A Google quer salvar os jornais. Cuidado....

Carlos Castilho

A mais valorizada empresa da internet, a Google, anunciou que está desenvolvendo em seus laboratórios um projeto de cobrança de conteúdos informativos publicados na rede. A informação pode se transformar em colírio nos olhos da traumatizada indústria de jornais, no mundo inteiro.

A dona do mais usado mecanismo de buscas da Web acha que o sistema estará pronto até janeiro e permitirá que os jornais possam cobrar por artigos ou pelo acesso à sua página online de notícias. Isto é música aos ouvidos dos donos de jornais que procuram desesperadamente uma fórmula salvadora para obter faturamento com a venda de noticias na internet.

A Google está fazendo uma adaptação do seu software CheckOut por meio do qual o usuário abre uma conta no sistema e a utiliza para compras, pagando com seu cartão de crédito. Na verdade é uma centralização de contas online, num único lugar.

A iniciativa da Google foi comunicada à Newspaper Association of America (NAA), a versão americana da nossa ANJ (Associação Nacional de Jornais) num documento de resposta a outro onde os donos de jornais dos Estados Unidos acusavam o mecanismo de buscas de apropriação indevida de informações publicadas na imprensa.

A resposta da Google tanto pode ser uma jogada política, na medida em que procura neutralizar as críticas de violação de direitos autorais para publicação de noticias no site Google News, como pode ser uma manobra mais ampla, cujo objetivo estratégico seria colocar um pé dentro da outrora lucrativa indústria de produção de notícias.

Os jornais estão numa situação delicada nesta queda de braço com a Google. Se por um lado não escondem a sua irritação com o fato de ela capturar informações publicadas na imprensa para inserí-las em seu jornal automático Google News, sem pagar nada à fonte, por outro, quase a metade dos acessos às páginas dos jornais na Web é feito por meio do sistema de buscas.

Há uma dependência mútua, o que complica a situação e evita que os jornais adotem posições mais radicais como a da agência de notícias Associated Press, que partiu para uma batalha política e jurídica visando cobrar da Google as notícias publicadas no Google News.

Mas a médio e longo prazos, os jornais não devem ter muitas ilusões com a estratégia da empresa criada há uma década por dois estudantes da Universidade Stanford e que hoje é vista por muitos como o grande Big Brother da era digital.

A Google está avançando seus peões em todas as áreas do conhecimento. Há pouco falei aqui na ofensiva pelo controle do mercado mundial de livros digitalizados. A Google está também desbancando a outrora toda poderosa Microsoft e não há a menor dúvida de que está de olho na indústria dos jornais, seguindo a máxima corporativa de procurar “organizar a informação existente no mundo e torná-la universalmente útil e disponível”.

Não é uma frase de efeito. Ela está na página, em inglês, de apresentação da empresa na internet. A Google já é hoje um complexo de 150 domínios na Web, e cada um deles pode ser considerado uma subsidiária em termos corporativos. É a empresa que mais cresce no mundo digital e seu valor de mercado já superou a General Electric, um ícone da economia industrial, em matéria de capitalização na bolsa de Nova Iorque.

Se os jornais aceitarem o esquema da Google, eles estarão repetindo a velha história da raposa cuidando do galinheiro. Ou seja, seu faturamento ficará nas mãos de um concorrente conhecido por seu ímpeto predatório, já que a Google compra tudo o que pode dar lucro no futuro (ver caso YouTube e os projetos de energia solar). Mas se resistirem à oferta, terão provavelmente que enfrentar uma longa batalha que pode exaurir suas forças antes de um desfecho amigável.


Por isto a indústria dos jornais investe na área política, procurando explorar mais uma vez seus laços com a elite partidária e governamental, bem como apelando para a solidariedade do setor corporativo. É uma estratégia suicida porque mina a credibilidade da imprensa. O que os empresários da indústria de jornais teimam em não ver é que sua salvação não está em decretos ou leis, mas nos leitores.


Pescado no Observatório da Imprensa

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