Em editorial, Folha decide apoiar os golpistas de Honduras

Na imprensa, os editoriais servem como declaração de tomada de posições. Revela como aquele veículo de comunicação irá se posicionar editorialmente em relação a determinado assunto. O editorial é o espaço esclarecedor que mostra com todas as letras o que os textos da cobertura jornalística mantém nas entrelinhas. Nesse sentido, é esclarecedor o editorial desta terça-feira (29) da Folha de S. Paulo sobre a situação de Honduras.
Ao invés de condenar os golpistas, como está fazendo toda a comunidade internacional, a Folha prefere criticar o governo brasileiro por dar abrigo ao presidente Manuel Zelaya. E pior: chega a elogiar os golpistas, dizendo que o "regime chefiado por Roberto Micheletti em Honduras ocupa categoria bem mais tênue de ilegitimidade democrática". A frase é praticamente uma releitura internacionalizada do termo "ditabranda" que tanto constrangimento causou ao jornal. (leia aqui)

E mais: o editorial ainda afirma que o "governo interino (...) respeitou a linha sucessória constitucional, assegurou o poder em mãos civis e manteve o calendário das eleições presidenciais, marcadas para 29 de novembro".

Ignorando as mais elementares noções de política externa, o jornal também "estranha" que o governo brasileiro não negocie com o "presidente" Micheletti, o que seria uma forma de reconhecer o governo golpista.

No editorial, não há palavra de condenação ao estado de sítio declarado pelo governo golpista, nem sobre os ataques à imprensa, ou sobre as ameaças à sede diplomática brasileira e as sucessivas violações aos direitos humanos perpetradas pelos gorilas hondurenhos.

Após um editorial tão esclarecedor, não causará surpresa se a cobertura jornalística dos veículos de comunicação do grupo Folha começar a pender para o apoio aberto aos golpistas que assaltaram o poder em Honduras.

Da redação,
Cláudio Gonzalez

Veja abaixo a íntegra do editorial da Folha:

Um passo atrás

Brasil se intromete mais do que deve em Honduras e toma atitude estranha de negar-se ao diálogo com governo de fato

O ENVOLVIMENTO do Brasil na crise hondurenha foi além do razoável, e provavelmente o Itamaraty já perdeu a capacidade de mediar o impasse. É preciso dar um passo atrás e recuperar a equidistância em relação seja à intransigência de um governo ilegítimo, seja a uma plataforma, dita bolivariana, descompromissada com a democracia.

O Brasil perdeu o mando sobre sua embaixada em Tegucigalpa. A casa está ocupada por cerca de 60 militantes, que acompanham o presidente deposto, Manuel Zelaya. Devido à omissão do governo brasileiro, Zelaya e seu séquito transformaram uma representação diplomática estrangeira numa tribuna e num escritório político privilegiados.

O salvo-conduto para o proselitismo chegou ao ápice no sábado. De dentro da embaixada brasileira, Zelaya conclamou a população do país à revolta. Se o Brasil considera o presidente deposto seu "hóspede", deve impor-lhe a regra fundamental da hospitalidade diplomática: calar-se sobre temas políticos internos. Do contrário, caracteriza-se intromissão de um país estrangeiro em assuntos domésticos hondurenhos.

A propósito, terá o Itamaraty controle sobre todos os cidadãos alojados em sua representação? Sabe, de cada um, a nacionalidade e o motivo de estar ali? O abrigo deveria restringir-se a Zelaya e seus familiares próximos; todos os demais precisam ser retirados da embaixada. Não cabe ao Brasil hospedar a guarda pretoriana do presidente deposto.

Outra posição cada vez mais estranha do Brasil é a recusa absoluta de negociar com o governo interino de Roberto Micheletti. Tal intransigência contraria a tradição diplomática do Itamaraty, não contribui para a dissolução do impasse e cai como uma luva para o objetivo do chavismo -interessado em prolongar a desestabilização política em Honduras.

O presidente Lula negocia com a ditadura cubana e a favor dela interveio na Assembleia Geral da ONU. Em Nova York, afagou o presidente do Irã, Mahmoud Ahmadinejad, que acabava de reiterar a negação do Holocausto e ser flagrado em nova trapaça nuclear. Logo depois, na Venezuela, Lula se reuniu com golpistas africanos e ditadores homicidas do continente, como Robert Mugabe (Zimbábue) e Muammar Gaddafi (Líbia) -o líder sanguinário do Sudão não pôde comparecer porque poderia ser preso numa conexão aérea.

O regime chefiado por Roberto Micheletti em Honduras ocupa categoria bem mais tênue de ilegitimidade democrática. Violou a Constituição ao expulsar do país um presidente eleito, quando a ordem da Corte Suprema era de prender Zelaya, por afronta a essa mesma Carta. O governo interino, contudo, respeitou a linha sucessória constitucional, assegurou o poder em mãos civis e manteve o calendário das eleições presidenciais, marcadas para 29 de novembro.

O Brasil precisa recobrar a lucidez diplomática -e, com ela, a sua capacidade de mediação. Ajudar a dissolver o impasse é a melhor contribuição que o Itamaraty tem a oferecer no caso de Honduras.


Fonte: Vermelho

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