A direita explosiva no Brasil


Por Miguel do Rosario

Há uns 10 anos, um amigo do meu falecido pai (esse amigo é bem mais jovem que meu pai) deu-me um livro valiosíssimo. Intitulado “A direita explosiva no Brasil”, narra as peripécias terroristas de grupos secretos de orientação direitista, desde a década de 50.

Neste caso, podemos usar tranquilamente o termo “terrorista”, visto que essas pessoas combatiam ilicitamente um Estado democrático.

Acho oportuno mencionar este livro e indicá-lo para jornalistas, professores de história e curiosos em geral, porque ele põe por terra as teses que procuram associar a esquerda brasileira a práticas violentas ou “terroristas”.

A esquerda brasileira sempre foi pacífica, e diria até pacífica demais como se viu na falta de reação ao golpe de 1964. O presidente da UNE, José Serra, fugiu covardemente no primeiro dia do golpe. O presidente da República, João Goulart, desistiu covardemente de organizar uma reação armada – proposta insistentemente por Brizola. E ninguém mais. Só mais tarde, formar-se-ão grupos de resistência à ditadura, formados principalmente por jovens de classe média. Esses poucos jovens que reagiram são, por isso mesmo, os únicos que mostraram bravura. Podiam estar errados taticamente, mas moralmente estavam certos – e a vitória da “guerrilheira” Dilma Rousseff nada mais é do que uma justiça histórica.

Considero oportuno ler e divulgar esse livro, porque a sociedade brasileira não aguenta mais ser incomodada por uma mídia que, apesar de ter apoiado histericamente o golpe de Estado em 1964, ainda tem a petulância de dar voz a grupos de extrema direita e publicar fichas falsas de quadros políticos importantes, como foi o caso da atual presidente da república, Dilma Rousseff, vítima de uma fraude chancelada pela Folha de São Paulo. Sendo que o pior nem foi a fraude em si, nem foi a publicação de uma ficha falsa, e sim não se desculpar depois, nem pela ficha falsa nem pelo apoio que emprestou à ditadura.

Se a nossa mídia aprecia tanto a democracia, como tenta nos fazer entender com seus eternos editoriais apavorados com “setores autoritários” da esquerda, deveria em primeiro lugar explicar porque apoiou um golpe que nos destruiu moral e politicamente.

Tudo bem, houve anistia. Mas essa anistia não pode se transformar em cegueira histórica. O que aconteceu foi o que de mais grave e terrivel pode acontecer a um país. Quanto mais eu estudo história e filosofia da história, mais consciência eu tenho de que não podemos esquecer o que houve, até porque isso não é possível. Fatos históricos dessa magnitude permanecem influenciando a sociedade, concreta ou simbolicamente, por séculos. A luta se repete, e nessas eleições isso ficou bem claro. Experimentamos, novamente, uma luta contra a ditadura, e vencemos! Mas as forças conservadoras, responsáveis pela ditadura e hoje à frente das grandes redações, ainda tem poder. Seguramente tentarão voltar novamente ao Planalto em 2014. Cabe a nós não repetir a postura fujona e covarde de muitos em 1964 e seguir o exemplo dos jovens que lutaram nos anos seguintes. A história se faz com luta. Em nosso caso, felizmente, trata-se de uma luta democrática e pacífica, mas ainda sim com riscos e dores. A tortura psicológica que a mídia tem condições de inflingir hoje a seres humanos, com todos esses assassinatos de reputação, é tão ou mais terrível que as pancadas de antigamente.

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