A morte de Eric Hobsbawm


Por Erick da Silva

Foi numa segunda-feira chuvosa em Porto Alegre que recebi a notícia de que Eric Hobsbawm havia falecido, aos 95 anos, em Londres, vítima de uma pneumonia.  
Hobsbawm foi um dos maiores historiadores do século XX, influenciou gerações de historiadores (incluindo este humilde escriba). Durante toda a vida foi um marxista convicto, mas consideravelmente heterodoxo na sua visão dos processos econômicos, sociais e políticos que marcaram a emergência da sociedade industrial, as revoluções e as guerras do mundo contemporâneo.  
Hobsbawm deixa uma obra extensa, que confronta quaisquer breves notas cursivas por ocasião da sua morte com o embaraço da escolha. Mas à cabeça de uma bibliografia hobsbawmiana quase inevitavelmente teremos a clássica trilogia que dedicou ao século XIX: "A era do capital", "A era da revolução" e "A era do império".
Não releva do contrassenso que um século só pudesse tornar-se objecto de três obras de fôlego e de três definições aparentemente contraditórias. Para Hobsbawm, o século XIX foi um "século longo", que começou com a Revolução Francesa e que terminou com a Primeira Grande Guerra. O tipo de processos que o marcaram vinha anunciado de antes e continuou presente depois de balizas meramente cronológica.
O século XX, pelo contrário, foi um "século curto", que começa para Hobsbawm com a Primeira Grande Guerra e que termina antes da data "redonda", com a queda do Muro de Berlim em 1989 e a desintegração da União Soviética a partir de 1991. Curto ou longo, foi um século cheio, de História fortemente acelerada, Hobsbawm lhe dedicou, em 1994, uma obra comparável às citadas anteriormente: "A era dos extremos".

Em 1983 publicou por fora desta série um trabalho fundamental, "A invenção da tradição", que oferece um olhar original sobre a fábrica de mitos geralmente associada à construção dos Estados-nação.
Ele teve forte influência no Brasil. A começar pelo seu primeiro livro (sua tese de doutorado), o “Social Bandits” (Bandidos Sociais), que é focado no bandido Juliano, da Itália, mas que trata também do nosso Lampião. Um discípulo seu, o americano Harry Braverman, depois gastou oito anos em pesquisas para escrever “Lampião”, obra definitiva sobre o cangaço. 

Nascido em 9 de junho de 1917 em uma família judaica de Alexandria, Egito, Hobsbawm foi criado em Viena no período entre as duas grandes guerras mundiais, antes de seguir para Berlim em 1931. Ele se mudou para Londres dois anos depois, quando os nazistas chegaram ao poder.
Depois de estudar História e obter o Doutorado na Universidade de Cambridge, Hobsbawm se tornou professor em 1947 no Birkbeck College de Londres, centro ao qual seguiu ligado por toda a carreira. Também foi professor convidado na Universidade de Stanford, no Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT) e na Universidade de Cornel.
Hobsbawm foi sem dúvida o mais marcante historiador da sua geração e continuou a publicar incansavelmente, até o ano passado, obras de incontornável referência. A última foi "Como mudar o mundo: histórias de Marx e do marxismo".  

Com informações das agências AFP e RTP
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Um comentário:

Carlos Eduardo da Maia disse...

Não só do século XX, a trilogia Era das Revoluções, Era do Capital e Era do Império, sobre o "longo" século XIX é maravilhosa.

E como ele disse em sua biografia: vivemos tempos interessantes.

Eu concordo com ele.