Inicialmente achei boa a idéia de se construir um novo e moderno estádio para o Grêmio, a chamada ''Arena Tricolor''. As imagens e maquetes apresentadas realmente impressionam (veja na foto acima).
No entanto, a medida que foram vindo a tona mais informações a cerda do detalhamento do projeto e do contrato que estaria sendo firmado entre o clube e a empreitera OAS a certeza deu lugar a dúvida.
Se fizermos um rápido retrospecto das "lambanças" que a cartolagem do Grêmio fizeram (e fazem) com o patrimônio e as finanças do clube nos últimos 15 ou 20 anos, a dúvida rapidamente dá lugar a certeza: a Arena do Grêmio será nociva ao clube.
A Arena retirará do Grêmio a propriedade de seu estádio, passando a jogar por "concessão" da OAS, que será ela proprietária do estádio. O time não poderá nem ao menos utilizar o gramado da Arena para realizar os seus treinos. Ou seja, de um time orgulhoso de possuir um estádio próprio (coisa que muitos times grandes do Brasil até hoje não conseguiram, como é o caso Corinthians) passaremos a jogar "de favor" em um estádio de propriedade de um empreiteira que se utilizará do nome do Grêmio para angariar os seus vultuosos lucros, tudo garantido por duas décadas pelo contrato assinado.
Existem ainda uma série de outros problemas que envolvem esse projeto da Arena que posteriormente pretendo comentar por aqui, mas um em particular não posso deixar batido e que pode sim ser o mais grave de todos: o afastamento do Grêmio de sua torcida.
Em sua história, o Grêmio passou de um clube acanhado e fechado em Porto Alegre em seu nascimento (a mais de 100 anos) a um gigante que conquistou a América e o Mundo, esse processo levou o time a conquistar as massas e se converter no time de maior torcida no Rio Grande do Sul e uma das maiores torcidas do país.
O projeto da Arena pode provocar uma interrupção desta caminhada vitoriosa do clube com sua torcida. Torcida esta que inúmeras vezes salvou o time das trapalhadas que a cartolagem teima em reiteradas vezes praticar.
Nisso não tenho nenhuma "teoria da conspiração", apenas fatos.
Além de reduzir a capacidade de público, das dificuldades de acesso que a torcida terá com a localização do novo estádio, a pior consequência será o processo de elitização que se promoverá na Arena. Os ingressos terão seus preços elevados a patameres que invariavelmente serão impeditivos a participação da massa. Essa mesma massa que tantas vezes empurrou o time e que a partir da construção da Arena terá que acompanhar o time apenas pela TV ou rádio.
Infelizmente, isso que está acontecendo com o Grêmio não é um processo isolado e outros clubes almejam caminhar para o mesmo destino. Abaixo reproduzo um bom artigo sobre este tema do Juca Kfouri.
A elitização do futebol
A geral do Maracanã, como em outros estádios brasileiros, fazia parte do folclore do futebol. Tudo lá era permitido, menos assistir aos jogos sentado. O mais democrático dos setores de um campo de jogo ficou na história e na memória de cronistas esportivos para dar espaço à modernização das cadeiras numerada nas "arenas", uma antítese da geral, dos geraldinos e do torcer em pé.
No inevitável processo de transformação do futebol em negócio, há um ponto que ainda nem sequer está sendo discutido no Brasil: o que será da massa torcedora no país do futebol?
Nos belos projetos de construção de modernos estádios e de reforma dos já existentes, e para atender às exigências da Fifa, só se fala em assentos para todos, estacionamentos próximos a esses assentos, o fim dos espaços para a torcida em pé, em conforto, boa comida, ar condicionado etc.
Nada contra, é claro.
Mas é óbvio que se cobrará mais caro pelo ingresso e é aí que num país pobre como o nosso a coisa se complica. Estará o torcedor menos favorecido condenado a ver futebol na TV aberta?
Pior: também parece inexorável que cada vez mais as TVs fechadas e o sistema de pagar-para-ver tomarão conta das transmissões e a um preço que o torcedor pobre também não poderá pagar. A paixão será mantida pelo rádio?
É sabido, por outro lado, que um dos meios para se diminuir a violência na Inglaterra foi justamente o de aumentar o preço dos ingressos, o que afastou os filhos do operariado dos estádios.
Estará o futebol em vias de se transformar no que a NBA fez com o basquete norte-americano?
Basta ir ao Madison Square Garden, em Nova York, para constatar que os habitantes do Harlen não passam nem na porta do ginásio onde o NY Knicks joga.
Pode ser um problema sem solução, mas é um grande problema. A tendência é mesmo a de transformar os estádios em estúdios, calorosos, coloridos, com gente bonita e famosa, mas, e o povo? A elite brasileira será suficiente para alimentar a paixão pelo futebol?
Eis aí uma questão que deveria estar preocupando os marquetólogos. Porque o Maracanã sem a geral em pé tende a elitizar a torcida de maneira perigosa.
Sem se dizer que, como já disse o professor Belluzzo, responsável pela aproximação entre o Palmeiras e a Parmalat em 1992, nosso futebol, em fase de mudança, está sendo vítima de um fenômeno semelhante ao que se dá na Rússia em sua transição para o capitalismo, dominada pela máfia.
E a máfia só se preocupa com seus lucros, seja como for.
A elitização do futebol
A geral do Maracanã, como em outros estádios brasileiros, fazia parte do folclore do futebol. Tudo lá era permitido, menos assistir aos jogos sentado. O mais democrático dos setores de um campo de jogo ficou na história e na memória de cronistas esportivos para dar espaço à modernização das cadeiras numerada nas "arenas", uma antítese da geral, dos geraldinos e do torcer em pé.
No inevitável processo de transformação do futebol em negócio, há um ponto que ainda nem sequer está sendo discutido no Brasil: o que será da massa torcedora no país do futebol?
Nos belos projetos de construção de modernos estádios e de reforma dos já existentes, e para atender às exigências da Fifa, só se fala em assentos para todos, estacionamentos próximos a esses assentos, o fim dos espaços para a torcida em pé, em conforto, boa comida, ar condicionado etc.
Nada contra, é claro.
Mas é óbvio que se cobrará mais caro pelo ingresso e é aí que num país pobre como o nosso a coisa se complica. Estará o torcedor menos favorecido condenado a ver futebol na TV aberta?
Pior: também parece inexorável que cada vez mais as TVs fechadas e o sistema de pagar-para-ver tomarão conta das transmissões e a um preço que o torcedor pobre também não poderá pagar. A paixão será mantida pelo rádio?
É sabido, por outro lado, que um dos meios para se diminuir a violência na Inglaterra foi justamente o de aumentar o preço dos ingressos, o que afastou os filhos do operariado dos estádios.
Estará o futebol em vias de se transformar no que a NBA fez com o basquete norte-americano?
Basta ir ao Madison Square Garden, em Nova York, para constatar que os habitantes do Harlen não passam nem na porta do ginásio onde o NY Knicks joga.
Pode ser um problema sem solução, mas é um grande problema. A tendência é mesmo a de transformar os estádios em estúdios, calorosos, coloridos, com gente bonita e famosa, mas, e o povo? A elite brasileira será suficiente para alimentar a paixão pelo futebol?
Eis aí uma questão que deveria estar preocupando os marquetólogos. Porque o Maracanã sem a geral em pé tende a elitizar a torcida de maneira perigosa.
Sem se dizer que, como já disse o professor Belluzzo, responsável pela aproximação entre o Palmeiras e a Parmalat em 1992, nosso futebol, em fase de mudança, está sendo vítima de um fenômeno semelhante ao que se dá na Rússia em sua transição para o capitalismo, dominada pela máfia.
E a máfia só se preocupa com seus lucros, seja como for.
Um comentário:
Paz, bem e feliz 2010 !!!
De minha parte
não tenho dúvidas
que a Arena servirá
para encher as burras de cartolas:
1 Por um lado com a construção da Arena.
2 Por outro com a venda do Olímpico.
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