Por Erick da Silva
Muitas mentiras foram ditas e repetidas como verdade na história do Brasil. Desde a chegada dos colonizadores portugueses até os nossos dias, não faltaram mentiras que perduraram como verdades. Mentiras criadas para mascarar tragédias, para fabricar falsos heróis, para criar falsas verdades. A cultura popular consagrou, mundialmente, o dia 1º de abril como o “dia da mentira”. No Brasil, a maior de todas as mentiras foi realizada neste dia.
Foi em 1° de abril de
1964, que uma coalizão civil-militar "assaltou o poder". Um golpe de estado que se autointitulou “revolução”.
“Revolução” que não tinha povo ao seu lado, “revolução”
que queria manter tudo como estava e acabar com as poucas e
necessárias mudanças sociais que se vislumbravam. Para tentar se
legitimar, os golpistas tinham que mentir.
Um golpe que dizia
defender a “democracia”. Para defender a democracia, acabaram com
ela, rompendo com a legalidade democrática instituída no Brasil
desde a Constituição de 1946. O congresso foi fechado, partidos
foram postos na ilegalidade e os direitos políticos passaram a ser
um privilégio daqueles que apoiavam o regime. Quem pensava diferente
era alvo de perseguição. Na tentativa vã de “manter as
aparências”, eleições eram realizadas, mas apenas dois partidos
podiam disputá-la: o partido do “sim!” e o partido do “sim,
senhor” (Arena e MDB). Numa ditadura amparada na mentira, nada
mais justo que houvessem eleições de mentira. Para tentar se
legitimar, os golpistas tinham que mentir.
A ditadura dizia-se
“nacionalista”, defensora dos “valores da pátria”, chegaram
até mesmo a criar uma campanha publicitária que dizia “Brasil:
Ame-o ou deixe-o”. No entanto, a verdade é que jamais o golpe
poderia ter ocorrido sem o apoio dos EUA. Antes dos “interesses
nacionais”, propalados pelos militares, haviam os “interesses dos
EUA”. Naquele mundo polarizado pela então chamada “Guerra Fria”,
os EUA não queriam ver mais um país converter-se ao comunismo, a
exemplo de Cuba, e fortalecer a influência da URSS na região.
Afinal, o Brasil estava situado no “quintal dos americanos”, e
servilmente, os militares atenderam ao chamado dos EUA. Não apenas
no golpe, mas durante todo o regime militar, os EUA estiveram em
estreita ligação com a ditadura. O nacionalismo dos militares era
muito mais verborrágico que efetivo. Para tentar se legitimar, os
golpistas tinham que mentir.
Curiosamente a ditadura
teve um único momento de verdade. Foi após o “Ato Institucional
nº05” em 1968, quando uma lei estabeleceu que não teria mais
nenhuma outra lei no país que não fosse a “vontade dos generais”.
Foi o momento que a ditadura se assumiu como ditadura. O que ocorria
nos “porões da ditadura”, no entanto, era a perpetuação da
mentira. As perseguições, censuras, prisões arbitrárias, torturas
e assassinatos - praticados pelo estado brasileiro - mantinham-se
ocultas, longe dos olhares da “família brasileira”. Para tentar
se legitimar, os golpistas tinham que mentir.
A economia foi terreno
de grandes proezas. Foram tempos do “milagre econômico”, o país
ostentava números realmente impressionantes: a inflação no período
teve uma média de 200% ao ano, a dívida externa pulou de 3,9
bilhões de dólares, em 1968, para 90 bilhões em 1980, ampliou-se a
concentração de renda e da propriedade, o desemprego e a miséria
atingiram números alarmantes, mais de 50% da população
economicamente ativa ganhava menos de um salário mínimo, no
entanto, o Brasil vivia um “milagre econômico”. Para tentar se
legitimar, os golpistas tinham que mentir.
A ditadura, em seu
moribundo momento final, tentou criar uma imagem de “branda” -
sendo chamada recentemente pelo jornal Folha de São Paulo de
“ditabranda” -, pois aqui não teria ocorrido tanto “derramamento
de sangue”, haviam “excessos dos dois lados”, etc. Sem dúvida
era uma luta equilibrada entre a ditadura e os “subversivos”,
afinal, o que dizer de um regime que, por exemplo, mobilizou 20 mil
homens para caçar 69 guerrilheiros do PCdoB no Araguaia? Para tentar
se legitimar, os golpistas tinham que mentir.
Em seu fim, a ditadura
ainda teria uma derradeira mentira. Quando o que restava de apoio e
legitimidade se esvaía, temerosa de que uma democracia, com
participação popular, viesse a lhes suplantar e expor para a
sociedade todos os crimes cometidos nos 21 anos de regime
ditatorial, a ditadura se autoconcedeu anistia “ampla e
irrestrita”. Para tentar se legitimar, os golpistas tinham que
seguir mentindo.
Em nossa história, não
faltaram verdades que foram sufocadas e esquecidas, seja pela espada
ou pela caneta dos poderosos. Mesmo que permanecendo por longos
períodos silenciada, a verdade acaba vindo à tona restituindo-se
como verdade, e a mentira, essa será colocada em seu devido lugar.
Mesmo que pelas “leis dos homens”, nenhum torturador foi ainda
julgado e condenado, da condenação da história eles não
escaparão.
Cartum: Latuff
.
17 comentários:
O mais longo, doloroso, penoso, triste 1º de abril da história do Brasil que juntou escravocratas, racistas, latifundiários, monocultores, biocidas, homófobos, madeireiros, mineradores, banqueiros, executivo, legislativo, judiciário. Batina sataniza demoniza; Toga crimina julga;Farda executa elimina. Saquearam povo cofres públicos e bens comuns. Privatizaram lucros,democratizaram prejuízos deixando mortos por enterrar vítimas feridos doentes enfermos por cuidar e estragos por consertar desta insanidade que legou o Estado Merdocrático de direita no Brasil inserido na sifilização merdocrática planetária. Se os danos são irreversíveis os crimes são imprescritíveis.Os que levar os bônus arquem com o ônus. E no país onde a bunda abuna, celulite, silicone e merda imperam. COMISSÃO VERDADE JUSTIÇA REPARAÇÃO DE DANOS DESDE 1946.A VERDADE FOI ASSASSINADA E A NOTÍCIA NÃO DEU NOS JORNAIS. 4 em cada 5 brasileiros nasceram após 1960. São meninos e meninas menores de 53 anos. Se os pais não souberam e o que sabem os filhos das ocultações de cadáveres ? Punição aos criminosos. O BRASIL ESTÁ NO BANCO DOS RÉUS. É RÉ PÚBLICA.
Grande parte da classe média, da mídia, dos empresários apoiou o golpe militar de 64. Tanto foi assim que não houve resistência.
E essa ditadura militar brasileira foi -- apesar de tudo -- muito mais branda do que a Argentina e chilena e, por isso, o termo ditabranda.
É só fazer a comparação, quantos morreram na Argentina e no Chile e quantos morreram no Brasil.
Passei meus tempos de estudante combatendo a ditadura militar.
Alguém que se diz "liberal", como vc Maia, vir aqui no meu blog para defender a ditadura militar é a maior de todas as bobagens que vc já nos brindou.
Só mesmo alguém com diarreia mental para dizer que a ditadura aqui era legitima por ter apoio da "mídia, empresários, etc". Se eles tinham todo este apoio, pq não disputaram eleições? Pq usaram das armas para destituir um governo legitimamente eleito?
Não existe "Ditadura branda", pergunte para todas as famílias de vítimas e desaparecidos da ditadura para conferir se eles acham que foi tão "branda" como vc, do alto de seus delírios, acredita.
Comparar mortes de uma ditadura com outra, é o típico exercício retorico de todo o cretino que, de alguma forma, sente saudades do período de exceção que dominou o país por 21 anos.
Se vc, de fato, quando estudante foi contra a ditadura, é ainda mais lamentável que, depois de velho, tenha virado um defensor da ditadura. Uma ditadura não se "relativiza". Não há espaço para defender "aspectos" dela. Isso é o mais puro e rasteiro cretinismo intelectual.
Não permitirei mais nenhum outro comentário neste blog a favor da ditadura, quem defende ela, vai experimentar um pouquinho do que é não ter a possibilidade de debater. Pode ser que neste pequeno exercício pedagógico ajude a ter uma visão um pouco menos bitolada com relação ao período de exceção em nosso país.
Passar bem!
Como informado anteriormente, todos os comentários que façam defesa do golpe militar de 64, serão sumariamente excluídos.
O que não é nada se compararmos com as vidas que foram sumariamente ceifadas pela ditadura.
Defensores da ditadura, procurem o site da Zero Hora ou da Folha, certamente por lá suas opiniões serão bem acolhidas.
Belíssimo artigo.
Os crimes da ditadura não podem ser esquecidos.
Erick, você tem um problema sério com interpretação de texto. Fico pensando, vocês que defendem o controle social da mídia vão excluir tudo que é tipo de informação que contraria seus interesses. Porquê não divulgar que a terrível ditadura militar -- contra a qual ajudei a derrubar -- causou 470 mortes e desaparecimentos, segundo dados do governo Lula, enquanto que na Argentina causou 9.000 e no Chile 27.000. Ou seja, apesar de terrível, autoritária etc. a ditadura militar brasileira, que calou minha geração, foi sim, muito mais branda do que as que ocorreram no Chile e na Argentina.
Por que isso não pode ser divulgado?????
Caro Maia, o seu último comentário foi excluído por ser ofensivo a este blogueiro. Os demais comentários pró-golpe que apareceram aqui, tb já foram excluídos.
Ao último, deixo publicado por expressar a tua opinião, ainda que trabalhe com dados questionáveis e não consolidados. Antes mesmo da instalação da comissão da verdade, este número de 470 vitimas diretas, já era questionado. Mas te devolvo a provocação: vc acha mesmo que 470 pessoas assassinadas é um número irrelevante?
Acho estranho esse tipo de comentário "malabarista": por um lado defende a nossa ditadura, por ela ter sido "branda", e por outro, se esforça em destacar que, em algum momento, vc se colocou contrário a ditadura.
Não conheço nenhum perseguido pela ditadura (e confesso que conheço muita gente que esteve diretamente relacionada), nenhum deles compactua com essa inflexão de que aqui a ditadura era branda. Quem cunhou esta falsa verdade histórica, vc sabe muito bem, e com quais objetivos. Se compactuas com eles, ainda que involuntariamente, é um equivoco apenas teu, aqui neste blog não daremos espaço algum para apologia a Ditadura Militar.
Quem quiser apoiar a ditadura(direta ou indiretamente), que procure algum destes blogs e sites obscuros que apenas lunáticos acessam.
Aqui não terão vez!
Erick, não fiz comentário pró-golpe, o qual ajudei a derrubar. Acho apenas que a história não pode ser contada de forma unilateral e ideologizada. Em 1964 grande parte da população brasileira apoiou o golpe. Era outra época, no auge da guerra fria e a paranóia comunista estava muito presente no coração e mentes dos brasileiros, sobretudo da classe média. Portanto, não se pode interpretar e escrever a história pelas lentes políticamente corretas (e muitas vezes preguiçosa e medíocre) do Brasil atual. O número 470 foi levantado pelo governo Lula e é sim elevado e não se justifica, mas se compararmos o que aconteceu na Argentina e no Chile tivemos, vamos dizer assim, uma ditadura menos violenta, mais branda. Isso é fato.
Uma coisa é apoiar o golpe militar, coisa que nunca fiz, outra coisa é fazer uma análise mais crítica e mais correta do que efetivamente aconteceu.
Mais uma vez tu te atrapalha na "análise isenta dos fatos". Primeiro, falar em "classe média" no Brasil dos anos 60 é falar de uma parcela pequena da população, muito distante do atual contingente que poderia ser economicamente classificado como tal. Logo, essa suposta legitimidade do golpe que tu tenta levantar é pueril e tendenciosa.
Relativizar a barbárie é o primeiro passo para que ela se repita.
Passar bem!
Como historiador, acho ofensiva e reducionista a interpretação do Maia.
Em primeiro lugar, a ditadura brasileira não foi "branda" porra nenhuma. Matou menos? Sim. Mas torturou e encarcerou mais do que as outras do Cone Sul, além de ter exportado seu know-how do terror para as outras regiões.
Em segundo lugar, o próprio simulacro de legalidade da ditadura já evidencia sua perversidade, na medida em que ele poderia ser suspenso ou negado pelo próprio regime, a qualquer momento. Neste sentido, a Constituição ilegal então vigente era apenas um mero artifício dos generais para legitimar o governo de facto.
Finalmente, os "liberais" brasileiros, em grande maioria, comeram na mão dos milicos. Por isso, não me espanto com o posicionamento relativizante do Maia.
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