O automobilismo se tornou um anacronismo, um luxo, num planeta que precisa cortar 50% da emissão de CO2. A opinião é do colunista James Porteous do The Herald. Quem comenta o artigo de James Porteous é Fábio Seixas que vive em Londres, onde faz mestrado em Administração Esportiva na London Metropolitan University. O artigo foi publicado no caderno de Esportes na Folha de S.Paulo, 8-06-2007.
Eis o artigo.
"James Porteus é colunista do inglês "The Herald" e, desde segunda-feira, um dos homens mais odiados pela F-1. O motivo, um artigo publicado naquela edição do diário. O título, curto e grosso: "O automobilismo deveria ser banido".
Porteous começa seu texto assim: "Há um esporte mais perigoso do que qualquer outro, que mata muito mais gente que o boxe, mas que, apesar disso, não suscita pedidos de banimento. Não é o rúgbi. Não é o hipismo. Não é nem o vale-tudo. Não. É hora de proibir o automobilismo. Não para salvar os pilotos, que provavelmente correm menos riscos que jogadores de futebol, mas sim para salvar o resto do planeta".
O colega se refere ao assunto do momento, o aquecimento global. E despeja uma série de números e estatísticas para embasar sua tese. O raciocínio é simplista. De um lado, a F-1, com seus carros que queimam 1,5 litro de gasolina e emitem 1,5 quilo de dióxido de carbono por quilômetro. Computados os testes e os vôos intercontinentais, calcula o inglês, cada piloto do grid "emite" 54 toneladas de CO2 nos oito meses que dura uma temporada.
Do outro, a Terra, sua atmosfera, sua população. O cenário mais otimista -aumento de 2ºC na temperatura até 2100- desenhado pelo Painel Intergovernamental sobre Mudança Climática, em maio, pede corte de pelo menos 50% nas emissões de carbono. Otimismo é mera força de expressão. Dois risquinhos a mais no termômetro significam geleiras derretendo, oceano subindo, cidades costeiras submergindo. "Quanto mais rápido o carro, mais rápido ele destrói a Terra. É simples. Vencer corridas e salvar o planeta são atos incompatíveis" , diz.
É, é simples assim. E não há mal nenhum, às vezes, em ser simplista, em ser direto, reto e sem rodeios. Mas a FIA, claro, não gostou. E foi rápida para reagir. Com raiva. Um assessor da entidade disse ter ficado chocado com a ingenuidade do colunista: "A F-1 sempre esteve na linha de frente das novas tecnologias e vai continuar assim, reutilizando a energia desprendida nos freios e pesquisando os biocombustíveis" .
Entre o naïf e o dissimulado, fico, sem titubear, com o primeiro. A adoção de etanol, como fez a IRL, ou de gasolina sem chumbo, caso da Nascar, só reduz parte do problema. Para continuar no tema da moda, imagine quanta cana-de-açúcar teria de ser plantada para mover uma temporada com 20 GPs e o quanto de área para produção de alimentos seria engolido com isso.
Amantes do automobilismo precisamos colocar na cabeça que o esporte tornou-se anacrônico, humanamente incorreto, que virou um luxo. Um luxo que cobra muito caro. Não demorará, alguém, num desses painéis da ONU ou da União Européia, jogará na mesa os danos causados pelo automobilismo. Um texto como o de Porteous num diário como o "Herald" é indício disso. É... Foi legal enquanto durou."
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"James Porteus é colunista do inglês "The Herald" e, desde segunda-feira, um dos homens mais odiados pela F-1. O motivo, um artigo publicado naquela edição do diário. O título, curto e grosso: "O automobilismo deveria ser banido".
Porteous começa seu texto assim: "Há um esporte mais perigoso do que qualquer outro, que mata muito mais gente que o boxe, mas que, apesar disso, não suscita pedidos de banimento. Não é o rúgbi. Não é o hipismo. Não é nem o vale-tudo. Não. É hora de proibir o automobilismo. Não para salvar os pilotos, que provavelmente correm menos riscos que jogadores de futebol, mas sim para salvar o resto do planeta".
O colega se refere ao assunto do momento, o aquecimento global. E despeja uma série de números e estatísticas para embasar sua tese. O raciocínio é simplista. De um lado, a F-1, com seus carros que queimam 1,5 litro de gasolina e emitem 1,5 quilo de dióxido de carbono por quilômetro. Computados os testes e os vôos intercontinentais, calcula o inglês, cada piloto do grid "emite" 54 toneladas de CO2 nos oito meses que dura uma temporada.
Do outro, a Terra, sua atmosfera, sua população. O cenário mais otimista -aumento de 2ºC na temperatura até 2100- desenhado pelo Painel Intergovernamental sobre Mudança Climática, em maio, pede corte de pelo menos 50% nas emissões de carbono. Otimismo é mera força de expressão. Dois risquinhos a mais no termômetro significam geleiras derretendo, oceano subindo, cidades costeiras submergindo. "Quanto mais rápido o carro, mais rápido ele destrói a Terra. É simples. Vencer corridas e salvar o planeta são atos incompatíveis" , diz.
É, é simples assim. E não há mal nenhum, às vezes, em ser simplista, em ser direto, reto e sem rodeios. Mas a FIA, claro, não gostou. E foi rápida para reagir. Com raiva. Um assessor da entidade disse ter ficado chocado com a ingenuidade do colunista: "A F-1 sempre esteve na linha de frente das novas tecnologias e vai continuar assim, reutilizando a energia desprendida nos freios e pesquisando os biocombustíveis" .
Entre o naïf e o dissimulado, fico, sem titubear, com o primeiro. A adoção de etanol, como fez a IRL, ou de gasolina sem chumbo, caso da Nascar, só reduz parte do problema. Para continuar no tema da moda, imagine quanta cana-de-açúcar teria de ser plantada para mover uma temporada com 20 GPs e o quanto de área para produção de alimentos seria engolido com isso.
Amantes do automobilismo precisamos colocar na cabeça que o esporte tornou-se anacrônico, humanamente incorreto, que virou um luxo. Um luxo que cobra muito caro. Não demorará, alguém, num desses painéis da ONU ou da União Européia, jogará na mesa os danos causados pelo automobilismo. Um texto como o de Porteous num diário como o "Herald" é indício disso. É... Foi legal enquanto durou."
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