Documentos recebidos da Suíça pelo Ministério da Justiça comprovam a existência de uma conta bancária no país europeu para abastecer o propinoduto do governo do PSDB em São Paulo. Segundo reportagem publicada na edição desta semana da revista IstoÉ, a conta batizada de “Marília” movimentou o equivalente a R$ 64 milhões de reais (20 milhões de euros) entre 1998 e 2002, e garantiu o pagamento por lobistas a agentes públicos subornados para favorecer empresas envolvidas no esquema de cartel e corrupção no transporte público.
Uma análise preliminar feita pelos repórteres Claudio Dantas Sequeira e Pedro Marcondes de Moura indica que Alstom e Siemens compartilharam a conta para garantir uma operação de lavagem de dinheiro que beneficiou, segundo fontes do Ministério Público Estadual, Robson Marinho, o conselheiro do Tribunal de Contas que foi homem da confiança e coordenador de campanha do ex-governador tucano Mário Covas. Também da Marília saíram recursos para contas das empresas Arthur Teixeira e José Geraldo Villas Boas, que seriam lobistas que atuaram como intermediários para a propina paga a funcionários tucanos pelas multinacionais.
Teixeira e o irmão dele, Sérgio, foram responsáveis por abrir empresas e offshores com o objetivo de garantir o pagamento de comissões a servidores públicos e políticos do PSDB. Segundo a IstoÉ, Teixeira tem acesso fácil ao secretário de Transportes Metropolitanos, Jurandir Fernandes, e ao diretor de Operação e Manutenção da Companhia Paulista de Trens Metropolitanos (CPTM), José Luiz Lavorente, o encarregado da distribuição em mãos da propina.
O banco no qual foi aberta “Marília, o Multi Commercial Bank, hoje Leumi Private Bank AG, também foi citado em outros esquemas de corrupção tucanos. O Ministério Público já havia descoberto uma conta bancária em nome de Villas Boas e de Jorge Fagali Neto. Fagali Neto foi secretário de Transportes Metropolitanos de São Paulo na gestão de Luiz Antônio Fleury Filho. No governo federal de Fernando Henrique Cardoso (1997-2005), dirigiu os Correios (1997) e a área de projetos de ensino superior do Ministério da Educação (2000 a 2003).
Segundo a Polícia Federal, Fagali, mesmo fora do governo paulista, manteve ascendência e contatos, tendo sido indiciado por formação de quadrilha, lavagem de dinheiro e evasão de divisas. Ele é irmão de José Jorge Fagali, que presidiu o Metrô na gestão de José Serra. José Jorge é acusado pelo MP e pelo Tribunal de Contas Estadual de fraudar licitações e assinar contratos superfaturados à frente do Metrô.
Na visão dos investigadores, a “Marília” era uma espécie de central de recursos de outras contas que abasteceram empresas e fundações de fachada. O MP pediu, sem sucesso, que as autoridades suíças e francesas promovessem o arresto de bens e o bloqueio das contas das pessoas físicas e jurídicas envolvidas no caso. Ainda de acordo com a IstoÉ, os investigados apelaram ao Superior Tribunal de Justiça (STJ) para evitar ações deste tipo no Brasil.
Enquanto isso, diz a revista, o Tribunal de Contas do Estado (TCE) apura a vigência do esquema ainda hoje. A leitura é de que há fortes indícios de que as fraudes ocorreram em contratos assinados por José Serra (2007-2010) e pelo governador Geraldo Alckmin. Entram na lista os acordos para reformar as linhas 1, Azul, e 3, Vermelha, firmados em 2008 e 2009, com vigência de cinco anos e meio, somando R$ 1,7 bilhão, e divididos entre as empresas participantes do cartel trazido à tona pela Siemens.
O TCE vai julgar casos que envolvam as 18 corporações denunciadas. Entre os contratos está o de fornecimento de 40 trens de oito carros firmado entre a CPTM e a espanhola CAF durante a gestão Serra. Um e-mail que está com o Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade), subordinado ao Ministério da Justiça, mostra um executivo informando que o então governador e seu secretário de Transportes Metropolitanos, José Luiz Portella, sugeriram que a Siemens dividisse o contrato bilionário com a CAF, vencedora da disputa.
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