A reeleição de Obama

Foto de Barack Obama abraçado à mulher Michelle que ele divulgou pouco depois de saber da reeleição. A foto teve o recorde de compartilhamentos no Facebook  (mais de 3 milhões no momento desta postagem).

Por Erick da Silva

Barack Obama é reeleito presidente dos EUA para mais quatro anos de mandato.
Foi uma vitória por uma boa margem no colégio eleitoral – obteve pelo menos 303 votos, mais do que George W. Bush em 2000, que teve 271 votos. Obama venceu também, ainda que por uma ligeira vantagem, no voto popular - 50,2% contra 48,3%.
Esta vitória carrega consigo um sentimento ambíguo, que mistura por um lado alívio; afinal uma vitória de Romney certamente tornaria o mundo um lugar mais perigoso; e por outro, uma certeza que "grandes mudanças", não deverão ocorrer.
Quando venceu pela primeira vez em 2008, derrotando o republicano John McCain, sua vitória carregou a insignia da mudança, sintetizada no slogan "Yes We Can", que a uma só feita buscava superar o que representou o desastre George W. Bush e apresentar uma possibilidade de mudança pelo protagonismo das pessoas. Sua campanha, de fato, engajou americanos de uma forma inédita em uma campanha e gerou um notável envolvimento (e torcida) de pessoas ao redor de todo o mundo. Nunca um candidato a presidente dos EUA contou com tanto apoio fora dos EUA. 
Esta proposta de mudança, no entanto, se deu com base em uma plataforma efêmera, sem um programa político mais definido. Logo, não tardou a gerar inúmeras frustrações. Mesmo as poucas propostas concretas levantadas por Obama, muitas não lograram exito, como por exemplo, a promessa de fechar a prisão na base de Guantánamo, em Cuba. 
Apresentar Obama, no entanto, como um "traidor" ou um "fracasso político" seria simplificar o que foi o seu mandato e a conjuntura em que ele se deu. A herança deixada por Bush (duas guerras e uma crise econômica), foi pesada, o engessamento causado pelo sistema político e pelo complexo militar americano, reduziram enormemente a margem de ação de Obama. Mas não podemos, é claro, reduzir a responsabilidade pelas escolhas e erros políticos feitos por Obama e pelos democratas.
Substancialmente, os programas políticos de Obama e Rommey não apresentavam grandes diferenças aparentes. As semelhanças e convergências entre republicanos e democratas são notórias e históricas. No entanto, a evolução política americana, no último período, gerou diferenças entre os dois partidos que não podem ser desconsideradas. O surgimento e fortalecimento do Tea Party contribuiu para uma radicalização de um discurso ultraconservador no interior do partido republicano, sem que houvesse, pelo lado democrata, uma contrapartida à esquerda. Movimentos como o Occupy Wall Street não tiveram o devido acolhimento e recepção pelos democratas. O que poderia ter representado um contraponto ao Tea Party e um importante elemento para alterar a qualidade do debate político na campanha.
A campanha teve como foco principal qual dos dois candidatos era o mais indicado para acelerar a recuperação do país após a crise financeira de 2008 e a recessão que a seguiu. Obama afirmava que herdou uma economia em frangalhos e que o cenário teria piorado ainda mais não fosse seu esforço para mantê-la – relembrando do pacote federal de estímulo econômico, que resgatou a indústria automobilística e, segundo Obama, salvo milhões de empregos e diminui gradativamente, embora devagar, a taxa de desemprego, agora em 7,9%.
Obama destacou também suas conquistas, como a assinatura para a lei de reforma no sistema de saúde, o Affordable Care Act, o "fim" da Guerra do Iraque (ainda que a presença militar americana deva permanecer),  a morte do líder da Al Qaeda Osama bin Laden e o fim das restrições contra gays entre os militares, a Don’t Ask, Don’t Tell (“Não Pergunte, Não Conte”).
Este tema, talvez, seja exemplar das diferenças entre os dois candidatos. Enquanto Obama afirmava: "Os gays tem os mesmos direitos dos héteros", Romney, por sua vez: "Deus criou homem e mulher." Outro exemplo é a política com relação aos imigrantes, onde Rommey adotou um discurso claramente segregacionista, assimilando o discurso do Tea Party, Obama, por sua vez, buscou estreitar sua base de apoio junto aos eleitores imigrantes, ainda que seu governo tenha apresentado tímidos avanços nesta área (para dizer o mínimo).
Esta é a diferença entre eles. O mapa da votação de ambos expressa bem esta diferença. Romney venceu entre os homens por 52 a 48. As mulheres votaram em Obama, 55 a 45. Obama teve o apoio quase absoluto do eleitorado afro-americano, 93%, quatro em cada cinco LGBTs e 69% dos latinos votaram em Obama.
Estes dados dão dimensão do simbolismo político da vitória de Obama. Mesmo com todos os problemas que houveram em seu primeiro mandato, a vitória de Obama deve ser festejada. Mesmo que seja com o cálculo pragmático de que venceu o "menor dos problemas". 
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Um comentário:

Carlos Eduardo da Maia disse...

A humanidade agradece. Essa eleição mostra que os EUA estão mudando e que o voto majoritário é diversificado e multicultural, é o voto urbano das costas leste e oeste que prevalecem. Em se tratando de EUA a análise é muito mais complexa. Aliás, se existe um país no mundo muito similar ao Brasil são os EUA. E por isso fica dificil entender esse antiamericanismo tosco que existe por aqui.