192 anos de Karl Marx


Por Erick da Silva

Há 192 anos atrás, em 05 de maio de 1818, nascia Karl Marx, em Treves, Alemanha. Fundador do socialismo científico, Marx, a despeito de todas críticas e contestações, permanece como um marco referencial fundamental (e extremamente atual) para qualquer tentativa de compreensão da realidade.
Evidente que não pode se esperar encontrar "respostas" para todas as questões que envolvam o processo de desenvolvimento capitalista contemporâneo. Muitas das questões "não-previstas" por Marx residem justamente no pólo oposto ao qual muitos dos detratores do pensamento marxista apontam. Marx não desenvolveu, por exemplo, que o processo de degradação ambiental assumiria os contornos que rapidamente está assumindo. Ao ponto de, seguindo o atual curso irracional da produção capitalista global, não é nenhum delírio pensar em um total "esgotamento" ambiental. Ameaçando a própria vida na terra, pelo menos como a conhecemos.
O "erro" de Marx não reside no fato de não prever que, nas primeiras décadas do século XXI, o processo de desenvolvimento capitalista viria a tomar a face destrutiva atual, mas sim talvez  em um certo otimismo de que tais contradições já teriam se resolvido antes de chegarmos ao ponto em que estamos.
Um dos problemas dos "anti" ou "pós-marxistas" é que muitos deles parecem confundir Marx com Nóstradamus. Marx não foi (e nem tinha a pretensão de ser) um "futurólogo". Chega a  ser óbvio tal afirmação, no entanto, algumas obviedades por vezes são necessárias serem ditas.
A década de 90 foi, sem dúvida, um momento de recuo da aceitação das idéias marxistas. O colapso do dito "socialismo real" no leste europeu e a ascensão do neoliberalismo deram as "tintas" a um discurso triunfalista, onde nada poderia existir para além do capitalismo. Como bem aponta a historiadora Ellen Wood, a situação se colocava em contornos regressivos e, naquele momento, aparentemente inversíveis:
"A crítica do capitalismo está fora de moda - e há aqui uma curiosa convergência, uma espécie de sagrada aliança entre triunfalismo capitalista e pessimismo socialista. A vitória da direita se reflete na esquerda numa aguda contração das aspirações socialistas. Os intelectuais de esquerda, se não abraçam efetivamente o capitalismo como o melhor dos mundos possíveis, têm pouca esperança em algo mais que um pequeno espaço nos interstícios do capitalismo; e antevêem, na melhor das hipóteses, apenas resistências locais e particulares. E há outro efeito curioso de tudo isso. O capitalismo está se tornando tão universal, tão garantido, que passa a ser invisível."
A despeito disso, apenas alguns anos depois, a crise financeira mundial venho a botar por terra toda a crença no irredutível triunfo do capital, em sua face neoliberal. Ainda que as alternativas efetivas para uma superação deste modelo ainda são embrionárias, de um ponto de vista geral, a situação hoje é, qualitativamente  diferente daqueles anos 90. A crença no "deus mercado" já não tem mais o apelo e credibilidade de outrora. O espaço para um pensamento crítico é muito mais favorável e necessário.
Nesse cenário, onde temos urgência para a construção de alternativas ao falido modelo vigente, o instrumental crítico elaborado por Marx é um componente valioso para esta superação paradigmática. Mais do que somente atualizar o marxismo para uma melhor compreensão analítica e teórica, devemos nos inspirar em uma das mais famosas frases de Marx em suas Teses sobre Feuerbach: Os filósofos têm apenas interpretado o mundo de maneiras diferentes; a questão, porém, é transformá-lo.
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