Recomendo a leitura deste bom texto do Carpinejar sobre a volta do bom futebol do Ronaldinho Gaúcho e, principalmente, a urgência do Dunga chamar ele de volta para a seleção, afinal antes um Ronaldinho reencontrando o bom futebol do que um Robinho que está a quase um ano sem marcar um golzinho sequer pelo seu clube. Afinal, como bem lembra Carpinejar citando o indefectível Analista de Bagé 'Más vale ser um touro broxa que um boi tesudo'.
Fabrício Carpinejar
Não vi Garrincha jogar, o máximo que vi foi Maradona.
Não sofro de nostalgia por que existe Ronaldinho Gaúcho.
Não tenho nenhum receio de percorrer os dentes tortos do terço: rezo para que seja chamado para a Seleção.
Copa do Mundo sem ele é Copa das Confederações.
Mauricio de Sousa concordará comigo. Já tem um título mundial (2002), merece confiança, um time que o respeite e que não solte muxoxos no primeiro passe errado.
É um desperdício deixá-lo fora. Um atentado à plasticidade poética do esporte. Não é um jogador comum, é sobrenatural no lançamento. O mais perfeito driblador que surgiu nas últimas duas décadas. É desconcertante com seu elástico, com uma ambivalência esquisita e carismática. Propõe arrancadas febris, tabelas fulminantes e faltas espíritas. Torna o feio bonito, torna o desvio exultante, torna uma entrada dura em salto de balé.
Um cabeleireiro do abismo. Um Edward pés de tesoura. Corta os cabelos da bola enquanto outros cortam somente a grama. Transforma o difícil em fácil e o fácil em difícil.
Ronaldinho não é veterano, tem somente 29 anos, e parece tão antigo.
Seu ostracismo começou com a derrota brasileira na Copa de 2006. Era a estrela indiscutível, o melhor do mundo nos dois anos anteriores (2004 e 2005), o astro de uma equipe de veteranos. Sentiu o fracasso na mandíbula diante da França de Zidane. É como retornar de uma tragédia aérea, de um navio afundado.
Não foi a musculação que apagou seu futebol, não foi a boemia, só uma coisa o atingiu: trauma.
Desde então, não recuperou seus melhores momentos do Barcelona. Perdeu a desenvoltura. Ficou inseguro, com passes curtos, querendo logo se livrar da responsabilidade. Brigou com técnico. Assistiu a ascensão de Messi. Saiu do time. Partiu para o Milan. Foram quatro anos de desterro. A Copa que o matou é a única capaz de ressuscitá-lo. Qualquer filme B conhece esse roteiro. Dunga não pode desprezar os sinais. Lembra Romário na Copa de 94? Pois ele foi convocado na última hora e deu o que deu.
Analista de Bagé deveria pegar o caso. Colocaria o guri no pelego e avisaria: "Más vale ser um touro broxa que boi tesudo". E estaria resolvido.
Ronaldinho é selecionável de qualquer jeito. Não porque recuperou a forma e marcou três gols no domingo (17/1) na partida do Milan contra o Siena, não porque é o vice-artilheiro do Italiano, não porque voltou a jogar caindo pela esquerda por lucidez do treinador Leonardo. É obrigatória sua convocação simplesmente porque é Ronaldinho Gaúcho. Pode ser imitado pela bandana, mas é impossível um copista de sua arte.
O sublime é a insistência do dom. Ele tem a centelha perturbadora da vocação. O desequilíbrio da movimentação, talvez porque ele drible a si mesmo antes do oponente. Sei lá direito o que significa e como acontece. Alguns jogadores provocam admiração, ele produz o calafrio. Um suspiro emendado, interminável. O goleiro inglês Seaman da Inglaterra entende disso. Algo que supera a compreensão, que não é aplicável como regra.
Ele tem que ir para a África mesmo que fique no banco. É o Muhammad Ali do futebol. "Ronaldinho, bomaye!". Ninguém acredita que ele pode ressurgir, então ele exuberará seu talento, não terá aquela pressão asfixiante do Galvão Bueno dizendo que ele é o máximo.
O craque está de novo na periferia, do mesmo jeito discreto que começou com a camisa amarela, numa jogada espetacular contra a Venezuela aos 19 anos quando o público havia esquecido o que era toque de gênio (completou um chapéu no zagueiro e arrematou forte no canto).
Faltam menos de um mês para a convocação. Ronaldinho é o único nome certo que vejo na lista.
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