A maior mentira da história do Brasil


Por Erick da Silva

Muitas mentiras foram ditas e repetidas como verdade na história do Brasil. Desde a chegada dos colonizadores portugueses até os nossos dias, não faltaram mentiras que perduraram como verdades. Mentiras criadas para mascarar tragédias, para fabricar falsos heróis, para criar falsas verdades. A cultura popular consagrou, mundialmente, o dia 1º de abril como o “dia da mentira”. No Brasil, a maior de todas as mentiras foi realizada neste dia.

Foi em 1° de abril de 1964, que uma coalizão civil-militar "assaltou o poder". Um golpe de estado que se autointitulou “revolução”. “Revolução” que não tinha povo ao seu lado, “revolução” que queria manter tudo como estava e acabar com as poucas e necessárias mudanças sociais que se vislumbravam. Para tentar se legitimar, os golpistas tinham que mentir.

Um golpe que dizia defender a “democracia”. Para defender a democracia, acabaram com ela, rompendo com a legalidade democrática instituída no Brasil desde a Constituição de 1946. O congresso foi fechado, partidos foram postos na ilegalidade e os direitos políticos passaram a ser um privilégio daqueles que apoiavam o regime. Quem pensava diferente era alvo de perseguição. Na tentativa vã de “manter as aparências”, eleições eram realizadas, mas apenas dois partidos podiam disputá-la: o partido do “sim!” e o partido do “sim, senhor” (Arena e MDB). Numa ditadura amparada na mentira, nada mais justo que houvessem eleições de mentira. Para tentar se legitimar, os golpistas tinham que mentir.

A ditadura dizia-se “nacionalista”, defensora dos “valores da pátria”, chegaram até mesmo a criar uma campanha publicitária que dizia “Brasil: Ame-o ou deixe-o”. No entanto, a verdade é que jamais o golpe poderia ter ocorrido sem o apoio dos EUA. Antes dos “interesses nacionais”, propalados pelos militares, haviam os “interesses dos EUA”. Naquele mundo polarizado pela então chamada “Guerra Fria”, os EUA não queriam ver mais um país converter-se ao comunismo, a exemplo de Cuba, e fortalecer a influência da URSS na região. Afinal, o Brasil estava situado no “quintal dos americanos”, e servilmente, os militares atenderam ao chamado dos EUA. Não apenas no golpe, mas durante todo o regime militar, os EUA estiveram em estreita ligação com a ditadura. O nacionalismo dos militares era muito mais verborrágico que efetivo. Para tentar se legitimar, os golpistas tinham que mentir.

Curiosamente a ditadura teve um único momento de verdade. Foi após o “Ato Institucional nº05” em 1968, quando uma lei estabeleceu que não teria mais nenhuma outra lei no país que não fosse a “vontade dos generais”. Foi o momento que a ditadura se assumiu como ditadura. O que ocorria nos “porões da ditadura”, no entanto, era a perpetuação da mentira. As perseguições, censuras, prisões arbitrárias, torturas e assassinatos - praticados pelo estado brasileiro - mantinham-se ocultas, longe dos olhares da “família brasileira”. Para tentar se legitimar, os golpistas tinham que mentir.

A economia foi terreno de grandes proezas. Foram tempos do “milagre econômico”, o país ostentava números realmente impressionantes: a inflação no período teve uma média de 200% ao ano, a dívida externa pulou de 3,9 bilhões de dólares, em 1968, para 90 bilhões em 1980, ampliou-se a concentração de renda e da propriedade, o desemprego e a miséria atingiram números alarmantes, mais de 50% da população economicamente ativa ganhava menos de um salário mínimo, no entanto, o Brasil vivia um “milagre econômico”. Para tentar se legitimar, os golpistas tinham que mentir.

A ditadura, em seu moribundo momento final, tentou criar uma imagem de “branda” - sendo chamada recentemente pelo jornal Folha de São Paulo de “ditabranda” -, pois aqui não teria ocorrido tanto “derramamento de sangue”, haviam “excessos dos dois lados”, etc. Sem dúvida era uma luta equilibrada entre a ditadura e os “subversivos”, afinal, o que dizer de um regime que, por exemplo, mobilizou 20 mil homens para caçar 69 guerrilheiros do PCdoB no Araguaia? Para tentar se legitimar, os golpistas tinham que mentir.

Em seu fim, a ditadura ainda teria uma derradeira mentira. Quando o que restava de apoio e legitimidade se esvaía, temerosa de que uma democracia, com participação popular, viesse a lhes suplantar e expor para a sociedade todos os crimes cometidos nos 21 anos de regime ditatorial, a ditadura se autoconcedeu anistia “ampla e irrestrita”. Para tentar se legitimar, os golpistas tinham que seguir mentindo.

Em nossa história, não faltaram verdades que foram sufocadas e esquecidas, seja pela espada ou pela caneta dos poderosos. Mesmo que permanecendo por longos períodos silenciada, a verdade acaba vindo à tona restituindo-se como verdade, e a mentira, essa será colocada em seu devido lugar. Mesmo que pelas “leis dos homens”, nenhum torturador foi ainda julgado e condenado, da condenação da história eles não escaparão.

Cartum: Latuff
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Laerte: Sexo Anal


Autor: Laerte
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Processos da Globo calam o blog Viomundo



A censura contra o jornalista Luiz Carlos Azenha, é profundamente revoltante. Mostra os efeitos perversos da união do monopólio midiático com a judicialização da política. O efeito é esse: quem pensa e expressa opiniões e fatos divergentes é calado. Calado pelo poder econômico  calado pela aliança umbilical com as estruturas arcaicas de poder no Brasil que, infelizmente, seguem fortes e inabaláveis, mesmo com os 10 anos de governos do PT. Pelo contrário, a presença de governos de esquerda não alterou nenhum milimetro no poder da Globo e cia, que seguem recebendo volumosos recursos publicitários do governo federal.
Não iremos esmorecer e nos calar frente a esta decisão injusta e arbitrária, a blogosfera, que o Azenha foi um dos principais idealizadores e entusiasta, não calara até impedir que tal absurdo seja revertido. Não desistiremos!

PS: A Globo, Folha, Estadão e cia, recentemente incensaram a blogueira cubana Yoani Sánchez como baluarte da "liberdade de expressão" contra a "ditadura cubana" (Sic). Como eles justificam agora a censura ao blogueiro Luiz Carlos Azenha?

Globo consegue o que a ditadura não conseguiu: calar imprensa alternativa


Por Luiz Carlos Azenha


Meu advogado, Cesar Kloury, me proíbe de discutir especificidades sobre a sentença da Justiça carioca que me condenou a pagar 30 mil reais ao diretor de Central Globo de Jornalismo, Ali Kamel, supostamente por mover contra ele uma “campanha difamatória” em 28 posts do Viomundo, todos ligados a críticas políticas que fiz a Kamel em circunstâncias diretamente relacionadas à campanha presidencial de 2006, quando eu era repórter da Globo.
 Lembro: eu não era um qualquer, na Globo, então. Era recém-chegado de ser correspondente da emissora em Nova York. Fui o repórter destacado para cobrir o candidato tucano Geraldo Alckmin durante a campanha de 2006. Ouvi, na redação de São Paulo, diretamente do então editor de economia do Jornal Nacional, Marco Aurélio Mello, que tinha sido determinado desde o Rio que as reportagens de economia deveriam ser “esquecidas”– tirar o pé, foi a frase — porque supostamente poderiam beneficiar a reeleição de Lula.
 Vi colegas, como Mariana Kotscho e Cecília Negrão, reclamando que a cobertura da emissora nas eleições presidenciais não era imparcial.
Um importante repórter da emissora ligava para o então ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos, dizendo que a Globo pretendia entregar a eleição para o tucano Geraldo Alckmin. Ouvi o telefonema. Mais tarde, instado pelo próprio ministro, confirmei o que era também minha impressão.
Pessoalmente, tive uma reportagem potencialmente danosa para o então candidato a governador de São Paulo, José Serra, censurada. A reportagem dava conta de que Serra, enquanto ministro, tinha autorizado a maior parte das doações irregulares de ambulâncias a prefeituras.
Quando uma produtora localizou no interior de Minas Gerais o ex-assessor do ministro da Saúde Serra, Platão Fischer-Puller, que poderia esclarecer aspectos obscuros sobre a gestão do ministro no governo FHC, ela foi desencorajada a perseguí-lo, enquanto todos os recursos da emissora foram destinados a denunciar o contador do PT Delúbio Soares e o ex-ministro da Saúde Humberto Costa, este posteriormente absolvido de todas as acusações.
Tive reportagem sobre Carlinhos Cachoeira — muito mais tarde revelado como fonte da revista Veja para escândalos do governo Lula — ‘deslocada’ de telejornal mais nobre da emissora para o Bom Dia Brasil, como pode atestar o então editor Marco Aurélio Mello.
Num episódio específico, fui perseguido na redação por um feitor munido de um rádio de comunicação com o qual falava diretamente com o Rio de Janeiro: tratava-se de obter minha assinatura para um abaixo-assinado em apoio a Ali Kamel sobre a cobertura das eleições de 2006.
Considero que isso caracteriza assédio moral, já que o beneficiado pelo abaixo-assinado era chefe e poderia promover ou prejudicar subordinados de acordo com a adesão.
Argumentei, então, que o comentarista de política da Globo, Arnaldo Jabor, havia dito em plena campanha eleitoral que Lula era comparável ao ditador da Coréia do Norte, Kim Il-Sung, e que não acreditava ser essa postura compatível com a suposta imparcialidade da emissora. Resposta do editor, que hoje ocupa importante cargo na hierarquia da Globo: Jabor era o “palhaço” da casa, não deveria ser levado a sério.
No dia do primeiro turno das eleições, alertado por colega, ouvi uma gravação entre o delegado da Polícia Federal Edmilson Bruno e um grupo de jornalistas, na qual eles combinavam como deveria ser feito o vazamento das fotos do dinheiro que teria sido usado pelo PT para comprar um dossiê contra o candidato Serra.
Achei o assunto relevante e reproduzi uma transcrição — confesso, defeituosa pela pressa – no Viomundo.
Fui advertido por telefone pelo atual chefão da Globo, Carlos Henrique Schroeder, de que não deveria ter revelado em meu blog pessoal, hospedado na Globo.com, informações levantadas durante meu trabalho como repórter da emissora.
Contestei: a gravação, em minha opinião, era jornalisticamente relevante para o entendimento de todo o contexto do vazamento, que se deu exatamente na véspera do primeiro turno.
Enojado com o que havia testemunhado ao longo de 2006, inclusive com a represália exercida contra colegas — dentre os quais Rodrigo Vianna, Marco Aurélio Mello e Carlos Dornelles — e interessado especialmente em conhecer o mundo da blogosfera — pedi antecipadamente a rescisão de meu contrato com a emissora, na qual ganhava salário de alto executivo, com mais de um ano de antecedência, assumindo o compromisso de não trabalhar para outra emissora antes do vencimento do contrato pelo qual já não recebia salário.
Ou seja, fiz isso apesar dos grandes danos para minha carreira profissional e meu sustento pessoal.
Apesar das mentiras, ilações e tentativas de assassinato de caráter, perpretradas pelo jornal O Globo* e colunistas associados de Veja, friso: sempre vivi de meu salário. Este site sempre foi mantido graças a meu próprio salário de jornalista-trabalhador.
O objetivo do Viomundo sempre foi o de defender o interesse público e os movimentos sociais, sub-representados na mídia corporativa. Declaramos oficialmente: não recebemos patrocínio de governos ou empresas públicas ou estatais, ao contrário da Folha, de O Globo ou do Estadão. Nem do governo federal, nem de governos estaduais ou municipais.
Porém, para tudo existe um limite. A ação que me foi movida pela TV Globo (nominalmente por Ali Kamel) me custou R$ 30 mil reais em honorários advocatícios.
Fora o que eventualmente terei de gastar para derrotá-la. Agora, pensem comigo: qual é o limite das Organizações Globo para gastar com advogados?
O objetivo da emissora, ainda que por vias tortas, é claro: intimidar e calar aqueles que são capazes de desvendar o que se passa nos bastidores dela, justamente por terem fontes e conhecimento das engrenagens globais.
Sou arrimo de família: sustento mãe, irmão, ajudo irmã, filhas e mantenho este site graças a dinheiro de meu próprio bolso e da valiosa colaboração gratuita de milhares de leitores.
Cheguei ao extremo de meu limite financeiro, o que obviamente não é o caso das Organizações Globo, que concentram pelo menos 50% de todas as verbas publicitárias do Brasil, com o equivalente poder político, midiático e lobístico.
Durante a ditadura militar, implantada com o apoio das Organizações Globo, da Folha e do Estadão — entre outros que teriam se beneficiado do regime de força — houve uma forte tentativa de sufocar os meios alternativos de informação, dentre os quais destaco os jornais Movimento e Pasquim.
Hoje, através da judicialização de debate político, de um confronto que leva para a Justiça uma disputa entre desiguais, estamos fadados ao sufoco lento e gradual.
E, por mais que isso me doa profundamente no coração e na alma, devo admitir que perdemos. Não no campo político, mas no financeiro. Perdi. Ali Kamel e a Globo venceram. Calaram, pelo bolso, o Viomundo.
Estou certo de que meus queridíssimos leitores e apoiadores encontrarão alternativas à altura. O certo é que as Organizações Globo, uma das maiores empresas de jornalismo do mundo, nominalmente representadas aqui por Ali Kamel, mais uma vez impuseram seu monopólio informativo ao Brasil.
Eu os vejo por aí.

PS do Viomundo: Vem aí um livro escrito por mim com Rodrigo Vianna, Marco Aurelio Mello e outras testemunhas — identificadas ou não — narrando os bastidores da cobertura da eleição presidencial de 2006 na Globo, além de retratar tudo o que vocês testemunharam pessoalmente em 2010 e 2012.

PS do Viomundo 2: *Descreverei detalhadamente, em breve, como O Globo e associados tentaram praticar comigo o tradicional assassinato de caráter da mídia corporativa brasileira.
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Veja: "A classe média sofre"



"A classe média sofre", essa é a imagem, não tão sutilmente, estampada na capa da Veja desta semana e alvo de parodia na imagem ao lado. 

Para eles é uma situação de "desesperadora" ver as trabalhadoras domésticas passarem a ostentar direitos trabalhistas.O "pânico" é justificável, afinal, sobrará um pouco menos para as compras em Miami.
O tom da cobertura midiática dos grandes veículos foi uníssono ao destacar o aumento no custo para os empregadores, como este aumento impactará  nas despesas domésticas para manter uma empregada doméstica. 
O jornal francês Le Monde classificou como  "A ‘segunda abolição da escravidão’ para as empregadas domésticas brasileiras", um tom muito diferente e raro de vermos estampados nas manchetes por aqui. A matéria lembra que o Brasil é campeão mundial do trabalho doméstico, de acordo com a Organização Mundial do Trabalho. "Com 6,1 milhões de empregados ‘de casa’, e 15% das mulheres ativas do país, a profissão é a terceira mais exercida pelas mulheres, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. As vagas são ocupadas por cidadãs negras e, em mais de 70% dos casos, de maneira informal". 
 A nova legislação  estende à categoria direitos como o controle da jornada de ­trabalho — com limite de 8 horas diárias e 44 horas semanais —, horas extras, FGTS obrigatório e seguro-desemprego. Um direito que já deveria estar em vigor há muito tempo e que agora passará a ser estendido as trabalhadoras domésticas.
Esta situação exemplifica o quanto ainda é necessário avançar na superação das amarras herdadas do nosso passado colonial escravocrata. No século XXI o Brasil começa a superar heranças do século XIX. Neste processo, não faltará o choro da elite a denunciar o "absurdo" que será ter que eles próprios lavar suas louças ou arrumar sua própria cama. Imagina quando começarmos a avançar em temas como as arcaicas legislações referentes a heranças e ao uso social da terra no país?
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FHC: Esqueçam o que li


O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, agora candidato à imortalidade, resenhou para aFolha a biografia de Albert Hirschman, pensador alemão naturalizado norte-americano, falecido em dezembro aos 97 anos. FHC rememora tempos de camaradagem na Universidade de Princeton, nos anos 1970. Fernando Henrique (“esqueçam o que escrevi”) Cardoso inaugura aqui o Fernando Henrique (“esqueci o que li”) Cardoso.
Hirschman foi um crítico incisivo das artimanhas do discurso conservador, que ele preferia chamar, sem meias palavras, de “reacionário”. Encoberto por um glacê de compaixão supostamente lógica, o blá-blá-blá da reação serve, desde a Revolução Francesa, acusa Hirschman, apenas para perpetuar os privilégios dos ricos e postergar os direitos dos pobres.
A Retórica da Intransigência (com edição brasileira da Companhia das Letras) demole argumentos que se ouvem por aí do tipo “o bolsa-família cria preguiçosos”, “defender os pobres é populismo”, “as revoluções sociais são contraproducentes”, ideias que FHC praticou com tanta convicção e tanto despudor, quando no governo. Outro contemporâneo de Hirschman em Princeton, o economista Pedro Malan, também aderiria, como ministro de FHC, ao baile de máscaras do status quo.
Aos 81 anos, o ex-presidente continua a dar muito trabalho ao seu computador e a seus leitores fiéis. A recompensa está a caminho. Mal fora anunciada a morte do historiador João de Scantimburgo, uma imediata mobilização se pôs em marcha para eleger Fernando Henrique para a cadeira 36 da Academia Brasileira de Letras. Com aquela modéstia característica, FHC aceitou, sem pestanejar, o ônus da imortalidade e o prazer do chazinho das quintas-feiras ao lado de Arnaldo Niskier e Merval Pereira. O rolo compressor já aplastrou outros eventuais candidatos.
De novo, aparece o paradoxo: por mais que FHC insistisse nisso, tem gente que não esqueceu o que ele escreveu. E que até o leva a sério.nando Henrique (“esqueçam o que escrevi”) Cardoso inaugura aqui o Fernando Henrique (“esqueci o que li”) Cardoso.

Fonte: Carta Capital

O Ato contra aumento da passagem em Porto Alegre (Visto por dentro)


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Estudantes convocam grande ato pela redução da tarifa do ônibus em POA


Segunda-feira vai ser maior!

Porto Alegre vai parar (de novo)!

Nenhum direito a menos, redução da tarifa já!

Concentração a partir das 18h na prefeitura.

Links para os eventos:
Protesto na prefeitura contra o aumento da passagem:https://www.facebook.com/events/428312337262532
Pela redução da tarifa, segunda vai ser maior:https://www.facebook.com/events/550270634996321
Protesto contra o aumento da passagem na prefeitura:https://www.facebook.com/events/432786386812799/

Ocupe as ruas com a sua indignação!
Vamos revogar este aumento pela força das ruas!

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Emir Sader: Por que a direita perde no Brasil?


Por Emir Sader

A direita esgotou suas distintas modalidades de governo – ditadura militar, governos neoliberais – entre 1964 e 2002, ficou esvaziada de alternativas e tem que ver, passivamente, governos pós-neoliberais derrotá-la – de 2002 a 2010, muito provavelmente 2014, completando, pelo menos, 16 anos fora do governo.

Por que isso acontece? Em primeiro lugar, porque se equivoca nos diagnósticos dos problemas brasileiros e coloca em prática soluções equivocadas, sem capacidade de fazer autocritica e emendar seus caminhos.

Prévio ao golpe de 1964, o diagnóstico se voltava contra “a subversão”, acusando complôs internacionais que buscaria implantar no Brasil “o comunismo”. O Estadão, por exemplo, chamava, nos seus vetustos editoriais, o moderado governo Jango de governo “petebo-castro-comunista”. 

Daí que o centro do regime militar foi a repressão, para extirpar todos os vírus da subversão, limpando o organismo brasileiro dos elementos infiltrados. Nasceu de um golpe apoiado consensualmente pelo bloco dominante – grande empresariado, imprensa, Igreja católica, governo dos EUA, FFAA.

Passada a euforia inicial, o regime se estabilizou apoiado sempre na repressão, mas também numa política econômica, em que o santo do “milagre” foi o arrocho salarial, que permitiu o crescimento exponencial da exploração dos trabalhadores e dos lucros das grandes empresas nacionais e estrangeiras.

A retomada do crescimento econômico se baseou num modelo com um marco classista evidente: se baseava no consumo das esferas altas do mercado e na exportação, relegando a grande massa da população, afetada pelo arrocho salarial. Foi uma lua de mel idílica para o grande capital, que recebia todo o apoio governamental e não encontrava resistência nos sindicatos – todos sob intervenção militar.

Foi um sucesso que, assentado também nos empréstimos externos – especialmente quando o capitalismo internacional passou do seu ciclo longo expansivo do segundo pós-guerra a seu ciclo longo recessivo, iniciado em 1973 –, o que fez com que o modelo se esgotasse com a crise da divida – na virada dos anos 1970 à década seguinte.

Passou-se a apostar na democracia como a solução de tantos problemas acumulados no Brasil. O bloco dominante fez uma tortuosa transição da passagem do apoio à ditadura para a democracia, ajudado pela fundação do PFL e pela aliança, pela derrota da campanha das diretas e pela eleição do novo presidente pelo Colégio Eleitoral, que consagrou a aliança entre o velho e o novo – este na sua modalidade mais moderada, com Tancredo Neves.

O governo Sarney funcionou como transição entre a temática ditadura/democracia para a temática Estado/mercado. A democratização reduziu-se ao restabelecimento formal dos direitos políticos, sem democratizar nenhuma outra estrutura da sociedade: nem as grandes corporações privadas, nem os bancos, a terra, a mídia.

Com Collor introduziu-se no Brasil o diagnóstico neoliberal: a economia não voltava a crescer por excesso de regulamentação. E, no seu bojo, vieram as privatizações, o Estado mínimo, a precarização laboral, a abertura do mercado. A queda do Collor deixou essas bandeiras disponíveis, que encontraram em FHC sua reformulação – naquela que passou, até hoje, a ser o diagnóstico da direita sobre os problemas do Brasil, resumidos num tema: o Estado não é a solução, mas o problema – como enunciado por Ronald Reagan há já mais de 30 anos.

Lula veio para desmontar esses diagnósticos. O Estado mínimo favoreceu a centralidade do mercado e, com ela, a exclusão social e a concentração de renda, pela falta de proteção que politicas sociais levadas a cabo pelo Estado poderiam levar adiante.

O sucesso dos governos Lula e Dilma deixa desarmados e desconcertados os próceres – partidários e midiáticos – da direita. A crise do capitalismo iniciada em 2008 e que segue sem hora para acabar, gerou um novo consenso na necessidade de intervenção anticíclica do Estado. A capacidade de resistência dos governos progressistas da América Latina pela prioridade das politicas sociais, dos processos de integração regional e dos intercâmbios Sul-Sul, e pela recuperação do Estado como indutor do crescimento econômico e garantia das dos direitos sociais da maioria – terminou de desarvorar a direita e deixá-la sem plataforma e sem alternativas.

Os candidatos que buscam uma brecha para se projetar – sejam Serra, Heloisa Helena, Alckmin, Marina, Plínio, Aécio, Eduardo Campos – se situam à direita do governo. Não conseguem reconhecer o extraordinário processo de democratização social que o pais vive há mais de 10 anos. Ou tentam aparecer como seus continuadores – como na primeira parte da campanha do Serra em 2010 –, ou desconhecem o novo panorama social brasileiro e atacam o Estado – de forma direta, como o Alckmin em 2006, ou de forma indireta, com a centralidade do combate à corrupção, outra forma do diagnostico de que o problema do Brasil é o Estado ou ainda na temática ecológica com a visão de que a “sociedade civil” é alternativa ao Estado, como a Marina.

Assim, a direita perdeu em 2002, 2006, 2010, e tem todas as possibilidades de seguir perdendo em 2014 e depois também. Porque não entende o Brasil contemporâneo, seu diagnóstico ainda é o neoliberal.

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Comissão aprova proposta que dá poder para igrejas questionarem leis no STF


As relações entre a política e a religião avançam a passos largos no país. O frágil caráter laico do estado brasileiro sofre mais um golpe.
A Comissão de Constituição e Justiça da Câmara dos Deputados aprovou, nesta quarta-feira, 27/04, a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) 99/11, do deputado João Campos (PSDB-GO), que inclui as entidades religiosas de âmbito nacional entre aquelas que podem propor ação direta de inconstitucionalidade e ação declaratória de constitucionalidade ao Supremo Tribunal Federal (STF).

Entre estas entidades estão, por exemplo, a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), o Supremo Concílio da Igreja Presbiteriana do Brasil e a Convenção Batista Nacional. A PEC será analisada por uma comissão especial e, em seguida, votada em dois turnos pelo plenário.
Atualmente, só podem propor esse tipo de ação o presidente da República, a mesa do Senado Federal, a mesa da Câmara dos Deputados, a mesa de Assembleia Legislativa ou da Câmara Legislativa do Distrito Federal, governadores de Estado ou do Distrito Federal, o procurador-geral da República, o Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil, partidos políticos com representação no Congresso Nacional e confederações sindicais ou entidades de classe de âmbito nacional.

Essa PEC surgiu quando as tentativas do Deputado João Campos e outros teocratas de questionar a decisão do STF a respeito da união homoafetiva não resultaram em nada. Através desta via, esperam eles ter um amparo constitucional para barrar qualquer medida de caráter civilizatório que fira seus dogmas e princípios teocráticos. Com isso, o caráter laico da sociedade brasileira  se fragilizaria ainda mais. Para evitar essa situação, que todos os esforços para barrar esse PEC devem ser feitos.
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O Nazijornalismo do CQC contra José Genoíno


“Hoje esse silêncio vai ter que acabar, custe o que custar”, com essa frase, digna de um torturador, um dos pseudo-humoristas do CQC sintetiza um pouco do lixo midiático exposto na Band. Não precisa ser defensor do deputado José Genoíno para reprovar o que ocorreu, eu nutro profundas críticas políticas ao José Genoíno, mas antes de qualquer divergência política, o tratamento absurdo e ridículo do CQC ao deputado é deplorável. Se tiver estomago (e paciência), o vídeo está ao final do post.
Segue abaixo a opinião do jornalista Leandro Fortes, que este blogueiro tem total concordância.

Nazijornalismo

Por Leandro Fortes

A violência do CQC contra o deputado José Genoíno alcançou, essa semana, um grau de bestialidade que não pode ser dimensionado à luz do humorismo, muito menos no campo do jornalismo. Isso porque o programa apresentado por Marcelo Tas, no comando de uma mesa onde se perfilam três patetas da tristeza a estrebuchar moralismos infantis, não é uma coisa nem outra. 

Não é um programa de humor, porque as risadas que eventualmente desperta nos telespectadores não vem do conforto e da alegria da alma, mas dos demônios que cada um esconde em si, do esgoto de bílis negra por onde fluem preconceitos, ódios de classe e sentimentos incompatíveis com o conceito de vida social compartilhada. 

Não é jornalismo, porque a missão do jornalista é decodificar o drama humano com nobreza e respeito ao próximo. É da nobre missão do jornalismo equilibrar os fatos de tal maneira que o cidadão comum possa interpretá-los por si só, sem a contaminação perversa da demência alheia, no caso do CQC, manipulada a partir dos interesses de quem vê na execração da política uma forma cínica de garantir audiência.

A utilização de uma criança para esse fim, com a aquiescência do próprio pai, revela o grau de insanidade que esse expediente encerra. O que se viu ali não foi apenas a atuação de um farsante travestido de jornalista a fazer graça com a desgraça alheia, mas a perpetuação de um crime contra a dignidade humana, um atentado aos direitos humanos que nos coloca, a todos, reféns de um processo de degradação social liderado por idiotas com um microfone na mão.

A inclusão de um “repórter-mirim” é, talvez, o elemento mais emblemático dessa circunstância, revelador do desrespeito ao ofício do jornalismo, embora seja um expediente comum na imprensa brasileira. Por razões de nicho e de mercado, diversos veículos de comunicação brasileiros têm lançado, ao longo do tempo, mão dessa baboseira imprestável, como se fosse possível a uma criança ser repórter, ainda que por brincadeira.

Jornalismo é uma profissão de uma vida toda, a começar da formação acadêmica, a ser percorrida com dificuldade e perseverança. Dar um microfone a uma criança, ou usá-la como instrumento pérfido de manipulação, como fez o CQC com José Genoíno, não faz dela um repórter – e, provavelmente, não irá ajudá-la a construir um bom caráter. É um crime e espero, sinceramente, que alguma medida judicial seja tomada a respeito.

Não existem repórteres-mirins, como não existem médicos-mirins, advogados-mirins e engenheiros-mirins.

Existem, sim, cretinos adultos.

E, a estes, dedico o meu desprezo e a minha repulsa, como cidadão e como jornalista.


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"Ovos de Páscoa para Hitler"


Dois soldados americanos mostram orgulhosos os "ovos de Páscoa" personalizados (peças de artilharia 155mm) antes de atirá-las.

Foto: National Archives
Fonte: Imagens Históricas

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Os crimes do Estado se repetem como farsa


Por Maria Rita Kehl


Que tudo “continue assim”, isto é a catástrofe.
Walter Benjamin
Hoje se comemora o Dia Internacional do Direito à Verdade. A data foi escolhida pela ONU em dezembro de 2010 para lembrar o assassinato do defensor de direitos humanos em El Salvador, monsenhor Oscar Romero, em 24 de março de 1980. A relação estabelecida pela resolução da ONU entre dignidade humana e direito à verdade fez com que a Comissão Nacional da Verdade (CNV) decidisse comemorá-la nas ruas de São Paulo e do Rio de Janeiro.
“A verdade liberta”, proclamou ao telefone meu amigo, o psicoterapeuta Nelson Motta Mello, ao saudar a formação da CNV, em maio de 2012. Poupo o leitor do debate sobre o estatuto ontológico da verdade, que nem Cristo (nem Lacan) respondeu a contento.
Se não nos é possível estabelecer com precisão o que é a verdade, não há dificuldade em entender os efeitos da sua falta –ou da sua interdição– tanto na vida psíquica quanto na dinâmica social. A psicanálise freudiana poderia ser entendida, “lato sensu”, como uma metapsicologia do direito à verdade psíquica.
Foi no final do século 19, quando a moral da nova classe emergente na Europa impunha o silêncio sobre as representações da vida sexual, que Freud anunciou sua hipótese a respeito do sofrimento histérico: “A histérica sofre de reminiscências”. As enigmáticas crises de conversão das histéricas não passavam, para o inventor da psicanálise, de tentativas de dizer com o corpo verdades que estavam impedidas de recordar em pensamento e anunciar na fala.
O discurso corporal da histeria é composto de fragmentos recalcados de lembranças e/ou fantasias sexuais interditadas, que buscam expressão através do sintoma. Aos poucos, Freud compreendeu que o estatuto da “verdade” de suas pacientes histéricas nem sempre correspondia ao senso comum: o que o tratamento psicanalítico revela são fragmentos da verdade psíquica, cujas conexões com os fatos objetivos da vida passam por caminhos singulares e tortuosos.
É que o recalcado só pode chegar à consciência através das formações secundárias, que deformam a marca primordial do vivido (inacessível ao próprio sujeito) para se adequar às formas corriqueiras da linguagem. Apesar das dificuldades de interpretação e das limitações da técnica nos primórdios da psicanálise, a possibilidade de expressar a fantasia recalcada revelou que a verdade psíquica é capaz de libertar o neurótico das repetições sintomáticas.
Em 1914 Freud estabeleceu, em “Recordar, Repetir, Elaborar”, uma importante relação entre o esquecimento promovido pelo recalque e a repetição do sintoma neurótico: a compulsão à repetição seria a maneira enviesada que o neurótico encontra para tentar trazer à consciência uma cena, uma fantasia ou um pensamento, recalcado.
O sintoma seria movido pela compulsão à repetição de um trauma e/ou de um gozo interditado, a cumprir duas funções antagônicas, a de promover um retorno em ato do que foi esquecido e permitir, ao mesmo tempo, um simulacro do prazer proibido. Ao dar vazão ao recalcado, os sintomas constituem o “modo de recordar” encontrado pelo neurótico. Contra a dobradinha patológica esquecimento/sintoma, Freud propôs a elaboração do trauma.
Tal necessidade de elaboração pode ser observada tanto nas modalidades individuais de retorno do sofrimento psíquico individual quanto nas repetições de fatos violentos e traumáticos que marcam as sociedades governadas com base na supressão da experiência histórica.
TOTALITARISMO
Todos os Estados totalitários se apoiam na supressão do direito à informação. Só assim conseguem silenciar, pelo menos por um tempo, a propagação das violações, dos abusos, das violências contra o cidadão praticadas em “nome da ordem”, a revelar que na vida social não há direito perdido que não tenha sido usurpado por alguém. Falta de liberdades, de direitos e de acesso à informação são elementos fundamentais na consolidação do terrorismo de Estado.
Se o estabelecimento da verdade histórica, nas democracias, está sujeito a permanente debate, o direito de acesso a ela deve ser incontestável. A garantia do direito à verdade opõe-se à imposição de uma versão monolítica, característica dos regimes autoritários de todos os matizes. Ela exige a restauração da memória social, estabelecida no debate cotidiano e sempre exposta a reformulações, a depender das novas evidências trazidas à luz por ativistas políticos e pesquisadores.
Este é o estatuto da verdade buscada pela CNV: além da revelação objetiva dos crimes praticados por agentes do Estado contra militantes políticos, estudantes, camponeses, indígenas, jornalistas, professores, cientistas, artistas e tantos outros –cuja prova está documentada em arquivos públicos, muitos deles considerados ultrassecretos–, o relatório final produzido pela comissão pode restaurar um importante capítulo da experiência política brasileira.
A verdade social não é ponto de chegada, é processo. Sua elaboração depende do acesso a informações, mesmo as mais tenebrosas, mesmo aquelas capazes de desestabilizar o poder e que, por isso, se convencionou que deveriam ser mantidas em segredo. Se o reconhecimento dos fatos que um dia se tentou apagar não costuma trazer boas notícias, em contrapartida a supressão da verdade histórica produz sintomas sociais gravíssimos –a começar pela repetição patológica de erros e crimes passados.
Melhor encarar as velhas más notícias e transformar a vivência bruta em experiência coletiva, no sentido proposto por Walter Benjamin. Para isso é preciso construir uma narrativa forte e bem fundamentada, capaz de transformar os restos traumáticos da vivência do período ditatorial em experiência coletiva. “Para que se (re)conheça, para que nunca mais aconteça.”
Freud poderia ter lido Marx a respeito das repetições farsescas dos capítulos mal resolvidos da história. Se o sintoma neurótico é a verdade recalcada que retorna como uma espécie de charada que o sujeito não decifra, o mesmo vale para os sintomas sociais. O Brasil ainda sofre com os efeitos da falta de acesso à verdade dos períodos vergonhosos de sua história, desde a escravidão até a ditadura militar. O modo como a ditadura negociou sua dissolução com a sociedade brasileira –uma negociação entre quem tinha as armas na mão e quem até então estivera sob a mira delas– funcionou como um verdadeiro convite ao esquecimento.
O apagamento rápido (e forçado) dos crimes da ditadura lembra os efeitos perversos do esquecimento dos crimes da escravidão. No segundo caso, a falta de reconhecimento do estatuto criminoso de três séculos de escravidão impediu a promoção de políticas de reparação às populações afrodescendentes recém-libertas do cativeiro. Os sintomas do esquecimento estão aí até hoje, na perpetuação muitas vezes impune do trabalho escravo em fábricas e fazendas, a lembrar a advertência de Nabuco de que a prática continuada da escravidão perverteria a elite brasileira.
Não é absurdo pensar que o Brasil, país do esquecimento fácil, do perdão concedido antes por covardia e complacência do que por efeito de rigorosas negociações, seja um país incapaz de superar sua violência social originária. Os sintomas da brutalidade consentida ressurgem nas execuções policiais que vitimam jovens nas periferias de São Paulo, nas favelas do Rio e em todas as outras grandes cidades brasileiras. Ressurge nos assassinatos de defensores da floresta e pequenos agricultores, por jagunços e policiais a mando de grandes grileiros de terras.
E se repete como farsa em episódios recentes, como o da bomba lançada no dia 7 contra a sede da OAB do Rio de Janeiro, acompanhada das mesmas ameaças sinistras com que agentes da repressão tentaram intimidar os que articulavam, na década de 1980, a volta do Estado de Direito. Ou nas acusações de militares da reserva contra investigações conduzidas pela CNV, como se fosse o trabalho da comissão, e não os abusos cometidos no passado, o que mancha a imagem das Forças Armadas.
Ou ainda em artigos como os de Contardo Calligaris, colunista da Folha, que conjeturou sobre a suposta conveniência de torturar alguém, sem levar em consideração que a comunidade internacional já decidiu que a tortura é crime de lesa-humanidade.
ARTE
Só a arte nomeia os crimes silenciados no Brasil. As instalações de Cildo Meireles e Nuno Ramos. O teatro da Companhia do Latão, d’Opovoempé e outros grupos corajosos. O rap de Mano Brown e outros manos; faixas dos últimos CDs de Caetano Veloso e de Chico Buarque. Os filmes de Sérgio Bianchi, Rubens Rewald e, recentemente, do pernambucano Kleber Mendonça Filho.
Muitos comentários elogiosos a “O Som ao Redor” se referiram ao contato inevitável que a vida urbana promove com os ruídos emitidos pelos vizinhos, que nem as muralhas protetoras dos grandes condomínios conseguem isolar. Sim, os barulhos inconvenientes da vida na cidade geram tensão e desconforto num filme de enredo aparentemente banal.
Mas essa não é a razão da grandeza do filme, que a crítica foi unânime em elogiar. Poucos críticos compreenderam o tema do retorno do recalcado, revelado na cena final, em que os dois seguranças da rua são chamados cordialmente pelo patriarca para executar um desafeto na fazenda –à antiga maneira dos senhores de engenho– e, na contramão da lógica da dominação cordial, revelam ter vindo cobrar o antigo assassinato de seu pai (“por causa de uma cerca…”).
A última cena ilumina as razões da inclusão de uma foto de representantes das ligas camponesas, organizada nas décadas de 50 e 60 e dizimadas pela ditadura, inserida entre as imagens que compõem a abertura do filme. No último segundo do filme, um estampido forte –foi tiro ou o rojão da moça insone contra o cachorro do vizinho?– vem revelar a verdadeira natureza do incômodo som ao redor, metáfora de velhas brutalidades, jamais elaboradas ou reparadas, que estão na origem da história da luta pela terra e na base do eterno poder do mais forte no Brasil.
* Publicado no caderno Ilustríssima, da Folha de S.Paulo de 24/03/2013.
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David Harvey: "Temos a obrigação de articular uma alternativa anticapitalista."


David Harvey, geógrafo de formação, o britânico é um dos grandes analistas da obra de Karl Marx. Ele está lançando no Brasil o livro Para Ler O Capital (Editora Boitempo), fruto dos mais de 40 anos de cursos sobre O capital de Marx lecionados por Harvey em universidades ao redor do mundo. Por ocasião de sua vinda a Porto Alegre, o jornal Zero Hora fez uma entrevista com ele, que segue reproduzida abaixo:

Zero Hora – O que o senhor pode adiantar de sua conferência?
David Harvey –
 O tema vai girar sobre os motivos para ler Marx hoje, e que tipo de coisas podemos aprender com ele e o que não podemos aprender com ele, dado que tem havido muitos mal-entendidos a respeito disso. Vou falar também sobre sua significação política e também o quão útil ele pode ser para a compreensão do contexto das atuais dificuldades enfrentadas pela economia global.
Zero Hora – E por que ler Marx hoje?
Harvey –
 Porque o que Marx fez, em O Capital, particularmente, foi escrever uma exposição crítica de como o capitalismo funciona. E hoje, após 30 ou 40 anos de políticas neoliberais, de muitas maneiras, o que Marx conta descreve exatamente o mundo que está sendo construído agora. Então, ele é muito relevante para o entendimento da dinâmica da atual situação mundial.
ZH – Com a crise de 2008, muitos se apressaram em declarar o fim do capitalismo financeiro. O senhor, entretanto, alertou recentemente que as grandes fortunas especulativas só aumentaram. Por que isso aconteceu?
Harvey –
 Porque muitos integrantes da elite financeira têm uma influência real e direta sobre a mídia e sobre conexões políticas e usaram a crise para melhorar sua situação. Alguns deles se deram mal, alguns foram para a cadeia, é verdade, mas, a longo prazo, essa fatia de 0,1% da população que compõe a parte mais rica ficou ainda mais rica do que há cinco anos, quando a crise estourou.
ZH – A crise financeira levou pessoas às ruas para manifestações contra a falta de regulamentação do capital. Que oportunidades se abriram para propostas alternativas ao modelo vigente?
Harvey –
 Em minha opinião, abriram-se muitas oportunidades. Acho, contudo, que a grande pergunta é: por que tais oportunidades não estão sendo aproveitadas de modo mais efetivo pela esquerda? Em especial, acho que não vimos os partidos políticos da esquerda se apresentarem à altura do desafio. A maior parte desses protestos ocorreu nas ruas, e não parece ter alcançado os políticos. Penso que as instituições por meio das quais as mudanças políticas são organizadas tradicionalmente, como sindicatos ou partidos políticos, simplesmente desapareceram e não foram fortes o bastante para articular o que deveria ser uma alternativa anticapitalista. As oportunidades apareceram. A pergunta é por que a esquerda não tirou melhor proveito.
ZH – Slavoj Zizek, que veio a Porto Alegre no início deste mês, comentou que as manifestações não geraram proposta concreta alguma, e que faltava aos manifestantes uma ideia do que queriam de fato. O senhor concorda?
Harvey –
 Sim. A maior parte das manifestações tinha caráter de pura oposição, e não foram construtivas a respeito de alternativas. Meu trabalho tem sido no intuito de mudar isso, de tentar criar uma visão alternativa, com a qual as pessoas possam se identificar e pela qual possam se mobilizar. Penso que foi o que Marx e Engels fizeram quando escreveram o Manifesto Comunista, e deveríamos estar fazendo algo parecido agora. Claro que as condições hoje são diferentes, não podemos repetir o Manifesto..., temos que lidar com a situação de crise global, com as interações que estão ocorrendo com as novas tecnologias e, é claro, com a natureza financeira do capitalismo atual. Temos um cenário diferente hoje do de há 150 anos, mas temos a obrigação de articular o que poderia ser uma alternativa anticapitalista.
ZH – Zizek também comentou que, passados cinco anos, a maior consequência da crise foi a perda, pela Europa, do papel de modelo. Na sua opinião, a crise é apenas europeia?
Harvey – 
Não. A crise está em toda parte, mas assumiu diferentes formas. Se você perguntar sobre a situação do desemprego, obviamente certas partes da Europa têm altos índices, e outras, como a Alemanha, têm baixos índices. E na própria Europa parte está se saindo muito bem e parte está se saindo muito mal, é o que eu chamo de dessenvolvimento geográfico desigual da crise. Nós vemos isso mesmo em outros países. Em Nova York, de onde venho, a economia não está se saindo muito mal. Temos algumas dificuldades, mas não está tão mal quanto Las Vegas, Florida ou Phoenix. É um desenvolvimento desigual da crise, e você tem de ser muito específico sobre qual a natureza da crise. Em uma parte do mundo, é desemprego, em outra, é a instabilidade financeira, e em outra ainda, é a crise política. A maior parte da Europa em dificuldades, principalmente na zona do Euro, está em uma crise política.

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Francisco ou Pilatos?


Inspiração. Atrás do pontífice, A Ressurreição do Senhorno Meio do Caos, de Fazzini
Atrás do pontífice, A Ressurreição do Senhor no Meio do Caos, de Fazzini

Quais serão os caminhos trilhados pelo Papa Francisco no comando da Igreja católica? As nebulosas relações pregressas de Bergoglio com a ditadura argentina e seu destacado papel na oposição aos governos dos Kirchners podem ser um indicativo de sua atuação política na América Latina? Ou teria uma atuação voltada para as questões internas da Igreja? Onde uma série de denúncias de pedofilia e corrupção ("vaticanleaks"), se apresentam como um dos maiores desafios para o novo Papa. Eric Nepomuceno traça um bom panorama do novo pontificado, publicado na revista Carta Capital, que segue abaixo:

Por Eric Nepomuceno

As evidências parecem claras, ao menos neste primeiro instante: Jorge Mario Bergoglio, jesuíta, cardeal de Buenos Aires até virar o papa Francisco, será uma figura popular. A imagem de um clérigo que prepara a própria comida, conversa com o jornaleiro e anda de metrô foi cantada em prosa e verso aos quatro cantos do mundo. No lugar dos refinados sapatos de seu antecessor, vermelhos, de pelica finíssima e feitos à mão, calçados comuns, visivelmente gastos. É bonachão, brincalhão, de hábitos banais. Após se tornar o chefe espiritual de mais de 1 bilhão e meio de almas, ainda teve o gesto singelo de pagar a conta da hospedagem.

Na mesma toada, faz questão de autointitular-se bispo de Roma, para deixar claro ser apenas mais um. E dispensou o veículo blindado, azucrinou sua segurança com a mania de ir ao encontro dos fiéis e, claro, não deixou de afagar um rapaz enfermo nos braços de um homem na Praça São Pedro.
Também parece claro ter ele consciência do tamanho dos problemas internos do Vaticano. Há de tudo, e para todos os gostos: corrupção, intrigas palacianas, conspirações, disputa de espaço e poder, lavagem de dinheiro, traições e, para completar, os abusos sexuais e os casos de pedofilia. Isso para não mencionar o pesado, pesadíssimo peso do véu da omissão a encobrir os pecados.
O papa Francisco é o primeiro latino-americano a chegar aonde chegou. E o primeiro jesuíta. E o primeiro não europeu em mais de mil anos a virar chefe máximo da Igreja Católica. E já que se trata de ineditismos, substitui outro papa vivo, o alemão Joseph Ratzinger, o primeiro a renunciar em 600 anos. Deixou de ser o papa Bento XVI, mas não voltou a ser apenas Ratzinger: virou papa emérito.
Os grandes meios de comunicação, com destaque para a mídia da América Latina, saudaram eufóricos a escolha de Bergoglio. Em seu país, a Argentina, vive-se um clima de conquista de Copa do Mundo. Mas, como sempre acontece, há vozes dissonantes. E essas vozes dizem coisas graves, tão graves que provocaram uma dura reação do Vaticano e um imediato reforço na maré de aplausos dos conglomerados de jornais, revistas, emissoras de rádio e televisão. Na falta de melhores argumentos, tratou-se de desmoralizar os dissonantes: quem afirma ter o papa desempenhado um papel no mínimo melífluo durante a ditadura é pecador, ou quase.
Há, porém, indícios concretos, documentos já não tão secretos, depoimentos de vítimas. O padre Bergoglio, em seus tempos de provincial dos jesuítas na Argentina, foi omisso, quando não conivente, com prisões ilegais e torturas desumanas praticadas contra integrantes de sua congregação. E em mais de uma oportunidade se fez de sonso quando cobrado por sua inércia diante de apelos recebidos de familiares de desaparecidos, em especial de quem teve filhas grávidas sequestradas e mortas e seus bebês doados aos verdugos e cúmplices.
Estranha sequência papal. Ratzinger foi na adolescência integrante das Juventudes Hitleristas. Bergoglio foi na juventude membro da Guardia de Hierro, a extrema-direita desse confuso amontoado de ideologias formadoras do peronismo. Ratzinger ao menos podia apresentar o argumento de que, nos anos 1930, todos os jovens alemães eram automaticamente cooptados para integrar as Juventudes Hitleristas. Bergoglio, agora Francisco, preferiu não comentar o caso. Deixou correr o rumor de ser um papa peronista.
Três contra um. O cartola Videla, entre Massera e Agosti
Três contra um. O cartola Videla, entre Massera e Agosti
Não há, é verdade, nenhuma prova contra Bergoglio. Muitos integrantes da alta cúpula da Igreja argentina silenciaram em público e aplaudiram em privado os desmandos bárbaros da ditadura genocida iniciada em março de 1976 por um trio encabeçado pelo general Jorge Rafael Videla, atualmente na cadeia, sentenciado a diversas penas de prisão perpétua. O trio se completava com Orlando Agosti (Aeronáutica) e o chefe máximo da Marinha, o almirante Emilio Massera, na juventude simpatizante da mesma Guardia de Hierro da extrema-direita peronista e conhecido de Bergoglio. Massera, já morto, chegou a ser condecorado, no auge do horror, pela Universidad del Salvador, da ordem jesuíta.
O novo papa nunca foi acusado de apoiar, como outros clérigos, os voos da morte, quando prisioneiros eram retirados de campos de concentração e cárceres clandestinos, levados para aviões e lançados vivos nas águas do Atlântico, ou do Rio da Prata, ou do Rio Paraná. Documentos revelam que a cúpula católica considerava esse o meio mais humano ou menos desumano de matar, pois os prisioneiros não percebiam seu destino, já que eram dopados antes de ser jogados dos aviões.
Daí a sustentar desconhecimento sobre os fatos é outra história. Sobre o roubo sistemático de bebês nascidos em cárceres clandestinos, cujas mães eram mortas antes de eles serem doados, Bergoglio afirmou num tribunal ter tomado conhecimento da barbárie recentemente. Não é verdade. Familiares de presos políticos contam ter procurado em vão por apoio do jesuíta nos momentos mais sombrios da ditadura.
Há mais sombras em seu passado e em seu presente. Ao assumir a presidência da Conferência Episcopal Argentina, em 2005, poderia ter determinado punições previstas no direito canônico, e não fez nada. Videla não foi excomungado. Ao contrário, continua, no quartel do Campo de Mayo, onde cumpre pena, a receber a hóstia sagrada dos católicos. Christian Von Wernich, capelão condenado à prisão por ter acompanhado, cúmplice, sessões de tortura, continua a realizar missas no presídio de Marcos Paz, onde está recolhido.
Bergoglio não permitiu, quando cardeal de Buenos Aires, o acesso da Justiça aos arquivos do Episcopado. Mais: negou que nos arquivos houvesse qualquer documento relacionado aos sequestros e assassinatos de militantes políticos, religiosos ou não. Quando a Justiça finalmente conseguiu acesso aos arquivos, constatou justamente o contrário: havia documentos, e muitos.
Estava claramente registrado como a ditadura reprimiu duramente, ferozmente, os religiosos ligados aos movimentos populares. Dois bispos foram assassinados, Enrique Angelelli e Carlos Ponce de León. Até hoje Bergoglio se refere a suas “mortes”. Jamais pronunciou a palavra “assassinatos”, embora, segundo a Justiça, esse seja o tema mais apropriado.
Para fazer mais sombra e trazer mais névoa, existe ainda a suspeita, forte suspeita, de que Bergoglio, quando era o principal líder dos jesuítas, entregou dois padres da congregação.
Jalics, o jesuíta perseguido pelos torturadores
Jalics, o jesuíta perseguido pelos torturadores
Em depoimentos, altos dirigentes da Igreja Católica admitem que logo após o golpe de 1976 houve um acordo não formalizado com os militares. Antes de prender um sacerdote ou freira, as Forças Armadas avisariam o bispo responsável. Aconteceu justamente o contrário no caso dos jesuítas Orlando Yorio e Francisco Jalics. Depois de sugerir aos dois para abandonar o trabalho de caridade em favelas vizinhas do Bairro de Flores, em Buenos Aires, Bergoglio avisou à Marinha que havia retirado a proteção a ambos. Tecnicamente, retirou suas “licenças”, uma espécie de luz verde para a ação militar.
Em junho de 1976, Yorio e Jalics foram sequestrados, levados à Escola Superior de Mecânica da Armada (Esma), o maior campo de concentração clandestino da ditadura, onde foram torturados em infindáveis interrogatórios. Seis meses depois, Bergoglio, superior jesuíta, pediu pela libertação dos sacerdotes. Cuidou, porém, de instruir as paróquias a não aceitá-los. Jalics, de origem húngara, ao sair da prisão foi para a Alemanha, no fim de 1976. Três anos depois, tentou renovar seu passaporte argentino. Para tanto, assegurou seu desinteresse em retornar ao país. O diretor de Culto Católico do Ministério de Relações Exteriores, Anselmo Orcoven, recusou a renovação e acrescentou uma observação: “O próprio padre Bergoglio escreveu uma nota com especial recomendação de que o pedido não seja atendido”.
Tudo isso, e muito mais, está documentado. Eis um dos tantos problemas das ditaduras, por mais sanguinárias e bárbaras: sempre alguém guarda algum documento. E anos ou décadas depois esse documento acaba por aparecer.
O papa realmente não atuou intensamente ao lado dos ditadores. Tentou ajudar alguns perseguidos, chegou a abrigar na igreja gente que se sentia ameaçada, aceitou esconder livros considerados perigosos. Mas também é verdadeira a avareza de sua solidariedade. Vários sacerdotes jesuítas, além de Yorio e Jalics, carregam até hoje a angustiosa certeza de terem sido, se não diretamente denunciados, “facilitados” pelo seu superior até cair nas garras da repressão mais brutal.
Seja como for, Jorge Mario Bergoglio já não existe. Quem existe agora é Francisco. Começa outra história, surgem outras perguntas. Como será seu papado? Seu forte discurso a favor dos pobres, dos excluídos, irá ao encontro das posturas de diversos governos da América Latina, ou servirá de instrumento de pressão política, num gesto de apropriação do discurso progressista? Alguém se atreveria a ignorar o forte, fortíssimo peso da opinião do Vaticano sobre as políticas aplicadas na região?
Na Argentina, por exemplo, os conflitos do cardeal com os governos de Néstor Kirchner primeiro, e de sua viúva e sucessora Cristina Kirchner, são tão sérios como evidentes. Extremamente conservador na doutrina e nas decisões do -Vaticano em tudo relacionado ao casamento entre cidadãos do mesmo sexo, ao aborto, aos métodos de prevenção da gravidez, o então cardeal de Buenos Aires não perdeu oportunidade para criticar o governo. Quando não havia oportunidade, ele soube criar.
Os dois Kirchner, Néstor primeiro e Cristina depois, responderam no mesmo tom beligerante. As relações entre o governo e a cúpula eclesiástica se deterioraram rapidamente. É de se esperar gestos e movimentos de boa vontade dos dois lados. Cristina Kirchner sabe não ser nada interessante, ainda mais num ano de cruciais eleições legislativas, estender o conflito. O papa, claro, sabe que a presidente sabe disso, da mesma forma que maior será sua influência política se conseguir se mostrar menos crispado em sua relação com ela.
A questão política, porém, não se limita ao país natal do papa. Pode-se dar como certo o firme apoio dos grandes meios hegemônicos de comunicação a qualquer gesto papal que confronte os governos de esquerda e de centro-esquerda da América Latina.
Em países onde a oposição navega qual nau sem rumo, como o Brasil, ou onde a polarização se faz mais aguda, como na Venezuela e, aliás, na própria Argentina, Francisco poderá se tornar bússola e farol.
Convém jamais esquecer que o Vaticano, a Igreja Católica, não se limita a ser uma doutrina, uma fé. É, principalmente, um forte poder político e econômico. Que sempre soube agir, forte e determinadamente, na defesa do interesse muito mais da tradição e da propriedade do que dos pobres e desvalidos. Esses ficam nos discursos da alta cúpula religiosa, ou entregues aos cuidados sempre limitados e pressionados, por essa mesma cúpula, das correntes minoritárias e progressistas do catolicismo.
Em seus tempos de cardeal, Bergoglio era considerado extremamente habilidoso. Melhor, habilidosíssimo. Foi um aliado eficiente e contundente dos barões do agronegócio na Argentina, da oposição mais rançosa, enquanto mantinha um discurso aberto às grandes causas sociais.
Saberá se manter nesse frágil equilíbrio? Saberá levar às ruas um discurso cristão, enquanto nos bastidores luta para sanar os pecados do Vaticano para que nada mude e as tradições e interesses de sempre, por mais anacrônicos, se preservem?
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