Sobre caráter plebiscitário da eleição presidencial

Muitos questionaram a concretude da afirmação do presidente Lula, já em 2007, de que as eleições de 2010 deveriam ter um caráter plebiscitário. Agora, com a proximidade das eleições, cada vez mais se evidência que de fato teremos uma eleições com esse caráter.
O sociólogo Marcos Coimbra, do Vox Populi, traz um bom artigo em que analisa está questão. Não sou tão otimista quanto ele com relação ao fortalecimento dos partidos no Brasil, haja visto o comportamento destoante que deve ocorrer em boa parte das eleições estaduais, principalmente para a composição dos parlamentos. Infelizmente, se verifica ainda uma forte tendência dos/as eleitores em votar de forma descolada para o cargo majoritário e para o legislativo.
Ainda sim, no que tange a disputa presidencial, o artigo está muito bom em sua análise.



Ainda o plebiscito

Marcos coimbra

Goste-se ou não de Lula, é preciso reconhecer que o que ele está propondo é um novo modelo de eleição, que só é possível agora. Hoje, depois de oito anos de PT no governo, pode-se fazer a comparação entre ele e o PSDB
À medida que a eleição presidencial vai se aproximando, fica mais claro o projeto de Lula para vencê-la. A menos de 8 meses de sua realização, é mais fácil (talvez até para o próprio presidente) entender onde ele quer chegar.
A ideia de fazer da eleição de 2010 um plebiscito foi explicitada por Lula ainda em 2007, quando anunciou que queria que nela o eleitorado comparasse seu governo ao de Fernando Henrique. Quem achasse que seus oito anos foram melhores, que votasse na candidatura governista. Quem preferisse os de seu antecessor, na oposição.
A bipolaridade que é premissa desse projeto não foi inventada por Lula. De um lado, é assim que o sistema partidário brasileiro se estruturou nos últimos anos. De outro, o processo político concreto que vivemos sinalizou desde muito cedo que as de 2010 repetiriam o padrão.
A todos sempre pareceu que o cenário mais provável seria uma nova confrontação PT-PSDB, apenas havendo dúvida se logo no primeiro turno ou no segundo. A candidatura situacionista esteve em disputa, pois Ciro Gomes reunia intenções de voto suficientes para permanecer como alternativa aos nomes do PT, nenhum com boa largada nas pesquisas. Mas as perspectivas de crescimento de quem quer que fosse o candidato do PT eram maiores.
Tampouco surgiu opção ao PSDB no campo oposicionista. Dos partidos que remanesceram com ele, o DEM seria o único que poderia pensar em um nome, mas nunca se movimentou nessa direção e hoje nem poderia mais pensar no assunto. Seria, portanto, tucana a candidatura, e apenas uma. Quanto a quem, tudo apontava para Serra, mesmo enquanto Aécio permaneceu na disputa.
Para Lula, o fato de as oposições só terem um nome sugeria uma decisão em primeiro turno, que se tornou mais possível quando Marina, depois de provocar algum alvoroço no lançamento de sua candidatura, estacionou nas pesquisas. Não seria muito diferente com qualquer nome tucano, mas Serra facilitava o confronto plebiscitário. Se Aécio fosse candidato, seria mais complicado propor a comparação com FHC, pois o governador de São Paulo integrou o governo passado e foi adversário do próprio Lula em 2002.
Mas qual seria o conteúdo do plebiscito? Ninguém melhor que Lula sabia que não seria apenas uma briga de números, a respeito de indicadores de desempenho governamental. Nem no Brasil, nem em qualquer lugar do mundo se vencem eleições assim.
Outra coisa que o plebiscito não poderia ser seria uma escolha entre Lula e FHC, para que os eleitores dissessem de quem gostam mais. A resposta a essa pergunta já é conhecida e o vencedor é o atual presidente. Não bastassem as comparações da aprovação de ambos, várias pesquisas pediram às pessoas que fizessem a comparação direta: Lula sempre ficou na frente, com larga vantagem.
O relevante, contudo, é que essa escolha não conduz ao voto em Dilma, pois é perfeitamente possível que alguém prefira Lula e ache que Serra é melhor candidato. Não é esse plebiscito, portanto, que o presidente busca.
Goste-se ou não de Lula, é preciso reconhecer que o que ele está propondo é um novo modelo de eleição, que só é possível agora. Hoje, depois de oito anos de PT no governo, pode-se fazer a comparação entre ele e o PSDB, não em torno de nomes ou pessoas, mas do que cada “lado” representa. De fazer um balanço das coisas em que cada um acertou e errou quando teve a oportunidade de liderar uma coalizão para governar e pôr em prática suas propostas e sua visão para o Brasil.
Usando as palavras que ele usaria, o plebiscito que Lula quer não é entre ele e FHC, mas entre o que “nós” (o PT) somos e fazemos e “eles” (o PSDB) são e fazem. Se acontecer como ele pensa, seria a primeira eleição genuinamente partidária de nossa história política, em vez das disputas personalistas que sempre tivemos.
Não importa quem vença. O importante é que teremos, de um lado, um bom e legítimo candidato do PSDB (paulista, ex-intelectual, integrante do governo FHC) e, de outro, uma boa e legítima candidata do PT (técnica do setor público, ex-militante de esquerda, integrante do governo Lula). Sem a combinação de ilusão e medo (como a que deu a vitória a Collor), sem mágicas (como a do Real, que elegeu Fernando Henrique), sem carismas (como o de Lula).
Não era isso que queríamos, uma política em que os partidos são mais importantes que as pessoas?

Artigo originalmente no jornal Estado de Minas

Um comentário:

Carlos Eduardo da Maia disse...

Impossível fazer comparação quando não houve ruptura. O governo Lula apenas continuou o que o governo FHC havia iniciado. Um foi a continuação do outro e assim deve ser em relação ao sucessor. Se Serra ou Dilma forem eleitos vão continuar no mesmo tipo de política, até mesmo porque os dois fazem parte da mesma linha ideológica de centro esquerda social democrata. A diferença talvez seja em relação a certas medidas da política externa. Serra dificilmente faria a visita (e o papelão) que Lula fez ontem. E por isso ele talvez seja o melhor candidato.