeste do Rio de Janeiro, fiquei profundamente chocado.
Segundo a Secretaria de Segurança Pública do Rio, o atentado provocou 11 vítimas fatais (nove meninas, um menino – com idades entre 12 e 14 anos – além do atirador) e outras 18 pessoas ficaram feridas.
Não comentarei, por hora, o festival de besteiras e sensacionalismo que dominou a cobertura da grande mídia sobre a tragédia. Apenas para fins de registro, a maior de todas as bobagens foi tentar associar o assassino ao islamismo. Algo que, logo depois, foi desmentido ao se ter acesso ao conteúdo da carta do assassino-suicida em que, ao contrário do que afirmaram alguns veículos irresponsáveis, ele não era nem islâmico e nem ateu, mas sim um fanático cristão. Quem quiser conferir, trechos da carta podem ser lidas aqui.
É evidente que o componente religioso é apenas um elemento adicional de um problema individual do rapaz que cometeu o massacre, certamente problemas e distúrbios patológicos graves o acometiam que extrapolam estas questões.
O principal fato que acho que deve servir de lição nesta tragédia é a centralidade que o tema da política de desarmamento deve ter. O jovem que cometeu a tragédia, só o conseguiu fazer, por estar portando duas pistolas e farta munição. Armas de mão foram feitas para matar seres humanos; elas podem ser ocultadas no bolso permitindo que passem despercebidas.
Em nome de uma suposta "liberdade individual", muitos militaram contra a política de desarmamento no referendo das armas em 2005. Exemplo disso é a capa da revista Veja na véspera da votação do referendo:
Tragédias como esta, além de toda a dor que provocam, podem auxiliar para impulsionar mudanças, a chacina do Realengo deve servir como um alerta para a urgência de uma radical política de desarmamento no Brasil.
Não há soluções fáceis para o tema do fim da violência armada no Brasil e no mundo. O que se sabe é que, se quisermos, de fato, evitar a repetição de tragédias como a do Realengo, só existe uma solução concreta: tornar ilegal o porte de armas de fogo em todo o território nacional. Sabe-se, que mais de 80% das armas encontradas com bandidos no Brasil tem origem legal e são nacionais, que invariavelmente os crimes cometidos contra a vida tem motivadores banais e que uma parcela significativa dos individuos que possuem armas de fogo não estão "preparadas" para seu uso, se é que pode ser possível um "preparo" para tirar a vida de alguém.
Portanto, está posto o desafio, cabe agora buscarmos as soluções para que desta tragédia venha a tona uma política que construa as bases para uma política que promova uma paz duradoura. Para isso, precisamos de um Brasil sem armas!
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