Truculência tucana: Tropa de Choque de Serra invade a USP e prende estudantes

A Tropa de Choque da Policia Militar de São Paulo, subordinada ao governador tucano José Serra, invadiu por volta das 2h desta quarta-feira (22) a Faculdade de Direito da USP, no Largo São Francisco, e usou da habitual truculência para expulsar cerca de 400 manifestates de movimentos sociais (muitos deles estudantes) que faziam a ocupação pacífica do prédio.
Apesar de ser público que o movimento permaneceria no local por apenas 24h, os manifestantes que dormiam no pátio foram retirados "à força e de forma violenta", segundo relatou a diretora da UNE, Luana Bonone, que estava na ocupação.
O comando da ocupação havia negociado com a direção da Faculdade, por meio do vice-diretor , professor Nestor Duarte. Segundo a assessoria de imprensa da PM, a reintegração partiu de uma determinação do governo do Estado.
Já de dentro do micro ônibus da polícia, Luana contou por telefone que a tropa de Choque chegou de surpresa, sem avisar ou negociar com as lideranças da ocupação.
"De forma agressiva, eles retiraram todos que estavam na Faculdade. Fomos revistados e obrigados a entrar no camburão. Ainda tentamos resistir, protestar, mas o Choque tinha um mandato de reintegração". Luana conta que depois, pouco a pouco, após serem "fichados", a PM começou a liberar os manifestantes.
O vice-presidente da UNE, Tales Cassiano, também foi preso. Ele conta que a polícia chegou gritando e levou todo mundo para fora da Faculdade.
"Na rua, ficamos sentados no chão gritando palavras de ordem, cercados de policias". Depois, ele foi levado ao 1º Distrito Policial, próximo à Praça da Sé, no centro da Cidade.
"Lá, quem era estudantes foi liberado. Mas o pessoal de outros movimentos sociais teve dificuldades. Os policiais queriam saber quem eram, o que faziam, e levantar a ficha de cada um", diz. Segundo Tales, foram mais de três horas, desde a invasão, até ser liberado, por volta das 6h50, quando conversou com a reportagem.
Estudantes são cercados Cerca de 30 estudantes que estavam dentro do Centro Acadêmico XI de Agosto foram encurralados pela tropa de Choque e resistiram à reintegração por cerca de quatro horas. A estudantes de Ciências Sociais da USP Flavia Duwe contou à reportagem que quando eles perceberam a invasão tentaram sair, mas a policia apontou armas e disse que todo mundo ia ser preso.
O presidente da UEE-SP (União Estadual dos Estudantes), que também estava dentro da sala, contou por telefone que o Choque em nenhum momento tentou negociar, "apenas ameaçava de prisão". Não houve a invasão do local porque o Centro Acadêmico é uma propriedade particular, que pertence aos alunos.
A representante da Defensoria Pública no local, Anaí Arantes, defendia o direito dos manifestantes em permanecerem no Centro. Segundo ela, a polícia não pode invadir o espaço. O professor em Direito Penal pela Faculdade de Direito Sérgio Salomão Shecaira também esteve no local e engrossou o discurso de Anaí, exigindo que o Centro não fosse invadido.
Os advogados do movimento e a imprensa foram proibidos de se aproximar. Um cordão de isolamento mantinha-os a cerca de 40 metros de distância. Apenas por volta das 5h30 os próprios integrantes do Centro Acadêmico conseguiram negociar a saída pacífica, com garantia de que não seriam presos.
"Mais uma vez o governo Serra age com toda a sua truculência para reprimir os movimentos sociais. Essa invasão da tropa de Choque é a demonstração de como o governo gosta de negociar: usando da força bruta. Mas isso só fortaleceu nosso movimento, que já está preparando um ato para as 15h e temos ainda uma série de manifestações programadas para os próximos dias. A Jornada continua, agora mais com força total", convocou Augusto.
As lideranças da Jornada de Lutas convocaram um ato de repúdio ao ocorrido para às 15h, no Largo São Francisco. Haverá ainda passeatas em diversas capitais como atividade integrante da Jornada.

Nota pública


Uma coordenação de imprensa da ocupação divulgou nota repudiando a ação da policia e reafirmando o caráter pacífico da manifestação. Leia abaixo:
Os integrantes de movimentos populares que ocuparam a Faculdade de Direito da USP na tarde desta terça feira vêm a público esclarecer os acontecimentos deste ato:
1) Esta ocupação faz parte de uma série de atos realizados através de uma ampla unidade de movimentos sociais em torno de um programa em defesa da Educação Pública em todo o país. Ocupações como esta ocorreram em diversos estados e universidades, como na UFMG, UFRJ e UFBA.
2) Esta era uma ocupação pacífica e simbólica, prevista para terminar às 17 horas da quarta feira, 22 de agosto, conforme negociado com a direção da Faculdade através do Professor Nestor Duarte, vice-diretor.
3) Por volta das duas horas da manhã, momento em que a maioria dos ocupantes já estava dormindo, a tropa de choque invadiu a Faculdade de Direito e realizou a desocupação, numa manifestação de truculência como não se via na Universidade de São Paulo desde a Ditadura Militar.
4) Policiais armados encaminharam os participantes detidos na Faculdade para a 1ª DP. Enquanto no Centro Acadêmico XI de Agosto alguns estudantes se preparavam para retornar à faculdade, a Polícia, sem mandado de reintegração de posse dirigido ao espaço do C.A., forçou, sem sucesso, a saída dos ocupantes inclusive com ameaças de utilização de armas de fogo.
5) Neste momento, a imprensa encontra-se contida pelo cordão de isolamento da PM, assim como os advogados chamados pelo movimento para acompanhar o caso.
6) Nós, estudantes resistentes no XI de Agosto, declaramos repúdio à ação da tropa de choque e condicionamos a nossa saída ao não fichamento de todos os participantes do ato e o acompanhamento da imprensa na delegacia e na sede do XI de Agosto.

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