Crise e insurgência no Quirguistão
Por Erick da Silva
Muita gente aqui no Brasil certamente nunca ouviu falar no Quirguistão, mas ontem boa parte da imprensa noticiou a revolta e derrubada do presidente do país, Kurmanbek Bakiyev.
Evidentemente que a quase totalidade das informações que foram difundidas por aqui vinham descontextualizadas, bloqueando uma analise crítica dos fatos que ocorrem neste país. Invariavelmente, apontavam a um aumento de preços nas tarifas públicas como o catalizador da revolta popular, o que não deixa de ser apenas uma pequena “ponta do Iceberg”que mascara os reais motivos dos acontecimentos.
Primeiramente, o Quirguistão e é uma ex-república soviética, de geografia montanhosa, localizada no centro da Ásia, e com fronteiras com a China, o Casaquistão, o Usbequistão e o Tajiquistão. O território soma 200 mil quilômetros quadrados, sendo pouco maior que o Estado do Paraná.
Tem sido um importante aliado aos interesses norte-americanos na região, sedendo parte do seu território para a instalação de bases militares, com o intuito de abastecer o conflito no Afeganistão, além de reforçar a presença americana na região.
O presidente Kurmanbek Bakiyev subiu ao poder após os protestos de 2005 conhecidos como a Revolução da Tulipa, que forçaram seu antecessor, Askar Akayev, a fugir, após um período de mais de 15 anos na presidência.
Bakiyev, porém, operou uma mudança significativa nos rumos do país. Do ponto de vista geopolítico, deslocou o país para uma posição ainda mais pró-EUA, distanciando-se da Rússia. Do ponto de vista econômico, aprofundou as políticas de corte neoliberal que já eram implementadas pelo seu antecessor. Tais políticas, ainda que contanto com apoio irrestrito dos EUA e cia, não reverteram um processo de longa recessão. De 1991 a 2001, a economia quirguis registrou declínio de -2,4%.
No bojo da falência do ideário neoliberal em sua face mais radical, afinal o Quirquistão foi um dos maiores entusiastas entre as repúblicas advindas da ex-União Soviética, em 2005 ocorre a “Revolução da Tulipa”, onde havia, de forma difusa uma expectativa de mudanças no curso do país. Tais mudanças foram amplamente frustradas.
Não só o falido modelo neoliberal seguiu sendo implementado, através de privatizações duvidosas, como inúmeras denúncias de rapinagens nos cofres públicos levaram a uma ampla e majoritária rejeição popular aos rumos do país.
Esta rejeição tomou a forma de revolta aberta, que no dia 7 de abril eclodiram nas ruas da capital Bisqueque, tendo um saldo de 75 mortos e que culminaram na queda do presidente Kurmanbek Bakiyev. A líder da oposição do Quirguistão, Roza Otunbayeva, assumiu o governo, com o controle e apoio das Forças Armadas do país. Otunbayeva afirma que governara interinamente por seis meses até realização de novas eleições. A nova líder disse ainda que "devolveria ao Estado" diversos ativos que haviam sido "ilegalmente privatizados", como as companhias de energia elétrica. Além de uma nova Constituição que será confeccionada nesse período.
Se este processo significará um maior distanciamento do imperialismo norte-americano e uma ruptura plena com o ideário neoliberal, no momento ainda não é possível afirmar com total certeza. No entanto, é importante registrar que demonstrou-se que a população não aceita de forma indefinida processos aviltantes que a afligem por longos períodos e que a possibilidade de insurgência é factível. Não resta dúvida de que este não será o último episódio no longo processo de falência do neoliberalismo.
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