Dilma vs Lula?


A todo instante tenta-se criar uma dicotomia entre as políticas implementadas por Dilma com as de Lula, ou ainda, ressaltar as diferenças de estilo e de retórica entre a atual e o ex-presidente.

É um exercício feito tanto por opositores, que buscam alimentar cizânias na base de apoio ao governo petista, assim como fragilizar ainda mais a imagem da mandatária. Mas também é uma comparação inevitável entre aqueles que apoiam o governo ou ainda entre aqueles que buscam fazer uma análise menos parcial, se é que isso é possível.

Entre os que apoiaram a eleição de Dilma esta comparação também é frequente, muitos o fazem dentro de um horizonte de expectativas frustradas neste inicio cambaleante do segundo mandato de Dilma. A impressão para parte desta base é que, com Lula, seguramente não estaríamos enfrentando tamanhas dificuldades.

Mas para além dos estilos pessoais e trajetórias distintas, exite uma diferença real entre os governos Lula e Dilma, em termos políticos?

Em nosso entendimento não!

Essa é uma falsa polêmica, as pessoas, seja por memória curta ou por interesses outros, por exemplo, parecem esquecer o que foi a política econômica de Palocci, no primeiro governo Lula, que em grande medida seguia os mesmos preceitos conservadores agora adotados por Levy e sua ortodoxia econômica alinhada aos ensinamentos dos "Chicago Boys".

Ambos os governos não tiveram a ousadia de propor reformas que enfrentasse temas candentes como a regulamentação da mídia ou a taxação das grandes fortunas.

Lula tinha mais iniciativa política, é verdade, mas parte da falta de iniciativa da Dilma em seu segundo mandato se dá pelos estreitos limites impostos pela aliança com o PMDB, construída em grande medida pelo próprio Lula, somado ao encolhimento da presença petista no parlamento, tendência que já se mostrava no período Lula.

Dilma nunca foi afeita ao fazer política com base em acordos e negociações que extrapolam o interesse público, sempre demonstrou um visível desconforto neste terreno da política tradicional, ao qual Lula se movimenta com maior desenvoltura.

O que em outros contextos poderia ser elogiado -  afinal, é a presidenta que aboliu o "toma lá da cá" com o congresso -, tem sido explorado como uma fragilidade de Dilma, que enfrenta a represália de parlamentares despudorados que passam a cobrar a fatura de todos estes anos de torneias fechadas para as regalias ao congresso.

Tanto Dilma como Lula jamais apostaram em criar mecanismos de participação direta da população que possibilitassem uma maior democratização do estado. Ao não fazer isso, acabaram por colaborar com o fortalecimento da institucionalidade conservadora via parlamento.

Um outro detalhe, que não iremos aqui adentrar por questão de espaço, é as diferenças conjunturais enfrentadas por Lula e Dilma. É sabido que Lula enfrentou um cenário global muito mais favorável do que o encontrado por Dilma, assim como a própria situação econômica interna sofreu algumas importantes alterações. Desconsiderar isso e depositar todas as críticas ou elogios na figura de um mandatário ou outro é equivocado.

Antes de se personificar em Dilma toda a conta pelo momento político ruim que o governo atravessa e buscar encontrar em Lula a redenção que salvará o projeto petista no governo, é fundamental uma compreensão melhor e menos estigmatizada do momento. Alimentar esta ilusória dicotomia entre Lula e Dilma, neste momento, é desviar o foco sobre os temas que realmente necessitam ser debatidos.
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