Fora, povo!





Por Luis Fernando Veríssimo


Pesquisa recente concluiu que a elite brasileira é mais moderna, ética, tolerante e inteligente do que o resto da população. Nossa elite, tão atacada através dos tempos, pode se sentir desagravada com o resultado do estudo, embora este tenha sido até modesto nas suas conclusões. Faltou dizer que, além das suas outras virtudes, a elite brasileira é mais
bem-vestida do que as classes inferiores, tem melhor gosto e melhor educação, é melhor companhia em acontecimentos sociais e é incomparavelmente mais saudável. E que dentes!

A pesquisa reforça uma tese que tenho há anos, segundo a qual o Brasil,
para dar certo, precisa trocar de povo. Esse que está aí é de péssima
qualidade. Não sei qual seria a solução. Talvez alguma forma de
terceirização, substituindo-se o que existe por algo mais escandinavo. As
campanhas assistencialistas que tentam melhorar a qualidade do povo atual
só a pioram, pois, se por um lado não ajudam muito, pelo outro o encorajam
a continuar existindo. E pior, se multiplicando. Do que adianta botar
comida no prato do povo e não ensinar a correta colocação dos talheres, ou
a escolha de tópicos interessantes para comentar durante a refeição? Tente
levar o povo a um restaurante da moda e prepare-se para um vexame. O povo
brasileiro só envergonha a sua elite.

Se não tivéssemos um povo tão inferior, nossos índices sociais e de
desenvolvimento seriam outros. Estaríamos no Primeiro Mundo em vez de
empatados com Botsuana. São, sabidamente, as estatísticas de subemprego,
subabitação e outros maus hábitos do povo que nos fazem passar vergonha.

Que contraste com a elite. Jamais se verá alguém da elite brigando e
fazendo um papelão numa fila do SUS como o povo, por exemplo. Mas o que
fazer? Elegância e discrição não se ensina. Classe você tem ou não tem. Mas
o contraste é chocante, mesmo assim. Esse povo, decididamente, não serve.

Se ao menos as bolsas-família fossem Vuitton...

.

Nenhum comentário: