Por Erick da Silva
Quando grandes mobilizações e revoltas ganham as ruas, há sempre aqueles que são surpreendidos, se espantam, não entendendo a razão que levaram o povo a protestar. Governantes respondem tardiamente e a repressão, invariavelmente, é a primeira resposta. Tratando-se de governos autoritários, a repressão e a "criminalização" do movimento é a única resposta.
Quando estudantes e a juventude tomam as ruas protestando contra o aumento das passagens de ônibus, o espanto pode ser ainda maior. Afinal, com uma perturbadora frequência, alguns céticos afirmam, em tom categórico, que “a juventude de hoje é alienada”, “o jovem não está mais interessado em transformações na sociedade” a ideia de “revolução” está morta e etc
Felizmente, as ruas provam o contrário. Contando com o auxílio das redes sociais, a juventude está conseguindo mostrar mais uma vez sua força e sua voz nas ruas.
Não é a toa que os jovens vão as ruas. Existem situações que praticamente “obrigam” que a indignação se materialize em ação efetiva nas ruas. São em momentos como estes, onde a conjuntura se mostra mais favorável, quando um fato aparentemente “normal” ou “isolado” ocorre - mas que como numa “gota d”água que faz o copo transbordar” - é que as coisas acontecem. É aí que as condições para grandes mobilizações se materializam.
Um problema específico e que aparentemente envolveria um número restrito de pessoas, pode rapidamente converter-se em uma luta de abrangência geral e com grande capacidade transformadora. O estopim de uma revolta, muitas vezes é apenas o catalizador de um processo maior de indignação contra um governo, contra um “estado de coisas”, podendo se converter em algo maior. Um problema específico da cidade, no país e, em alguns casos, contra o próprio sistema capitalista pode impulsionar centenas, milhares de jovens a irem as ruas. A capacidade de um movimento, mesmo sem uma clara direção política constituída, em conseguir dar esta abrangência para o movimento, é a diferença entre o fracasso e o sucesso de uma luta. O uso da internet e das redes sociais tem sido fundamental para impulsionar, rapidamente, a comunicação e a mobilização.
Não existe uma “fórmula mágica” de como um movimento pode ou não ser vitorioso. A própria vitoria, muitas vezes, não é fácil de ser mensurada. Mais do que evitar algo (um aumento na tarifa do transporte público) o próprio movimento em si pode cumprir uma preciosa função educativa e conscientizadora. O precioso aprendizado daqueles que se somam nas mobilizações é inquestionável. Avança no amadurecimento da cidadania e na consciência crítica, principalmente daqueles que participam, mas também de toda a sociedade que observa o exemplo da luta dos estudantes.
Neste processo, em movimentos de massas, não faltam divergências internas, excessos e equívocos internos aos próprios manifestantes. Está questão, ainda que importante, não pode servir para desacreditar a importância e a necessidade da luta em si. Em movimentos heterogêneos, sem a direção de um único grupo político, situações como esta são frequentes. O desafio é conseguir que, apesar de situações que se choquem com o consenso da maioria dos manifestantes, o movimento não se fragmente, não crie divisões públicas que o fragilizem. Trabalhar com as convergências, buscar estreitar a relação com outros movimentos e tentar, dentro das possibilidades colocadas, politizar e tornar mais abrangente a luta, pode ser um bom caminho para a construção de grandes vitórias.
Talvez a grande questão que deve mover a todos aqueles que vão as ruas é aquela levantada pelo surrealista André Breton: “Mudar a vida, disse Rimbaud. Transformar o mundo, disse Marx. Para nós essas duas palavras de ordem são apenas uma.” Somente indo as ruas esta transformação poderá ocorrer.
Foto: Mídia NINJA
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Um comentário:
Vou comentar e gostaria que me respondesse, se possível. Aqui no Brasil quem estuda na rede pública tem gratuidade, idosos e deficientes idem, trabalhadores até determinada faixa de salário também ganham vale-transporte (é lei). Eu sei e você sabe que quem organiza essa tentativa violenta de intifada é o povo dos partidos emergentes que querem emergir na porrada, a todo custo, querem ser governo à força, ganhar no grito. Nada contra o grito, já a força ...
Os movimentos Levante Popular e Juntos, entre outros, levam molotov pra manifestação dita pacífica. Onde houve 'primavera árabe', ela foi induzida e quem lucrou, no final, não foi o povo: foi a direita e o capitalismo. Não há um país onde tenha havido esse tipo de manifestação que tenha virado socialista, até na Espanha a direita venceu as eleições municipaís após as 'acampadas'. Aqui no Brasil, adivinha quem organizou as 'acampadas' e os 'Ocupa'? Tá lá, no site do próprio PSOL do RS. A camuflagem social e anti-capitalista acaba se perdendo quando a finalidade última é um partido chegar ao poder, pois terá que se mover no sistema mundial de trocas, que é capitalista ao extremo, e não poderá mudar o sistema de modo unilateral, ou obrigar a parte da população que não quer mudança a aceitar. Então, a proposta é de chegar ao poder na porrada. Vamos ver no que isso tudo vai dar ...
p.s. Negue todos os avanços rápidos dos últimos anos, mesmo com todas as oposições à direita e à esquerda. Visite a comunidade e pergunte se alguém ali foi beneficiado por algum programa social importante do governo. Jango foi derrubado porque perdeu apoio à esquerda (diziam que era 'reformista'). Graças a isso a direita tomou o poder e foram 20 longos anos, você sabe, e mais 10 de governos neoliberais.
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