Contêineres e os rumos da coleta de lixo em Porto Alegre



Por Erick da Silva

Diariamente, Porto Alegre produz toneladas de lixo que exigem um destino adequado, o que torna esta uma questão de evidente relevância. Sabidamente a capital gaúcha tem tido problemas graves nesta área nestes últimos anos.
Em geral, a prefeitura tem adotado uma postura equivocada em resolver os problemas concretos da cidade, tanto com ex-prefeito Fogaça como agora com o prefeito Fortunatti, que representa a continuidade de um governo sem rumos e com grandes fragilidades. Desde graves problemas como o escândalo da “máfia do lixo”, passando pela drástica queda na qualidade dos serviços públicos de limpeza urbana, a atual administração municipal tem encarado com dificuldades, para dizer o mínimo, este tema.
No mês de julho, o Departamento Municipal de Limpeza Urbana (DMLU) da prefeitura de Porto Alegre implementou o sistema de coleta automatizada, com a colocação de contêineres para armazenamento de lixo orgânico. Foram 1.100 contêineres no total, em uma área que representa apenas 9% da capital e abrange 11 bairros. O custo de cada contêiner, importado da Itália, é de aproximadamente R$4.000,00.
Desconsiderando o valor dos equipamentos (que muitos apontam como extremamente elevado), este sistema, que tinha condições de ser uma boa iniciativa, da forma como foi implementado, pode acabar por agravar outros problemas. O maior deles é o incentivo, involuntário, para acabar com a coleta seletiva. A prefeitura afixou contêineres apenas para lixo orgânico, mas o que se tem visto são os moradores descartando neles o seu lixo reciclável. Ainda que não dispomos, no momento de dados precisos, há claros indícios de que muitos moradores estão ignorando a coleta seletiva devido aos contêineres.
A coleta seletiva foi iniciada em Porto Alegre em 1990, atingindo 100% de cobertura do sistema. O envolvimento dos catadores e das cooperativas de reciclagem, que em outros tempos recebiam a devida centralidade e prioridade, hoje encontram dificuldades na relação com a prefeitura. A redução do envolvimento com a seleção do lixo, por parte dos moradores, pode ter sérias consequências.
Infelizmente, a postura da prefeitura, ao invés de construir uma solução conscientizadora junto a população e que estabeleça alternativas concretas para a melhora do serviço público, opta pela solução mais cômoda:  usuários que descartarem lixo seco ou lixo especial (resíduos em excesso, gerados sobretudo pelo comércio) nos contêineres da coleta automatizada podem ser multados, em valores que vão de R$ 618 a R$ 1.302.  





Um outro problema foram os atos de vandalismo contra os contêineres, onde muitos foram danificados, e até mesmo incendiados, os inutilizando e forçando sua substituição. O prefeito Fortunati reagiu a este problema apontando para "ações planejadas" através de agentes ocultos, o que evidenciou-se posteriormente como apenas um ato diversionista do prefeito, buscando eximir-se da responsabilidade sobre o ocorrido. Foi um caso de evidente vandalismo espontâneo, não planejados com intencionalidades premeditadas e que cobraria medidas preventivas de conscientização e fiscalização adequada.
A melhor solução que deveria ter sido adotada, para evitar estes problemas, encarados nesta fase inicial do processo de mecanização da coleta, seria a afixação de dois contêineres, um para lixo orgânico e outro para o seletivo, como temos, por exemplo, em Caxias do Sul. 
Para ser realmente eficaz, o sistema deve estimular a consciência ambiental, impulsionando a seleção do lixo e envolvimento da população. Mas esta é uma opção que, lamentavelmente, o governo Fortunati se recusou a fazer.
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2 comentários:

A VIDA NUMA GOA disse...

Você deve estar ciente do que esse problema é em Nápoles...

Naõ deixa de ser curioso que os contâineres venham do Bel Paese...

ERick disse...

Bem observado!
Sds