Tomar um chimarrão é fazer a revolução?
Por Erick da Silva
Caminhar na rua, recolher o lixo alheio, tomar um chimarrão, andar de bicicleta ou cumprimentar um vizinho. Coisas banais, corriqueiras que para a maioria das pessoas são vistas com naturalidade. Para alguns, no entanto, ações como estas, que aparentemente em muito pouco interferem no curso da sociedade passaram a ser vistas como a expressão de ações "revolucionárias" que podem mudar o mundo.
Afirmam estes: "É o futuro chegando hoje! Graças a internet tudo é possível!" Afinal hoje "as pessoas estão envolvidas na apropriação criativa de tecnologias para fazer algo por sua própria escolha", não mais havendo espaço para a velha figura do patrão e do empregado. Exploração só existe para quem as aceita ou não entendeu que é possível superá-la apenas com atitude!
Uma espécie de reação "pós-ideológica", sem horizontes mais largos, sem perspectivas de mudanças reais. Uma "nowtopia", uma utopia do agora, restrita ao horizonte curto da próxima semana ou no máximo do ano que vêm.
O imediatismo irrefletido, travestido de reflexão, gerando um vazio real.
Estes ativistas exaltam a vultuosidade de uma bela árvore, mas se esquecem de observar a floresta que a circunda. Se lutas específicas e parciais são legitimas e necessárias, erram ao acreditar que apenas estas serão capazes, por si só, de mudar o sistema.
O específico pode influenciar diretamente a luta geral, mas raramente isto ocorre sem algum grau de articulação com outras lutas. Retirando-se a perspectiva de luta pelo poder, de mudança do sistema político, por exemplo, as chances deste tipo de ativismo cair em uma efemeridade é quase certa.
Será que já virei um "fóssil" por acreditar que este tipo de ação em nada subverte o sistema? Que ações coletivas, como partidos e sindicatos, ainda que falhos, são os instrumentos mais eficazes de disputa e transformações reais? Será que virei um dinossauro obsoleto por acreditar que tomar um chimarrão em uma praça não é fazer a revolução?
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