O engodo das teorias raciais

Reproduzo abaixo um bom artigo do Jornalista Luis Nassif sobre o tema das pretensas pesquisas científicas que tentam relacionar inteligência com a questão racial. No fundo, todas estas pesquisas vêm apenas tentar legitimar um discurso racista por meio da pretensa imparcialidade da ciência (há quem crê nisso...).

Depois que a análise do DNA de James Watson – o prêmio Nobel que declarou que os negros eram menos inteligentes – identificou um percentual grande de genes negros, o preconceito científico sofreu um baque. Hoje, na “Folha”, o artigo “O cérebro não tem cor”, de Richard Nisbett, professor de psicologia da Universidade de Michigan (publicado originalmente no “The New York Times”) traz um histórico relevante sobre essa discussão.

* A primeira discussão pública notável dessa questão científica surgiu em um artigo publicado em 1969 por Arthur Jenson, psicólogo da Universidade da Califórnia em Berkeley. Ele sustentava que a diferença de 15 pontos nos resultados de testes de QI dos brancos e negros se devia a uma diferença genética incontornável entre as duas raças. (...) Na verdade, as provas favorecem fortemente a hipótese de que as diferenças de QI entre as raças têm origem ambiental e não genética.

* O argumento hereditarista parte da alegação de que entre 60% e 80% da variação no QI é determinada geneticamente. No entanto, a maioria dos estudos de características herdadas se baseia em pessoas de classe média. No caso dos pobres -grupo que inclui larga proporção de minorias étnicas-, um estudo recente de Eric Turkheimer, da Universidade da Virgínia, apontou que a influência hereditária é baixa, entre 10% e 20%.

* Quase todos os indícios que sugerem uma base genética para o diferencial de QI são indiretos. Temos, por exemplo, uma correlação entre tamanho do cérebro e QI, e os negros têm cérebros menores que os brancos; no entanto, homens e mulheres, duas categorias que também possuem essa diferença, obtêm resultados semelhantes em testes de QI.

* Cerca de 25% dos genes da população negra norte-americana são europeus, o que significa que os genes de qualquer indivíduo podem variar de 100% africanos a majoritariamente europeus. (...) Mas a cor da pele e os traços "negróides" do rosto -ambos indicadores da proporção de presença européia nos antepassados de um negro- apresentam correlação baixa com os resultados de QI (ainda que fosse possível esperar uma correlação moderadamente elevada devido às vantagens sociais que esses traços físicos conferem).

• Durante a Segunda Guerra Mundial, soldados norte-americanos, tanto negros quanto brancos, tiveram filhos com mulheres alemãs. Assim, algumas dessas crianças tinham herança 100% européia e outras tinham considerável presença de genes africanos. Testados mais tarde em suas infâncias, os filhos alemães de pais norte-americanos brancos apresentavam QI médio de 97, e os de pais negros, de 96,5, uma diferença irrelevante.

• O que defensores do hereditarismo dispõem de mais próximo a uma prova direta é um estudo dos anos 1970, segundo o qual crianças negras adotadas por pais brancos tinham QI mais baixo do que crianças de etnia mista adotadas por pais brancos. Mas, como reconheceram os pesquisadores, o estudo apresentava muitas falhas; por exemplo, as crianças negras haviam sido adotadas em idade substancialmente mais alta do que as crianças mestiças, e uma adoção em idade mais tardia apresenta correlação com QI mais baixo.

• Um estudo mais cuidadoso de adoções -que os hereditários preferem ignorar- foi conduzido pela psicóloga Elsie Moore, na Universidade Estadual do Arizona, e envolvia crianças negras e mestiças adotadas por famílias de classe média, negras ou brancas. O estudo não constatou diferença de QI entre as crianças negras e as mestiças. O mais revelador foi a constatação de Moore de que as crianças adotadas por famílias brancas tinham QI 13 pontos mais alto do que o das adotadas por famílias negras. Ou seja, o ambiente em que até mesmo crianças negras de classe média são criadas tende a favorecer menos o desenvolvimento de QI do que o ambiente da classe média branca.

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