João Sicsú: PT, um partido sem projeto de desenvolvimento



Por  João Sicsú

Está chegando a hora da verdade. As previsões sobre as consequências da política de aperto (fiscal e monetário) do governo se transformaram em números oficiais. O desemprego não para de crescer, a formalização do trabalho diminuiu, o crescimento econômico ficou negativo e os investimentos públicos e privados desabaram.

Os quatro governos do PT sempre mostraram a sua cara logo no início de cada gestão – ou até mesmo antes da posse. Em 2003, iniciou com uma política de aperto fiscal e monetário. A despeito da opção errada, fez um governo regular graças ao cenário internacional favorável e à pressão das centrais sindicais pela ampliação do crédito e a valorização do salário mínimo. Em 2007, iniciou lançando o PAC. Foi uma positiva e extraordinária mudança em relação ao pensamento que havia predominado de 2003 a 2005. Resultado: apesar de grandes dificuldades no quadro internacional (a crise financeira de 2008-2009), foi um governo que obteve excelentes resultados econômicos e números muito bons na área social.
Em 2011, iniciou novamente com aperto monetário, fiscal e desleixo cambial – além de outros erros de políticas para reduzir “custos empresariais”. O resultado foi um governo medíocre na área econômica, mas que ainda conseguiu manter as conquistas sociais da gestão anterior. Em 2015, iniciou com uma política de forte contração econômica. Os resultados negativos já chegaram. E essa é a primeira fase, em que no centro estão as políticas monetária e fiscal. Depois virá a fase chamada de “ajuste econômico” onde no centro estarão as reformas estruturais mais profundas: modelos de concessão, Previdência Social, o papel dos bancos públicos etc.
Não é à toa que acontece este ziguezague. Aliás, mais zigues (três) do que zagues (apenas 1, em 2007) como pode ser percebido pela breve descrição das políticas econômicas adotadas nos governos do PT e de seus aliados. Com 35 anos de idade e há mais de 12 governando o Brasil, o PT nada (nada!!!) evoluiu, em termos de construção de um pensamento ou projeto de desenvolvimento para o País. Sem projeto, atua conforme as pressões e as dificuldades (ou facilidades) conjunturais. Muitas vezes se move, tal como outros partidos, de acordo somente com as condições das conjunturas eleitorais. É um partido que atua no varejo do quotidiano e, por vezes, o faz muito bem.
Como o PT e seus aliados não têm um projeto de desenvolvimento, além de governarem no varejo, não transmitem à sociedade um sonho de País. O PT e seus aliados deixaram a sociedade brasileira num vácuo, sem sonho. O Brasil não precisa somente de um modelo de políticas econômicas, precisa de uma estratégia de desenvolvimento para ser sonhada. Uma estratégia de desenvolvimento deve, acima de tudo, emular o imaginário da sociedade transformando-se em sonho, em utopia, em orgulho. Isso, o PT fez muito bem quando estava na oposição.
Uma estratégia de desenvolvimento é composta do ponto final onde se deseja chegar e de políticas de construção e manutenção do país desejado e sonhado. A concepção de um sonho não é obra de marqueteiro, mas sim resultado de uma construção social que deve envolver lideranças (nacionais, regionais e locais) e a sociedade organizada. Também as políticas de desenvolvimento não devem ser obra de economistas e intelectuais, mas sim fruto de uma edificação coletiva, com participação e criação social.
Uma estratégia de desenvolvimento é o oposto do conformismo (seja com as benesses do poder, seja com a gestão do fazer “mais do mesmo”). Um projeto de desenvolvimento é uma estratégia de ousadia, risco, enfrentamentos e responsabilidade. Um projeto de desenvolvimento também é necessário porque é o melhor antídoto contra a idolatria de líderes “salvadores da pátria”.
Uma estratégia de desenvolvimento deve ser construída no debate com a sociedade organizada a partir de linhas gerais que descrevam: (i) o objetivo final – um país em que questões materiais não sejam barreiras intransponíveis à felicidade e (ii) a trajetória – políticas públicas, procedimentos e regras para se formatar e reformatar continuamente um novo país. Entretanto, uma estratégia de desenvolvimento não é um plano de governo detalhado, assim como não deve conter respostas para uma lista infindável de questões que afligem a vida da população brasileira.
Não ter elaborado um projeto desenvolvimento para o País – esse foi o erro histórico do PT e de seus aliados. Sem projeto, governam em ziguezague. E são porosos a pressões que buscam o retrocesso. E, muito importante, também: sem projeto, não são capazes de emular sonhos, esperança, autoestima e orgulho. No plano das ideias, deixaram a sociedade à deriva.


Um comentário:

Aguinaldo Munhoz disse...

De Mikhail Bakunin (1814 - 1876) para Brahma (1945 e ainda muito vivo):
"Assim, sob qualquer ângulo que se esteja situado para considerar esta questão, chega-se ao mesmo resultado execrável: o governo da imensa maioria das massas populares se faz por uma minoria privilegiada. Essa minoria, porém, dizem os marxistas, compor-se-á de operários. Sim, com certeza, de antigos operários, mas que, tão logo se tornem governantes ou representantes do povo, cessarão de ser operários e pôr-se-ão a observar o mundo proletário de cima do Estado; não mais representarão o povo, mas a si mesmos e suas pretensões de governá-lo. Quem duvida disso não conhece a natureza humana."