Exército deixa de anunciar em publicação de ultradireita
Os repórteres Rodrigo Vizeu e Raphael Veleda, da Folha.com, informam que o Exército anunciou o fim da publicação de anúncios da Fundação Habitacional do Exército (FHE) no Jornal Inconfidência. O significado disso é o seguinte: a Força Terrestre não mais apoiará financeiramente um panfleto de extrema direita, controlado por militares da reserva, cuja “missão” é combater a esquerda (ou, no caso do PT, um partido que um dia já foi de esquerda).
Editado em Belo Horizonte, o Jornal Inconfidência é a voz do Grupo Inconfidência, um “grupo cívico”, como ele se autodenomina, “que luta contra o comunismo e a corrupção” e a favor do “fortalecimento das Forças Armadas”. São militares da reserva, associados a civis, que utilizam variados meios para fazer proselitismo contra a esquerda. Ao lado do Grupo Guararapes, do Ceará, o Grupo Inconfidência é o mais importante canal de expressão dos militares de extrema direita (da ativa, veladamente, e da reserva, escancaradamente).
Em seu site, o Inconfidência se posiciona como um grupo de enfrentamento ao governo e articulado com as Forças Armadas. Por meio de seu jornal mensal, comandado pelo coronel da reserva Carlos Claudio Miguez, o grupo mira principalmente o PT e o governo petista, que seriam, para o Inconfidência, a volta da febre comunista varrida pela “Revolução de 1964”. O jornal não se restringe a criticar. Parte para a agressão e para o esculacho – a presidente Dilma, por exemplo, é constantemente chamada de Dilmocréia e Dilmente nos artigos e charges do jornal.
A Fundação Habitacional do Exército publicava anúncios no Jornal Inconfidência há cerca de uma década. O valor das peças era modesto, algo em torno de R$ 2 mil. Mas para o jornal era significativo, já que seu editor pena todo mês para levantar os cerca de R$ 10 mil que pagam os custos.
A decisão do Exército de não mais publicar anúncios do FHE no Jornal Inconfidência pode ser vista como um acerto de contas do governo Dilma com o Grupo Inconfidência. Há alguns anos, por intermédio de seu site, o grupo divulgou uma falsa ficha de Dilma dos tempos da ditadura que a apontava como “assaltante de bancos”, crime político pelo qual, na época, ela não foi acusada na Justiça Militar. Em 2009, quando o então presidente Luiz Inácio Lula da Silva lançava Dilma como sua sucessora, a falsa ficha de Dilma (reproduzida no alto do post) foi publicada pela Folha como se fosse verídica. O fato gerou uma crise no jornal e uma saraivada de críticas à imprensa. Dilma ficou furiosa como poucas vezes se viu. Depois daquele episódio, as relações do governo do PT com a Folha de S.Paulo e com a mídia em geral nunca mais foram as mesmas.
Pode ser que Dilma tenha tomado conhecimento, antecipadamente, da interrupção dos anúncios controlados pelo Exército no Jornal Inconfidência. Pode ser que não. Uma coisa, porém, é certa: em relação ao Grupo Inconfidência, a presidente foi vingada.
Há, por fim, outra leitura possível para o caso: um “chega pra lá” de Dilma nas Forças Armadas. Recentemente, o jornal do Grupo Inconfidência publicou artigos de desagravo ao ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), general José Elito Carvalho, que havia trombado com Dilma nos primeiros dias de governo. A origem do quiprocó foi o discurso de posse do general no GSI, no qual ele afirmou que a existência de desaparecidos políticos não deve ser motivo de vergonha para o Brasil. Bola fora! Não bastasse o fato de que os governos de Lula e Dilma se comprometeram com a criação de uma Comissão da Verdade para investigar crimes da repressão, a presidente, quando de sua passagem pela guerrilha urbana, teve vários de seus companheiros mortos e desaparecidos nas masmorras da repressão. A frase foi pra lá infeliz, mas o general Elito acabou se safando sem nem ao mesmo uma reprimenda por escrito, o que fez com que a autoridade de Dilma em relação às Forças Armadas fosse vista com certa dúvida. Analisando por esse ponto de vista, portanto, a guilhotina do Exército nos anúncios do Jornal Inconfidência poderia ser uma mensagem (do governo ou das Forças Armadas) aos militares da ativa e da reserva que pretendam questionar as posições – atuais ou passadas – da comandante-em-chefe das Forças-Armadas.
Resumo da história: sob Dilma, o Exército cortou o apoio que dava a uma publicação paramilitar que combatia Dilma. Na tensa relação da presidente com as Forças Armadas, isso significa um ponto para Dilma. O jogo continua.
Fonte: Blog do Lucas
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