Os limites das redes sociais em debate


Inegavelmente a difusão das chamadas "redes sociais" tem ampliado o acesso e a troca de conteúdo de forma formidável. No entanto, como não poderia deixar de ser, todo o avanço "positivo" tem potencialmente seus efeitos reversos, e não é diferente nesta questão. Abaixo reproduzimos um interessante artigo que busca lançar luz sobre alguns dos limites das redes sociais. Como reflexão, nos coloca o desafio de nossa necessária vigilância e ação para compreender e superar os limites que se impõem.

Malefícios insidiosos da cultura “recomendar”

Por Neil Strauss

Em nossa era de contar visitas a um site e de retweets, o conformismo tornou-se uma norma. Caso você esteja lendo este artigo online, você notará que acima, à direita, há uma tecla chamada “recomendar” (ou “curtir” – “like”). Pare de ler, por favor, e clique agora a tecla “recomendar”. Obrigado, me sinto muito melhor. É bom saber que alguém gosta [na língua inglesa, a palavra like pode significar “gostar”] de mim.
Não esqueça de fazer seu comentário, de tuitar e blogar este artigo. E, caso você esteja na recentemente lançada rede social Google+, certifique-se que você clica “+1”. Na verdade, se você não quiser ler o resto deste artigo, fique na página pelo menos por alguns minutos, antes de clicar outro site. Assim, para os analistas do site, parecerá que você leu tudo.
Tempos atrás, existiu algo chamado ponto de vista. Mas, depois de muita discórdia e conflito, tornou-se senso comum em alguns lugares do mundo que as pessoas tinham direito a ter seus próprios pontos de vista. Essa ideia, entretanto, vem se tornando um anacronismo. Quando a internet ganhou uso público, foi saudada como uma libertação do conformismo, um mundo suspenso governado pela paixão, pela criatividade, pela inovação e pela liberdade de informação. Quando foi sequestrada – primeiro, pela publicidade e depois pelo comércio – parecia que fora totalmente cooptada e alinhada à ganância e ambição humanas.

“Formados” por nosso status

Mas havia outro elemento da natureza humana que a internet tinha que conquistar: a necessidade de pertencer. A tecla “like” começou no website FriendFeed em 2007, apareceu no Facebook em 2009, passou a se disseminar por toda parte, do YouTube e da Amazon a sites importantes no ano passado, e agora foi oficialmente adotada pelo Google como o agradável, o ponto de apoio e mais consciente de status “+1”. Em consequência, agora podemos buscar não apenas informação, mercadorias ou vídeos de gatinhos na internet, mas também por aprovação.
Assim como humoristas são treinados para serem engraçados ao observarem quais as piadas e expressões são saudadas com riso, também nossos pensamentos online são moldados para se conformarem à opinião popular por essas teclas. Uma situação de atualização sem “likes” (ou um tweet inteligente que não é retuitado) torna-se o equivalente a uma piada recebida pelo silêncio. Deve ser reavaliada a reescrita. Assim, não mostramos nossos verdadeiros “eus” online, e sim, uma máscara projetada para nos conformarmos com as opiniões de quem está ao nosso redor.
Por outro lado, quando visitamos o conteúdo de alguém – vídeo ou texto –, podemos ver, em primeiro lugar, quantas pessoas gostaram e, muitas vezes, se nossos amigos gostaram. Assim, somos incentivados não a formar nossa própria opinião, mas a procurar a dos outros como pista sobre como se sentir.
A cultura do “like” é antiética em relação ao conceito de autoestima, que um indivíduo saudável deveria desenvolver de dentro para fora, e não de fora para dentro. Ao invés disso, somos “formados” por nosso status, que não só inclui os “likes”, mas o número de comentários provocados em resposta àquilo que escrevemos e o número de amigos e seguidores com que contamos. Já presenciei estrelas do rock em desespero devido ao fato de que outro artista tem muito mais “likes” de seus fãs no Facebook e no Twitter do que eles.

A profecia de Erich Fromm

Por ser tão fácil medicar nossa autoestima fazendo concessões para ganhar seguidores, “likes” e visitas a um site, as redes sociais tornaram-se o objeto de escolha para muitas pessoas que, de outra maneira, poderiam canalizar suas energias para livros, música ou arte – ou mesmo para seus próprios empreendimentos na web.
O mesmo vale para a produtividade de escritores e artistas já conhecidos. Recentemente, estive num programa de rádio com outro escritor e o entrevistador disse que ele enviara tweets a cada 20 minutos, em média, nos últimos dois anos. No entanto, apesar de todo o tempo e esforço empenhados em reunir e agradar seguidores, assim que uma rede social sai da moda, como MySpace, todo esse trabalho despenca como um castelo de areia.
Profeticamente, o psicanalista Erich Fromm escreveu, há 60 anos, que o homem “construiu uma máquina social complicada para governar a máquina técnica que construiu... Quanto mais poderosas e gigantescas forem as forças que ele desencadeia, mais impotente ele se torna, enquanto ser humano. Passa a ser propriedade de suas criações e perde a posse de si mesmo.”

Comece a concentrar-se em suas paixões

Levantemo-nos, portanto, contra a tirania da tecla “like”. Partilhe com qualquer outra pessoa aquilo que o faz diferente, e não o que o faz exatamente igual. Escreva sobre o que é importante para você, e não sobre o que você acha que os outros querem ler. Forme suas próprias opiniões sobre o que você esteja lendo, e não procure na realimentação as pistas sobre o que pensar. E, a menos que ache que o Twitter é mesmo sua forma de arte, não perca tempo procurando um remédio rápido para a autoestima e comece a concentrar-se em suas verdadeiras paixões.
E, por favor, apesar do que eu disse acima, não faça um +1, não use o Twitter, não use a tecla “like” nem faça um comentário sobre este artigo. Você só o tornaria pior.

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[Neil Strauss é escritor. Seu último livro é Everyone Loves You When You´re Dead: Journeys Into Fame and Madness]. Reproduzido do Wall Street Journal, 2/7/2011; tradução de Jô Amado. Imagem por http://www.flickr.com/photos/birgerking/.

Um comentário:

Anônimo disse...

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