Lula: “a cara do banqueiro não aparece na TV porque é ele que paga a propaganda”


Por Eduardo Febbro

 O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva fez diferença em relação aos demais participantes do fórum “Escolher o crescimento, sair da crise”, organizado em paris pelo Instituto Lula e pela Fundação Jean Jaurés. Longe da verborragia consensual neste tipo de encontro, Lula disse na capital francesa que “é preciso distribuir para crescer”, ao mesmo tempo em que criticou copiosamente os “comitês de crise” que se criam quando chega o incêndio. 

Lula interpelou o ex-primeiro ministro socialista Lionel Jospin, presente na sala, e perguntou quantos desses comitês havia criado quando esteve no poder. O ex-mandatário contou que havia criado muitos desses comitês de crise, mas que só começou a avançar realmente quando criou “comissões de soluções”.

Interrompido várias vezes por aplausos, Lula denunciou “a falta de representatividade” dos organismos internacionais e defendeu a criação de mais espaços representativos multilaterais, que aumentem o peso das vozes alternativas em nível internacional. “Precisamos criar instrumentos e mecanismos com mais solidariedade, mais democracia, para que as decisões não estejam subordinadas a quem tem mais dinheiro, mais poder ou uma indústria maior”. 

O senso de humor e a pertinência do ex-presidente fizeram da jornada final do fórum um momento especial. Lula criticou os banqueiros que gozam de uma impunidade absoluta: “o mais fantástico é que o Lehman Brothers quebra e ninguém vai preso, enquanto o banco recebe os bilhões que os países nunca recebem no mundo”.

Lula lembrou que a crise “é responsabilidade de um monte de desconhecidos” e perguntou ao público se alguém tinha visto na televisão a “cara de algum banqueiro”. “Não”, respondeu, e voltou a perguntar: “sabem por quê? Porque é o banqueiro que paga a propaganda”. 

Por último, Lula defendeu uma visão solidária e responsável do desenvolvimento. O ex-presidente se perguntou “por que o mundo desenvolvido, que tem problemas de consumo, não cria mecanismos de financiamento para que os países africanos recebam fundos com juros de longo prazo, mais baratos, para assim começar a desenvolver uma indústria, uma agricultura”.

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