Historiadores denunciam perda, má gestão e roubo do acervo do RS

Os profissionais da área reivindicam políticas públicas de acervos para o Rio Grande do Sul, concurso público, medidas de seguranças, mais recursos para a área, forte atuação dos ministérios públicos estadual e federal. Zita está preocupada especialmente com o Arquivo Histórico do Rio Grande do Sul e com o Museu de Comunicação Social Hipólito José da Costa. Raul Pont adiantou que defenderá mais recursos para a área no orçamento de 2010 e sugeriu que as entidades também apresentem emendas populares. Além disso, propôs à Comissão de Educação que elabore um manual para subsidiar prefeitos em relação às suas responsabilidades legais e sobre a importância cultural da preservação de documentos históricos. Às vésperes do dia 20 de setembro, data alusiva à Revolução Farroupilha, historiadores gaúchos chamam a atenção para o abandono do acervo histórico do Rio Grande do Sul.
“Momentos cívicos como esse comprovam a importância da conservação dos documentos para a cultura do povo”, frisou a presidente da Associação Nacional de História, Elisabete da Costa Leal, para quem patrimônio e memória precisam ser alvos de políticas públicas. O abandono do patrimônio chegou a tal ponto que, em 2007, edições das revistas Kosmos, de 1926, e Kodac, de 1912, foram furtadas da Biblioteca Pública. “Em ambos os casos, a direções não comunicaram à polícia”, lamentou Zita Possomai, da Faculdade de Biblioteconomia e Comunicação da Ufrgs (Fabico), na manhã desta terça-feira (15), durante a audiência pública da Comissão de Educação, Cultura, Desporto, Ciência e Tecnologia da Assembleia Legislativa, que tratou do tema por sugestão do deputado e professor de História Raul Pont (PT).
Evitar outras perdas
A ideia da historiadora é evitar que o Rio Grande do Sul perca documentos históricos, como aconteceu recentemente com a transferência do acervo do escritor Erico Veríssimo para o Instituto Moreira Sales. Segundo ela, o acerco do fotógrafo ítalo-brasileiro Virgilio Calegari, retratando a Porto Alegre antiga, corre o risco de seguir o mesmo rumo. Ele disse que falta preparo técnico adequado e segurança para guardar arquivos, fotos, discos e obras de artes e conservar bibliotecas e museus. O último concurso para historiador data de 1992. E hoje são apenas quatro historiadores em todo o estado. Para a deputada Marisa Formolo (PT), não é possível resolver o problema do patrimônio histórico sem pensar em políticas integradas com a educação.

Acervo x literatura
“Como escritor, jamais poderia ter construído minha obra se não fosse a consulta em arquivos”, revelou o escritor Luiz Antonio de Assis Brasil, ao testemunhar a importância dos acervos para a literatura. As pesquisas no Arquivo Público do Estado lhe foram valiosas para edificar o livro “Videiras de Cristal”, de sua autoria. Atualmente, como coordenador do Espaço Delfos, da PUC, o escritor se dedica à preservação do patrimônio histórico, num espaço de 500 metros quadrados, com temperatura adequada para resguardar os volumes da umidade.
Por sua vez, Beatriz Muniz, do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, ressaltou como fundamental a questão funcional da estrutura das instituições. “Falta definir o perfil técnico que essas instituições demandam. Não necessitamos apenas de concurso público, mas de carreira e progressão para a permanência dos profissionais”.

Por Stella Máris Valenzuela.

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